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Opinião
Terça - 29 de Dezembro de 2020 às 06:05
Por: Rosana Leite Antunes de Barros

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Mais uma vez assistimos estarrecidas e estarrecidos a um feminicídio no Brasil. Cuida-se da juíza Viviane Vieira de Amaral Arronenzi, atuante no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que foi brutalmente assassinada pelo ex-marido na véspera das festividades de Natal, na frente de suas três filhas crianças.

Segundo mencionado pela mídia, em setembro do corrente ano, a magistrada não suportando o relacionamento amoroso que levava com o feminicida, resolve por fim ao enlace. Sim, nada de mais, afinal de contas, quando um não quer...

Todavia, o inconformismo do homem foi tanto, que em determinado dia adentrou o apartamento em que a mulher residia com as filhas do ex-casal e a agrediu fisicamente.

Na data, foi ‘salva’ pelo porteiro que conseguiu a livrar das agressões. Passou, então, a ser escoltada por policiais a garantirem a sua segurança. Há mais de mês, dispensou a segurança ofertada pelo TJRJ, porquanto, imaginou não ser mais necessária, até pelo pedido de uma das filhas, que afirmava que o pai não seria bandido.

Mais uma vez assistimos estarrecidas a um feminicídio no Brasil

O fatídico feminicídio se deu na Avenida Raquel de Queiroz, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Mesmo com o pedido das filhas, que aos gritos imploravam para que o pai parasse de esfaquear a mãe, no meio da rua, a mulher foi morta por ele.

Esse entristecedor e lamentável fato nos rememora, mais uma vez, como as mulheres estão sendo assassinadas em larga escala. Os homens não estão a suportar a independência delas. É fato. As mulheres, principalmente as independentes financeira e emocionalmente, não suportam por muito tempo viver sob o manto da violência doméstica e familiar.

Assim, são elas que costumam sair do relacionamento amoroso quando em infelicidade estão vivendo. E elas estão sendo assassinadas pelo inconformismo com o término do relacionamento. Não, não há motivos!

Algo bastante importante deve ser pontuado para as vítimas. Elas precisam acreditar que as ameaças de morte são reais. A rotina delas é largamente conhecida por aqueles que com elas esteve a dividir o lar conjugal. O amor fraterno deve ser realidade na vida dos seres humanos. Mas, a prudência de alguém que sofreu a ameaça deve ser levada em consideração.

Ninguém tem como prever se aquele que proferiu uma ameaça a concretizará. Na dúvida, todo cuidado é pouco. Quando Viviane pediu escolta da polícia o fez por temor. Contudo, fraternalmente, imaginou que a ‘poeira’ já havia baixado.

É certo que essa vítima quando pediu a cisão do relacionamento buscava a felicidade. Se a vida a dois não estava dando certo, que acontecesse a separação. Entretanto, ela não teve esse direito. Ela não pode viver a sua liberdade.

O que aconteceu com Viviane é realidade todos os dias no Brasil e no mundo. E o pior é que o feminicídio é sempre anunciado, como no caso que se apresenta. Ela foi morta à luz do dia, sem que ninguém a pudesse socorrer. Os seus brados não foram o suficiente para que o covarde parasse de agir...

As suas filhas viveram um ‘filme de terror’ por alguns instantes. Os dias 24 de dezembro dessas meninas nunca mais serão felizes... Os sonhos e esperanças da vítima não puderam se concretizar... Ela não poderá acompanhar os crescimento de suas descendentes...

A Lei Maria da Penha se presta a toda e qualquer situação de violência doméstica e familiar que as mulheres estejam passando. É preciso que elas compreendam a situação diferenciada que passarão, pelo menos por um tempo, após a lavratura de boletim de ocorrências e pedido das medidas protetivas de urgência. É o momento de pensar em si.

As autoridades começam a ‘acordar’ e entender que a violência doméstica praticada contra as mulheres atinge a toda a sociedade indistintamente. Fazer algo é urgente. Eles morrem fora de casa, e elas dentro... Esse quadro precisa ser modificado urgentemente... ou, quantas Vivianes precisarão ser mortas?

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.



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