Repórter News - www.reporternews.com.br
Nacional
Segunda - 12 de Abril de 2010 às 15:24

    Imprimir


Além de superar a barreira da baixa escolaridade, beneficiários do Bolsa Família, em sua maioria mulheres, precisam também vencer o preconceito e a falta de vagas em creches para buscar sua inserção no mercado de trabalho.

Cléia Taís de Brito, 32, foi uma que superou todos esses obstáculos. Ela passou a trabalhar como garçonete em janeiro, após ter feito um curso de capacitação em Maceió.

Cléia vive com mais sete pessoas na mesma casa: seus três filhos, dois sobrinhos, a irmã, e a mãe. Antes do emprego --onde recebe um salário mínimo--, a família dependia de R$ 450 da pensão da mãe, R$ 224 dos benefícios do Bolsa Família dela e da irmã, além de alguns biscates. Somente de aluguel o gasto da família chega a R$ 400.

Seu emprego deu a todos um alívio, mas a família ainda passa por dificuldades.

No dia em que a reportagem da Folha visitou sua casa, havia na dispensa cinco pacotes de macarrão, três de arroz, três de açúcar, um de café e um de feijão. Os alimentos não foram comprados, mas trocados numa mercearia por um anel que a irmã de Cléia recebera de presente do ex-marido.

"Estamos primeiro colocando as contas em dia, para depois fazer algumas melhorias em casa", explica Cléia. Ela já se matriculou também em outro curso de capacitação, de recepcionista, na esperança de conseguir um emprego melhor.

A coordenadora do programa federal de capacitação do Bolsa Família em Maceió, Valquíria Cândido, se orgulha de ter, como aconteceu com Cléia, colocado 190 de 430 beneficiários em empregos formais.

Ela diz, no entanto, que é fundamental fazer um filtro. "Não adianta pegar uma pessoa que mal sabe ler e escrever. O mercado não vai aceitá-la", diz.

Também é preciso vencer preconceitos. Janaína Ferraz, 23, antes de procurar a capacitação coordenada por Valquíria, fez curso para atuar como frentista. Entregou o currículo em mais de 30 postos de gasolina, mas nunca foi chamada. "Acho que não querem contratar mulher com medo que a gente engravide", diz.

Outra dificuldade de boa parte das beneficiárias é não ter com quem deixar os filhos. Adriana Silva, 25, é mãe de três filhos. Foi chamada para estagiar num hotel no turno da noite, após ter feito o curso de camareira. Mas recusou, pois não tinha com quem deixar as crianças no horário noturno.

Enquanto uma nova oportunidade não chega, ela vive de faxinas esporádicas ou do trabalho do marido catando sururu na lagoa Mandaú.

É o mesmo local --a favela Sururu de Capote-- em que vive a família de Alfredo da Silva, pescador que diz ter pouca esperança em superar a pobreza em outro emprego.

No caso de Alfredo, o mais grave é que sua filha, Rosileide, 6, não estuda e ajuda o pai no preparo do sururu. "Querem que a gente ponha o filho na escola, mas cadê a escola?"

A falta de vagas na favela Sururu do Capote resultou, no mês passado, numa decisão da 2º Vara da Infância e Juventude de Maceió obrigando a prefeitura a encontrar soluções. Rosileide, por enquanto, segue esperando.






Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://www.reporternews.com.br/noticia/136514/visualizar/