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Educação/Vestibular
Sábado - 09 de Outubro de 2004 às 10:31

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Alunos de várias escolas de Ensino Médio em Cuiabá estão se mobilizando para cobrar medidas de segurança rigorosas para evitar fraudes no próximo vestibular da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em novembro. Alarmados com reportagens veiculadas sobre as fraudes em todo o país, os estudantes querem concorrência justa, principalmente para o curso de Medicina. Com 65,5 candidatos concorrendo a uma vaga na UFMT, é o mais visado pelos fraudadores. Os estudantes formaram um grupo, chamado Movimento da Consciência Estudantil Mato-grossense, e preparam uma passeata para o próximo dia 19. Alunos de pelo menos quatro grandes escolas, públicas e privadas, já se engajaram no movimento e estão fazendo contato com outros grêmios.

“Quem estudou durante anos para entrar em uma universidade federal merece enfrentar uma concorrência justa”, afirma o estudante Giovani Ferreira, um dos organizadores do movimento. Ele considera que a luta para que não haja fraudes não é só do vestibulando. “É interesse de todo mundo. Quando a pessoa procurar um médico daqui a alguns anos, ou for levar o filho a um centro de saúde, como vai saber se o profissional é honesto ou se foi um dos que entrou na faculdade via fraude? Eu não deixaria uma pessoa capaz desse tipo de desonestidade encostar a mão em mim. Não teria confiança. Mas isso, só se eu soubesse que a pessoa é criminosa. Se eu não souber, corro o risco de entregar a minha saúde para alguém desse tipo cuidar. E o profissional honesto pode acabar sofrendo suspeitas injustas”, desabafa.

Ele pede a toda população que faça parte do movimento organizado pelos estudantes. “Não vai custar nada, uma manhã de trabalho, no máximo. E o que é uma manhã de trabalho perto de um problema que pode atingir a todos em tão pouco tempo?”, questiona. E enfatiza que o movimento dos estudantes não tem ligação com nenhum candidato ou partido político.

O manual do candidato da UFMT proíbe que os vestibulandos fiquem com quaisquer aparelhos eletrônicos, como celular, agenda eletrônica, relógio do tipo data-bank, bip, walkman e similares. Em relação à entrega do caderno de provas, o candidato só pode levar o caderno da primeira fase no dia seguinte. O caderno da segunda fase só pode ser levado por aqueles que saírem da sala após às 11h30, visando impedir que eventuais fraudadores tenham acesso às questões em tempo hábil para passar as soluções adiante.

Para o coordenador de 3o ano do Colégio Máster, Adeir Pinto, as medidas são insuficientes. “A Polícia Federal prendeu parte de uma quadrilha, em agosto, especializada em burlar essas regras em vários Estados brasileiros. Havia transmissor costurado por dentro da manga de uma jaqueta. E as pessoas que resolviam as provas anotavam respostas no corpo, memorizavam algumas. O esquema da fraude é milionário, não se pode ser inocente quanto a isso”, afirma o professor.

Ele encaminhou um ofício à Coordenação de Exames Vestibulares (CEV) da UFMT, a pedido dos alunos, em agosto, sugerindo uma série de providências. No documento, cita o fato de mais da metade dos aprovados em Medicina nos últimos anos serem de Goiás. Conforme a resposta da CEV, de setembro, não haverá modificações nos procedimentos. Entre as providências sugeridas, estava um rigor maior no momento da identificação, para evitar a fraude do “dublê”. A CEV informa que o processo já é rigoroso. Em relação às fraudes eletrônicas, o ofício sugere revista nos primeiros candidatos que terminam a prova, ao que a CEV responde que não teria amparo legal para tal atitude. Quanto à sugestão de concentrar todos os candidatos de Medicina num só local, a CEV responde que a concentração por cursos já é feita, sendo que os mais concorridos ficam no campus da UFMT.

O ofício sugeria ainda a instalação de bloqueadores de celular nos estabelecimentos de realização das provas. A CEV informa que não dispõe desses equipamentos e informa que a quantidade de estabelecimentos inviabilizaria a instalação. “Não haveria necessidade de instalar em todos os locais, apenas nos pontos que concentrassem os candidatos ao curso de medicina”, avalia o professor. Para ele, o mais prudente seria que não houvesse provas de Medicina na cidade de Barra de Garças, em função da proximidade com Goiás. Não houve resposta da CEV quanto a esse ponto. Por fim, o ofício solicitava maior participação da Polícia Federal durante o processo seletivo, ao que a CEV respondeu afirmando que a PF já participa ativamente, dentro da própria sistemática de trabalho. “Temos muito respeito pelo trabalho que a CEV realiza e sempre realizou. Mas é preciso considerar a verdadeira dimensão do problema das fraudes", enfatiza o professor.

Segundo o estudante Giovani Ferreira, o movimento vai cobrar da CEV que impeça a saída dos vestibulandos antes de, no mínimo, três horas de prova. Ele também defende a revista dos primeiros a sair, pois acredita ser possível conseguir autorização judicial para o procedimento. Para Giovani, a fiscalização mais intensa no vestibular para medicina vai beneficiar também os candidatos a outros cursos. “As pessoas não terão como saber exatamente em quais locais a fiscalização será mais rigorosa. Isso vai fazer quem estiver mal intencionado pensar melhor antes de tentar fraudar a prova”, afirma.





Fonte: Midia News

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