Repórter News - www.reporternews.com.br
Nacional
Segunda - 03 de Maio de 2010 às 07:13
Por: João Naves de Oliveira

    Imprimir


Até o final deste ano, Mato Grosso do Sul terá mais de 40 mil famílias acampadas no Estado, segundo estimativas do Movimento dos Sem-Terra (MST). O aumento do número de acampados, segundo o coordenador regional do movimento, Egydio Bruneti, deve-se à chegada de milhares de brasileiros que viviam até agora no Paraguai.

 

Conhecidos também como brasiguaios, esses brasileiros estariam abandonando as terras do país vizinho em decorrência de perseguições e até de ameaças de morte, segundo o líder do MST. "Grupos mercenários, servidores de grandes fazendeiros, fortemente armados, chegam quebrando tudo. Quem não foge fica com a moradia, sem um palmo para plantar, olhando os invasores transformar tudo em lavouras de soja", disse Bruneti.

Ainda de acordo com o seu relato, representantes do MST assistiram a cenas de violência contra brasileiros em diversas regiões do País. O lugar considerado mais crítico fica na região de Santa Rita, próxima à fronteira com o Estado do Paraná.

A violência atinge principalmente pequenos e médios produtores, segundo Bruneti. Ele também disse que as terras, depois de desocupadas, são arrendadas por paraguaios a grandes produtores, muitos deles brasileiros.

"Os brasileiros expulsos ocupavam áreas de 40, 50 e até 200 hectares", afirmou o coordenador regional. "As terras são arrendadas logo em seguida a latifundiários brasileiros para a produção de soja."

Preferência. Atualmente, o número de famílias de sem-terra acampadas em Mato Grosso do Sul chega a 25 mil, segundo o MST. Desse total, 13.400 estão cadastradas no Programa Nacional de Reforma Agrária, à espera de lotes de terra, segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

De acordo com um levantamento do MST, cobrindo a área entre a divisa do Paraguai com o Paraná até o município de Paranhos, o último na linha fronteiriça com Mato Grosso do Sul, cerca de 15 mil famílias de pequenos e médios produtores brasiguaios estão voltando para o Brasil. A maioria delas dá preferência ao Estado de Mato Grosso do Sul para se reinstalar.

"A maioria dessa gente não é, legalmente, brasileira nem paraguaia. Ela simplesmente não existe no mapa", afirmou o líder do MST. "Volta para cá sem nenhum documento, sem registro de nascimento, sem anotações de algum médico ou hospital que provam o nascimento no Paraguai ou no Brasil. É gente que nasceu com a ajuda de parteiras, em casa. Fica difícil para o governo brasileiro prestar ajuda."

Em Itaquiraí, município que fica no extremo sul do Estado e funciona como a principal porta de entrada dos brasiguaios, a prefeita Sandra Cassone informou que poderá decretar estado de emergência já na próxima semana. Ela aguarda apenas os resultados de um levantamento que está sendo realizado pela Defesa Civil.

"Os estoques de medicamentos, alimentação, enfim todos os recursos que poderiam ajudá-los estão esgotados", informou a prefeita, referindo-se aos brasiguaios. "O município não aguenta mais."

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Itaquiraí, Joel José Cardoso, também mostra preocupação. "Os acampamentos de sem-terra na região, estão sendo inchados pelos brasiguaios". informou. "Mas só as famílias cadastradas pelo Incra recebem cestas básicas distribuídas pelo Incra."

Segundo Cardoso, os sem-terra estão se organizando e coletando alimentos para distribuir aos brasiguaios.


Para lembrar

CPT alertou para violência no Estado

O aumento do número de acampados em Mato Grosso do Sul deve agravar as tensões decorrentes de conflitos agrários no Estado. De acordo com ranking preparado por pesquisadores da Comissão Pastoral da Terra (CPT) sobre violência no campo, o Estado mais violento é Mato Grosso, seguido por Mato Grosso do Sul. O ranking se baseia em dados de assassinatos, prisões, famílias expulsas e despejadas.






Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://www.reporternews.com.br/noticia/134111/visualizar/