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Politica Brasil
Domingo - 02 de Maio de 2004 às 18:41
Por: Adriana Vandoni Curvo

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Esta semana a Câmara Federal realizou uma audiência pública para tentar esclarece conflitos ocorridos em Rondônia envolvendo garimpeiros e índios Cintas-Larga. Confronto já comentado nesta coluna. A audiência pública foi solicitada pelos presidentes das comissões de Minas e Energia e da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional, contou com a presença do governador de Rondônia Ivo Cassol, do diretor-geral do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Miguel Antônio Cedraz Nery e de um representante dos garimpeiros. Sem causar estranheza, presidente da FUNAI, Mércio Pereira Gomes fugiu do embate.

O não comparecimento do presidente da FUNAI segue a linha de atuação que ele vem desempenhando a frente do órgão. Depois da desastrada declaração em favor da ação dos índios e do massivo repúdio que recebeu de todos de bom senso deste país, depois de aparecer em uma entrevista usando uma cordinha amarrada ao pescoço, nada mais justificável que correr de uma audiência pública. Mércio foi chamado de “mentiroso” pelo governador Ivo Cassol.

O governo de Rondônia não pode ser responsabilizado pelo massacre, pois existe no Brasil autoridade que, se não cuida, deveria cuidar do assunto, a FUNAI. Pelo que foi apurado o número de garimpeiros mortos pode ser muito maior que o revelado até agora. Existem relatos que havia cerca de 200 homens trabalhando, e, segundo fontes locais, 100 homens ainda estão desaparecidos. Assim que conseguiram fugir da reserva alguns sobreviventes foram fazer a denúncia na delegacia de Espigão do Oeste. Notificada a Polícia Federal foi impedida de entrar na reserva sem uma ordem de Brasília. Só oito dias depois, com a autorização da FUNAI, foi possível iniciar a operação de busca. Sinistramente tempo suficiente para “ajeitar” as coisas dentro da reserva, mesmo estando ciente de que haviam garimpeiros mortos lá dentro.

Em uma CPI realizada pela assembléia legislativa de Rondônia o coordenador da reserva Roosevelt, Walter Bloss, foi acusado de atrapalhar os trabalhos da Polícia Federal e de fazer parte de um esquema de contrabando de pedras. Se isso for verdade, está tudo explicado.

A reserva Roosevelt é uma terra de ninguém, é um país dentro do Brasil, possui direitos diferenciados, leis próprias, língua distinta, enfim, o Brasil não exerce a mínima autoridade dentro dela. Diante disso eu me pergunto: qual a utilidade da FUNAI? Acobertar ou compactuar com contrabandistas?

O que torna uma instituição séria são seus dirigentes, um Fernandinho Beira-Mar jamais dará um caráter de honestidade onde quer que vá. E Walter Bloss, o que o faz permanecer no cargo mesmo com todas essas denúncias?

O deputado federal Alberto Fraga do PTB do Distrito Federal, partido da base aliada do governo, colocou muito bem na audiência pública da Câmara que se Walter Bloss permanecer no cargo, então o presidente da FUNAI Mércio Pereira Gomes é conivente, se o Mércio permanecer no cargo, então o Ministro da Justiça é conivente, se o Ministro da Justiça não for afastado do cargo, bem, aí estará criado um outro caso Waldomiro.

Enquanto se discute se o que existe é uma imensa incompetência administrativa ou uma descarada conivência de autoridades com o contrabando, em Rondônia, depois da massiva propaganda das qualidades minerais da reserva, além de ser a maior do mundo, os garimpeiros voltaram à reserva Roosevelt deixando o clima ainda mais tenso. Um novo confronto pode ocorrer a qualquer momento. Se esses irresponsáveis que tem o poder de fazer algo continuarem inertes o vermelho de abril se estenderá para maio.

Adriana Vandoni Curvo é professora de economia, consultora, especialista em Administração Pública pela FGV/RJ. E-mail: avandoni@uol.com.br




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