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Saúde
Domingo - 17 de Abril de 2005 às 08:24
Por: Fabiana Batista

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A depressão atinge 70% das crianças com transtornos mentais em Mato Grosso. O percentual foi identificado no Centro de Atendimento Psicossocial Infantil (Capsi) do Estado que atende por mês em média 120 crianças com algum tipo de perturbação mental. Em alguns casos, a depressão está em estágio severo e pode levar à morte da criança. Não há causa única para a instalação do quadro, conforme explica a gerente do Capsi, Luciana Gomes de Souza. "A negligência dos pais e o desrespeito a seus direitos (agressão física, gritos), costumam ser as causas mais frequentes".

Luciana observa que os transtornos mentais crônicos são muito difíceis de se detectar na infância porque se confundem com o próprio comportamento da criança. É comum que sejam mais evidenciados na idade escolar, quando começa a cobrança quanto ao cumprimento de tarefas, produção do conhecimento. "Mas, certamente, a criança está sofrendo antes. Ela percebe que não está atenta, que não consegue terminar a tarefa, fica irritada". Sentimento de culpa, de baixa auto-estima também costumam habitar as angústias dos pequenos.

Na infância a depressão se manifesta de forma diferente do que em adultos. Elas não ficam apáticas e sim assumem comportamentos intolerantes e agressivos. "Não obedecem, não se reportam a regras. O comportamento parece falta de educação, de limite, mas se trata de depressão".

Além de dificuldades na escola e nos relacionamentos, a criança com depressão tende a ser colocar em situações de risco, fruto do seu interesse pelo mundo, pela vida. Ela deixa de se alimentar e, em casos extremos, faz demonstrações mais explícitas, como se machucar com frequência, atravessar rua sem atenção, etc.

Assim aconteceu com um garoto de 10 anos que há um mês está em tratamento no Capsi, em Cuiabá. Sua mãe, que também preferiu não se identificar, relata que ele desaparecia da escola, fugia de casa e dormia na rua expondo-se às mais diversas situações de violência. "A criança não elabora o suicídio como o adulto. Ela se coloca em situações perigosas: cai muito, se machuca muito, meche em coisas que oferecem risco", detalha Luciana.

A mãe do menino, que preferiu não se identificar, conta que foi muito difícil perceber e - depois - aceitar que o filho tinha um transtorno mental. "As pessoas a minha volta notavam que havia algum problema. Mas para quem vive a situação é complicado". Ele apresentou sempre comportamento violento que se refletia nas brincadeiras. Brinquedos, controle remoto e outros objetos eram destruídos pelo garoto com agressividade, o que chamava atenção dos que estavam perto.

A mãe da criança conta que até chegou a buscar ajuda espiritual, mudar a forma de tratamento, dando mais atenção ao filho, mas não adiantou. Foi, desesperada, procurar o Conselho Tutelar, que encaminhou o caso para o Capsi. "Não entrava na minha cabeça fazer esse tipo de tratamento. Achava que era coisa de louco, que ele ia ficar trancado", diz emocionada. A situação se arrasta desde que ele nasceu, há 10 anos, conforme conta a mãe. "Achava que era birra e pirraça, até que tudo chegou ao extremo", recorda. O resultado é que, quando chegaram mãe e filho ao Capsi, a equipe identificou depressão também na mãe. "Ela foi encaminhada para outro centro de saúde mental destinado a adultos", observa a psicóloga.

Ainda no começo do tratamento, a mãe do garoto relata que teve um choque ao saber que ele teria que tomar remédio, fazer exames. "Eu sou uma pessoa humilde, nunca tinha ouvido falar dessas doenças no meio social que vivo. Agora me sinto amparada, tive refúgio onde posso desabafar e encontrar as respostas que demorei 10 anos para encontrar".

Apesar do pouco tempo de tratamento, o garoto já apresenta resultados. "Consigo enxergar o quanto ele é amoroso, carinhoso, inteligente e educado". A mãe conta que o menino sempre apresentou quadro de dificuldade na escola, não de aprendizagem, mas de inquietação e mau comportamento. "As escolas o recusavam. Já passou por várias. Ouvi muito dizerem que ele era marginal, vagabundo. Hoje tenho entendimento de que o que ocorre é que não há profissionais capacitados nas escolas para lidar com esse tipo de problema", constata.

Hoje, o garoto participa de oficinas, toma medicamento e sua mãe participa do tratamento em dinâmicas grupais que visam ajudar os pais a conviver com o problema.




Fonte: A Gazeta

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