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Internacional
Quinta - 07 de Abril de 2005 às 20:10
Por: Rachel Sanderson

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A Igreja ainda não santificou o papa João Paulo 2o., mas, para os fervorosos católicos que se espremem na basílica de São Pedro para ver seu corpo, depois de cruzar continentes ou oceanos, o Vaticano está é atrasado.

"Ele tem de ser santo. O papa andou e sofreu seguindo as pegadas de Cristo como um mártir", disse Hillary Ugo, 29, que veio da Nigéria.

Com um brilho nos olhos e mochilas enormes, esses peregrinos improvisados não se incomodam de esperar até 18 horas para dar uma rápida olhada no corpo do adorado papa.

Muitos deles estão envoltos em fortes sentimentos de misticismo, e estão convencidos de que João Paulo 2o. fazia milagres — um dos requisitos para se tornar santo. Algumas pessoas da fila contaram que já rezaram a ele pedindo sua ajuda.

"Vim para lhe pedir que ajude a aliviar meu sofrimento", disse a siciliana Carmela Lo Presti, confinada a uma cadeira de rodas pela esclerose múltipla.

Ela veio junto com outras 300 pessoas em cadeiras de rodas. Muitas delas já foram aos grandes templos marianos da Europa, como Lurdes, na França, e Fátima, em Portugal, para pedir a ajuda da Virgem Maria.

"Sinto aqui a mesma emoção que em Lurdes, em Fátima, mas também um entusiasmo e uma esperança maiores, porque aqui vamos ver o corpo de um homem que foi um santo em vida", disse Rosa Marchese, uma freira médica que acompanhava o grupo.

Normalmente são necessários décadas, ou até séculos, para se tornar santo na Igreja Católica, mas acredita-se que o Vaticano seja fortemente pressionado para acelerar o processo, canonizando João Paulo 2o. o mais rápido possível.

Renzo Bertoli, 54, de Veneza, disse que compreendeu com mais clareza o propósito de sua existência por causa do sofrimento do papa, conforme a saúde do pontífice foi se agravando. Bertoli começou a chorar ao entrar na fila para ver o papa.

"Esse Santo Padre criou em mim um sentimento sobrenatural ... O sofrimento do papa nos últimos meses criou esse milagre em mim."

Ele foi um dos muitos que compararam o sofrimento físico do papa ao martírio dos primeiros santos cristãos. Os peregrinos ficaram muito impressionados com a dramática última tentativa de falar do papa, em sua derradeira aparição.

Para muitos, a interminável espera na fila segue-se a difíceis viagens de ônibus pela Europa ou a longos vôos. Errol Harold Vallet, 49, imigrante das ilhas Maurício, agarrava-se a uma velha foto de si mesmo apertando a mão do papa. Ele carrega a foto o tempo todo, como um talismã.

"Posso jurar que ele vai ser santo. Conheci-o 15 anos atrás e desde então minha vida mudou. Tudo ficou mais claro, o modo como crio meus filhos, como faço meu trabalho. Algo de grandioso cresceu dentro de mim."

Milhões de católicos viajam todos os anos a Lurdes, Fátima ou Santiago de Compostela, na Espanha. Mas a peregrinação para ver o papa não tem precedentes: pelo menos 3 milhões de pessoas terão passado diante de seu corpo em três dias, comparadas aos 6 milhões e aos 4 milhões de visitantes que Lurdes e Fátima, respectivamente, recebem num ano inteiro.

O jornal italiano Il Giornale comparou o fenômeno ao trajeto de Jesus Cristo até a cruz: "A maior Via Crucis da história", dizia a manchete de quinta-feira.





Fonte: Reuters

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