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Cidades/Geral
Quarta - 02 de Março de 2005 às 10:48
Por: Paula Menna Barreto

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Brasília - Até 2009 a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), maior entidade sindical camponesa, com 41 anos de existência, terá Manoel dos Santos à frente de discussões como reforma agrária e o papel do sindicalismo brasileiro.

O pernambucano Manoel dos Santos, em entrevista à Agência Brasil, conta que a falta de uma reforma agrária que tire o poder dos latifundiários é a maior responsável pela violência no campo. Ele fala de sua contribuição para a construção do PT, partido ao qual é filiado até hoje, e da Central Única dos Trabalhadores (CUT). A caminho do terceiro mandato na presidência da Contag, ele revela suas principais preocupações com o povo do campo brasileiro.

Agência Brasil: Quais os temas mais importantes a serem discutidos pela Contag? Manoel dos Santos: Reunimos delegados de todos os estados aqui e vamos tratar diversos temas como, reforma agrária, política agrícola, política para os assalariados, questões de saúde, educação, previdência social, política para mulheres, para jovens e terceira idade. Enfim, todos os temas que estão diretamente ligados ao dia a dia da classe trabalhadora rural aqui representado pela Contag. Além disso, vamos discutir o processo da reforma sindical, fazer um balanço do momento conjuntural, avaliar o significado das principais medidas político-econômicas e sociais conduzidas pelo governo e decidir as prioridades das nossas ações para o período 2005/2009. Depois, será eleita a direção da Contag, que ficará responsável por conduzir as políticas que serão deliberadas aqui no Congresso.

ABr: O senhor será reeleito, é isso? Não há concorrentes?

Manoel: Isso mesmo. Uma chapa unitária foi construída a duras penas, articulando em todo o país. É uma grande novidade porque nos dois últimos congressos havia duas chapas. Desta vez foi tomado o cuidado - mesmo com toda a diversidade e heterogeneidade que representa a Contag - de que neste momento conjuntural de desafios políticos, como as mudanças na reforma sindical, as disputas que temos com outros movimentos, era fundamental estarmos unificados em propostas e bandeiras de ação construídas sob uma direção unitária. Mesmo assim, apenas quatro pessoas continuam o mandato. Fui aprovado pela ampla maioria em todos os estados. Não fiz negociatas, fiz acordos políticos e é gratificante fazer a composição para as políticas dos quatro anos que virão.

ABr: Sendo assim, quais são as suas prioridades para os próximos anos?

Manoel: Bem, em primeiro lugar o processo de discussão e de aprofundamento interno do papel do dirigente no sindicato, na federação e na Contag. Sabemos que as necessidades de respostas concretas para transformar as nossas negociações com o governo, em políticas concretas lá no município, exige maior desempenho dos dirigentes do sindicato, das federações e assim por diante. O dirigente do sindicato de hoje precisa de propostas concretas na área da luta pela terra, pelo planejamento da produção e fortalecimento da agricultura familiar, tanto dos assentados quanto dos trabalhadores que têm terra por outro meio. Também na aplicação das políticas para benefícios de Previdência Social, educação, saúde e moradia e no processo de afirmação da Contag como o principal movimento representativo dos trabalhadores rurais brasileiros. Então, essas são as minhas prioridades, mas pretendo construir isso de forma unitária, sem evitar que o processo das discussões e divergências seja debatido para contribuir com melhores propostas para atender as demandas que temos.

ABr: Como o senhor avalia os conflitos recentes no Pará?

Manoel: As mortes no Pará são o resultado de um processo histórico de violência no campo no Brasil. Essa é a ausência de uma reforma agrária que de fato tire do latifúndio o controle dessas grandes propriedades. Eles têm uma força majoritária de atuação no campo e estão sempre construindo os projetos, em muitos casos baseados na força, na repressão e na violência. Até hoje, o Estado brasileiro, os sucessivos governos ainda não foram capazes de responder com políticas firmes, decisivas, que acabem com a pressão do latifúndio e com a violência no campo. O governo Lula é um dos itens que em avaliação. Precisa melhorar muito as ações exatamente no que diz respeito à luta pela reforma agrária, o acesso à terra e o enfrentamento do latifúndio.

As medidas que o governo tomou, de encaminhar medida provisória, projeto lei, decretos-lei transformando algumas áreas em reservas e suspendendo a utilização econômica daquela região, a maior em conflitos no Pará, acho que são enérgicas e importantes, porém terão que ser duradouras. No Pará, nos últimos cinco anos, mais de 20 líderes sindicais foram assassinados. Em todo o Brasil, nos últimos 30 anos, mais de 700 trabalhadores e trabalhadoras, líderes sindicais, advogados e padres, foram assassinados e pouca gente foi punida, presa. O governo atual tem uma grande responsabilidade de fazer com que essa política de combate à violência seja firme e duradoura. Essa é a nossa avaliação. Mas, o problema é de todas as instâncias, desde o prefeito do município, o governo do estado, o governo federal, a justiça estadual, a justiça federal, enfim todos têm responsabilidade direta ou indiretamente.

Abr: O senhor acredita que essas questões sejam resolvidas a curto ou médio prazos?

Manoel: Eu não tenho muita ilusão de que no curto prazo sejam resolvidas. Agora, as medidas precisam ser iniciadas a curto prazo e mantê-las de forma permanente. Reconhecemos que o governo tomou medidas que antes nenhum governo tomou naquela região, que são importantes. Porém, é preciso manter esse processo da vigilância e da permanência das ações.





Fonte: Agência Brasil

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