Repórter News - www.reporternews.com.br
Economia
Segunda - 29 de Março de 2010 às 06:36
Por: Raquel Ferreira

    Imprimir


Problema começa para chegar até ônibus, com calçadas irregulares, ruas sem asfalto ou cheia de buracos e falta de rampas
Problema começa para chegar até ônibus, com calçadas irregulares, ruas sem asfalto ou cheia de buracos e falta de rampas

O transporte público é o maior vilão das pessoas com deficiência em Cuiabá segundo a secretária da Associação Mato-grossense de Deficientes (AMDE), Josineide Miranda de Freitas, 38. Ela destaca que a frota não é suficiente para atender a demanda de cadeirantes e o programa Buscar tem oferecido serviço precário para a população.

Além disso, chegar até um ônibus também é um grande problema. A falta de acessibilidade na Capital dificulta a movimentação desta classe de forma plena, seja no Centro da cidade, seja nos bairros. Faltam rampas de acesso que ligam calçadas e ruas, vias pavimentadas. Nas calçadas não há como circular com a cadeira de rodas. As ruas são acidentadas e cheias de buracos.

Josineide destaca que a luta é constante para garantir direitos e a cada momento surge um novo problema a ser enfrentado. "A cidade cresce, mas a frota não aumenta. Os ônibus estão sempre abarrotados de pessoas. Antes, o problema eram os carros adaptados. Agora, é quem vai manusear o elevador de acesso ao cadeirante. Têm cobradores e motoristas que mentem para não ajudar, falam que o elevador está quebrado".

Ela destaca que o programa Buscar, destinado especialmente para transportar pessoas com deficiência, está precário e insuficiente. Ela diz que tem muita gente precisando e a frota de veículos antigos não consegue atender de forma satisfatória. "Isso é necessidade, não é luxo. Imaginem a quantidade de mães que não conseguem carregar os filhos, não têm dinheiro para pagar um táxi ou a cadeira não cabe dentro do carro".

O cadeirante Lourenço Agnelo da Cruz, 60, diz que "quem não tem liberdade de ir e vir fica preso". Dependente de uma cadeira de rodas desde o início da adolescência, ele destaca que muita coisa melhorou para os cadeirantes, mas afirma que ainda há muito o que se fazer. "Como cadeirante, vejo a necessidade de um compromisso do poder público".

Usuário do transporte público, Lourenço lembra que há pouco tempo quase perdeu uma consulta médica mesmo saindo de casa com 2 horas de antecedência. Ele mora no Pedra 90 e o atendimento médico seria no Osmar Cabral, bairros que ficam próximos. "Passou um ônibus e não me levou porque o elevador estava estragado. Dez minutos depois passou um micro-ônibus, que não era adaptado. E eu fiquei lá, esperando. O primeiro ônibus foi ao Centro de Cuiabá, voltou e eu ainda estava lá no ponto de ônibus, no sol, sem nenhuma cobertura. Foi aí que o motorista me ajudou".

Lourenço entende que o problema ocorre pela falta de conscientização da população e dos funcionários para ajudar este público. Ele reclama ainda que o atendimento do Buscar não é satisfatório, devido a necessidade de um agendamento com antecedência mínima de 24 horas. "As vezes acontecem imprevistos, marcam consultas médicas de última hora e eles não podem fazer o transporte porque não agendamos".

Além da dificuldade do transporte, Lourenço lembra que os cadeirantes não têm livre acesso em locais públicos, como igrejas, cartórios, e não é em qualquer rua que podem andar sozinhos. "Nem sei há quantos anos não entro na igreja da Matriz. No cartório que ficava na avenida Getúlio Vargas eu entrava somente carregado, com ajuda das pessoas que estavam por lá".

Vítima de uma bala perdida que a deixou paraplégica, a jovem Arieli Aparecida de Oliveira Gonçalves, 23, luta diariamente para manter sua independência. Os problemas começam ainda no bairro em que mora, Nova Esperança 2, que não tem ruas asfaltadas e em dias de chuva a situação piora. A terra vira lama e a água empoça em vários pontos. Em muitos lugares a passagem fica totalmente prejudicada. "As pessoas não têm paciência, os motoristas param os ônibus longe. Fui fazer a prova do concurso sozinha e o motorista parou super longe do ponto, não me ajudou a descer. Fui tentar sair sozinha e quase cai, as pessoas que estavam no ponto que me ajudaram".

A dona-de-casa Maria Divina Canavarros, 43, entende bem o que é acompanhar um cadeirante pela cidade. Ela é mãe da jovem Gleia Aparecida Barros, 19, que nasceu com paralisia motora e até hoje não frequenta a escola por falta de transporte público adequado. "Já tentei uma vaga no Buscar por diversas vezes, mas não consigo. Ela queria ir para a escola e não pode porque não temos condições de levar todos os dias".

A situação de Maria Divina era ainda pior antes de casar e ela dependia integralmente do transporte público. "Hoje, meu marido tem carro e me ajuda a levar a menina ao médico, mas antes eu fazia sozinha. É uma tristeza, os pontos de ônibus não têm lugar para acomodar a cadeira, as ruas e calçadas são cheias de buraco, não têm rampa. É muito difícil. Quando a gente entra no ônibus quem ajuda são os passageiros, porque os motoristas e cobradores não estão nem aí".

Gleia precisa de uma cadeira de rodas nova. A que usa atualmente tem mais de 10 anos e está bastante desgastada. A família pede ajuda ou doação para adquirir uma. O telefone de contato é 3667-7833 ou 8465-2729.

Outro lado - Conforme a Associação Mato-grossense dos Transportadores Urbanos (MTU), o programa Buscar é custeado 100% com dinheiro dos empresários do transporte público, que prestam o serviço aos portadores de deficiência de acordo com a solicitação da AMDE.

A MTU garante que todo transporte é feito de maneira gratuita e não há lei que obrigue essa prestação de serviço. Como a demanda é grande, existe a necessidade de agendamento.

A Secretaria Municipal de Trânsito e Transporte Urbano (SMTU) explica que o programa Buscar faz parte de um acordo entre Prefeitura de Cuiabá e empresas de transporte públicos, que devem atender este público. O secretário Edivá Alves destaca que existe o entendimento do serviço deficitário por isso foi pedido À MTU que ampliasse o serviço e renovasse a frota. O pedido foi feito via Ministério Público.

Quanto as rampas, Edivá garante que foi feito um levantamento dos pontos necessários para a regularização e a licitação para o serviço está em andamento. "Até o meio do ano devemos concluir 300 rampas em pontos principais de travessias no Centro de Cuiabá e em bairros também".





Fonte: A Gazeta

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://www.reporternews.com.br/noticia/137887/visualizar/