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Politica Brasil
Sábado - 19 de Março de 2005 às 17:52
Por: Adriana Vandoni Curvo

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Semanas atrás sugeri a Lula que transformasse a Terra do Meio, mais de 6 milhões de hectares no Pará, em um modelo de assentamento sustentável, política, social, ambiental e economicamente correto e viável. Sugeri ainda que se colocasse o nome de Colônia Federal Agrícola Dorothy Stang (pra agradar o companheiro de intelecto Bush).

Não tardou para que as críticas começassem a chegar, mas uma delas me chamou a atenção por se tratar de alguém da área. Técnica do IBAMA em Brasília – me deixou lisonjeada por saber que meus artigos estão indo longe -, ela considerou absurda a proposta de doar 50 ha. por família. Acredita que não dará sustentabilidade para a produção agropecuária. Mas esse não é o propósito de um assentamento. Ou é?

Apesar de não ser especialista em qualidade de terra ou em modalidades de assentamentos, continuo achando viável a idéia de transformar a Terra do Meio em uma Colônia Agrícola. Vejam só. Em uma boa floresta pode-se retirar 30 m3 de madeira comercial/hectare. Em 50 ha., proposta sugerida no meu artigo, a família assentada poderá retirar 1.500 m3 em tora. Se o governo federal investir com seriedade e proporcionar a criação de uma empresa madeireira em forma de cooperativa, poderão produzir com alta qualidade e, seguindo um plano de manejo, produtos como pranchas, lambril, taco, móveis, etc., uma infinidade de produtos altamente exportáveis.

Para exportação, a madeira beneficiada e certificada, fazendo um cálculo por alto, uma pela outra, pode render mais de R$ 400,00/ m3. Reparem a sintonia: projeto de manejo em forma de cooperativa, beneficiamento e exportação.

Existe também a possibilidade de ganharem negociando uma commodity ambiental, o crédito de carbono. Esse é o negócio do futuro. Para se ter uma idéia da grandiosidade, a União Européia criou um sistema próprio de seqüestro de carbono. Empresas de cimento e de energia, por exemplo, terão que pagar 40 euros para cada tonelada de Dióxido de Carbono lançada em excesso entre os anos de 2005/2007. A partir de 2008 esse valor sobe para 100 euros. Um hectare de floresta pode captar 150 toneladas de Dióxido de Carbono que esta semana teve seu preço cotado de 15 a 20 dólares a tonelada.

Se, porventura, se dedicarem à fruticultura e formarem uma cooperativa de beneficiamento da produção, podem exportar a polpa. Das sementes podem confeccionar belíssimas bijuterias, objetos de decoração, adornos, plantas desidratadas e ornamentais e uma porção de artigos ecologicamente corretos e com grande potencial de mercado externo. Aufa de coisa!

O que acontece sempre é que, por falta de afinidade com a terra e pela ausência de políticas públicas sérias de infra-estrutura ou que oriente o assentado a tirar o seu sustento da atividade, ele vende sua propriedade e volta para as beiras das estradas a viver de reivindicações eternas, onde subsistem através de cestas básicas fornecidas pelo governo federal e servindo de massa de manobra para revolucionários inconformados por terem sidos derrotados pela história. Em outra hipótese o assentado entrega sua madeira por um preço irrisório, a atravessadores, geralmente de forma ilegal. Cabe ao governo criar uma boa estrutura que dê orientação a esses novos proprietários de terra.

Outra opção é o manejo de produtos não madeireiros, afinal existe uma infinidade de riquezas das nossas florestas que estão sendo pirateadas, surrupiadas sem que os créditos fiquem conosco. Esse é o caso de medicamentos e cosméticos criados a partir de nossas plantas, de nossas sementes. Ou seja, além de criar uma fonte de renda, é uma importante medida para o Brasil deixar de ser apenas reserva para abastecimento de matérias primas de países desenvolvidos.

Existe também a possibilidade de construírem criadouros comerciais para peixes típicos da região, para alimentação ou de peixes ornamentais. Quanto valerá no mercado externo tamanho exotismo? Cito mais dois exemplos. Em países como Estados Unidos, Japão e em toda a Europa, animais exóticos oriundos das florestas do Brasil são comercializados a preços de ouro. A Arara Azul chega a custar 5 mil dólares no Japão ou Europa. A Periquitambóia, cobra não venenosa de nome científico Corallus Caninus, virou moda e é criada como animal de estimação. Ora, a criação comercial de animais é uma excelente opção, pois além de gerar renda, compete e atrapalha o comércio ilegal.

Em resumo, existem várias formas de transformar a área em um assentamento sustentável ambiental e economicamente.

O governo vive pregando a biodiversidade, mas suas práticas estão impregnadas pela visão distante e burocrata que costuma assolar as boas idéias deste país.

Fora tudo isso, ainda dá pra ter uma rocinha e uns franguinhos para abastecer a mesa. Mas, se a intenção é fazer desses assentados potenciais ricos, dê-lhes 100 hectares. Sabe, pensando bem, acho que vou me alistar no movimento sem-terra. Melhor, vou criar o MNST “Movimento dos Novos Sem-Terra”. É sério! Os interessados podem se cadastrar pelo e-mail avandoni@uol.com.br.

Adriana Vandoni Curvo é professora de economia, consultora, especialista em Administração Pública pela FGV/RJ e pós-graduanda em Gerente de Cidades pela FAAP. E-mail: avandoni@uol.com.br




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