Argentina implementará novo índice de preços no fim do ano, diz ministro
A Argentina vai lançar um novo índice de preços domésticos no fim deste ano, disse neste sábado (2) o ministro da Economia, Hernán Lorenzino, um dia após o FMI (Fundo Monetário Internacional) censurar publicamente o país devido à falta de credibilidade de suas estatísticas.
É a primeira vez na história da entidade que um país é advertido dessa forma.
Segundo a Bloomberg, a Argentina se tornou o primeiro país a ser criticado pelo FMI por índices econômicos oficiais pouco confiáveis. A Tchecoslováquia teria rompido com a instituição em 1984 pelo mesmo motivo, e Cuba, em 1964, quando ainda não havia a regra do aviso prévio.
"Vamos ter um IPC [Índice de Preços ao Consumidor] nacional que vai substituir o IPC-GBA [que contempla somente a província de Buenos Aires]", disse o ministro à rádio local La Red.
A país sofre há anos com uma crescente inflação, e está trabalhando desde 2011 em uma nova medição de preços locais em todo o país para substituir o questionado sistema atual.
É grande a suspeita de que a verdadeira alta de preços dos produtos argentinos esteja subestimada pelo atual IPC. O índice serve de base para o cálculo dos pagamentos da dívida pública ajustados à inflação.
ADVERTÊNCIAS
Junto com a "declaração de censura", o FMI concedeu até 29 de setembro para que o país tome alguma medida. A decisão já era esperada, uma vez que a diretora do fundo, Christine Lagarde, vem chamando a atenção do governo argentino nos últimos meses. Em dezembro, ela já havia apresentado um relatório sobre a má qualidade das estatísticas argentinas.
O país já havia recebido outras advertências, uma em julho de 2011, depois da visita de técnicos do órgão, e outra em setembro de 2012, em que se apontava que não havia havido progressos do país nesse sentido.
A declaração da entidade não tem efeitos imediatos, mas economistas apontam que a declaração de censura é o primeiro passo no procedimento previsto pelo FMI para expulsar um país que não apresenta estatísticas confiáveis do organismo multilateral. O segundo seria impedir o acesso a empréstimos, e o terceiro, perder o direito a voto.
INSUFICIENTE
"O comitê executivo considerou o progresso da Argentina em implementar as medidas de correção não foram suficientes", diz o comunicado do FMI.
A entidade informou ter solicitado ao país, em setembro de 2012, índices mais confiáveis sobre seu PIB e seu IPC-GBA (Índice de Preços ao Consumidor da Grande Buenos Aires).
De acordo com o comunicado emitido ontem, o fundo deverá informar novamente o Idec --órgão similar ao IBGE brasileiro-- sobre o caso em 13 de novembro. "Nesse momento, o diretório revisará novamente o tema e a resposta argentina em linha com os procedimentos do fundo."
INTERVENÇÃO
Economistas e políticos colocam em dúvida estatísticas oficiais argentinas desde 2007, quando Néstor Kirchner (1950-2010), então presidente, interveio no Idec e substituiu economistas de carreira na instituição.
Outros números do órgão são questionados, como o que mede a pobreza e o valor da cesta básica. Seu governo e o de sua sucessora, a viúva de Néstor, Cristina Kirchner, negam que o Idec manipule os dados.
Os índices variam enormemente desde então. Em 2012, consultorias privadas afirmam que a Argentina teve 25,6% de inflação; o governo afirma que a alta foi de 10,8%.
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