PF grampeou Blairo na Operação Jurupari: "projetos enrolados"

A Polícia Federal grampeou conversas telefônicas de muita gente na Operação Jurupari, nos últimos dois anos: dirigentes e servidores da Sema (que ficaram nos cargos até abril), madeireiros, engenheiros florestais, assessores de deputados, prefeitos, fazendeiros e lobistas. Até o então governador do Estado Blairo Maggi teve conversas gravadas. Só Notícias teve acesso a trechos de dois diálogos, que constam na folha 15 do despacho da justiça federal. Blairo liga, no dia 12 de janeiro deste ano, para o secretário-adjunto de Mudanças Climáticas da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Alex Sandro Antonio Marega. Ele quer saber informações sobre dois processos ambientais da Itaúba Agroindustrial que "estão enrolados".  A área fica no Nortão e o pedido é para liberação de manejo para extrair madeira. O então governador também dá uma bronca no secretário porque o deputado Mauro Savi, que é líder do governo, não está tendo pedidos atendidos na Sema. Mauro estaria buscando ajudar a "solucionar" as pendências neste projeto. Alex, depois de fazer um raio-x nos projetos ambientais liga para o governador e deixa claro que, da forma com que o dono da áerea pedia aprovação, "dá cadeia". Blairo ouve as explicações, questiona sobre a legislação mas, no trecho da conversa gravada, não manda levar nada adiante ou autorizar que seja feito

Trechos da conversa

Blairo: Tá bom. Alex, eu preciso que você vê...anota dois protocolos aí pra você me dar uma resposta porque esse trem tá enrolado.
Alex: Deixa eu pegar aqui.
Blairo: 105803/2005. Isso é um LAU [Licenciamento Ambiental Único]
Alex: Tá.
Blairo: E outro é 18535/2006 é o manejo (Fazenda Mosquito, de Luiz Carlos Bedim.
Alex: Ta, eu vou verificar e passo a resposta pro senhor ainda agora.
Blairo: Tá, passa pra mim depois. Viu, Alex, eu gostaria que você desse uma atenção quando ele te ligar aí. O deputado Mauro Savi ele é nosso líder de Governo, que tá sempre conversando com vocês e até me disse que não tem conseguido falar. Eu quero que você dá uma atenção para ele, tá?
Alex: Ok.
Blairo: Qual teu celular Alex ?
Alex: 9984- 4416

O secretário retorna depois para Blairo com as inforácões:

Alex: Com relação aqueles processos que o Mauro Savi pediu...
Blairo: Hã.
Alex: Um deles eu pedi pra fazer uma análise. Eu já tenho assim tudo que está faltando numa lista final. Ele cumprindo aquilo que já vai ser impresso o processo de LAU.
Blairo: Certo.
Alex: Aí, o do manejo é um pouco mais complexo. Por quê? Porque ele tá requerendo o manejo numa área onde ele já explorou autorizado pelo Ibama.
Blairo: Ham, ham.
Alex: Então, ele teria que esperar um período de 25 anos.
Blairo: Isso é.
Alex: Só que aí ele entrou com uma defesa no processo, falando que não é aquela área. Então, eu pedi para reanalisar tudo de novo. Verificar se a defesa dele realmente tem fundamento. Mas, assim preliminarmente eu acredito que não vai ter como fazer manejo lá.
Blairo: Se ele já fez não tem como autorizar, né?
Alex: Exatamente. Mas, isso acontece direto, governador. Muito gente que fez pelo Ibama agora quer que a Sema autorize de novo.
Blairo: Mas isso a legislação não permite, né?
Alex: Não permite. Isso é um dos negócios que dá cadeia.
Blairo: Ham, Ham.
Alex: E aí é o seguinte: eu liguei pra ele, só vai tá aqui na terça-feira
Blairo: Certo.
Alex: Aí ele falou que é pra guardar tudo e na terça-feira ele vem falar com a gente.
Blairo: Ta ótimo, então.

Alex Sandro está entre os que tiveram prisão decretada na operação. O juiz Julier da Silva também decretou o sequestro e indisponibilidade de seus bens em R$ 14,1 milhões.

Blairo divulgou nota neste sábado sobre os grampos. A assessoria aponta que "ao ser informado sobre impedimentos legais para a concessão de licença ambiental junto à Sema, Maggi encerra o diálogo sem fazer nenhum pedido de favorecimento a Mauro Savi, situação confirmada pela própria transcrição da escuta telefônica", Expõe ainda que, "em momento algum durante os sete anos e três meses em que governou Mato Grosso, o ex-governador Blairo Maggi fez uso de sua função para conseguir quaisquer benefícios para si ou para terceiros. Ele faz questão de enfatizar que, em nenhum momento, a escuta telefônica configura lobby ou solicitação de privilégios ao deputado Mauro Savi".