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Cidades/Geral
Terça - 04 de Outubro de 2011 às 07:57
Por: JOANICE DE DEUS

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Widson Maradona/AL-MT
Janaína disse que não sabia que se tratava de policiais e achava que Toni era ladrão: ‘você está apanhando porque é band
Janaína disse que não sabia que se tratava de policiais e achava que Toni era ladrão: ‘você está apanhando porque é band
Mesmo caído de bruços no chão e totalmente imobilizado, Toni Bernardo Silva, 27 anos, foi brutalmente agredido com socos na cabeça, pescoço e no rosto. A afirmação é da professora e socióloga Janaína Pereira Monteiro, que testemunhou a morte do estudante. Ontem, na Assembleia Legislativa, ela relatou com riqueza de detalhes o fato desde o momento em que chegou ao Restaurante Rola Papo, que fica no bairro Boa Esperança. O crime aconteceu no dia 22 de setembro passado.

A professora mora ao lado do restaurante. Ela conta que quando chegou ao local não sabia que os agressores Higor Marcel Mendes Montenegro e Wesley Fagundes Pereira, ambos de 24 anos, eram policiais militares. Sérgio Marcelo Silva da Costa, filho de um delegado da Polícia Civil, outro acusado de cometer o crime, já havia deixado a pizzaria. Ele é marido de Cláudia Rocha, a quem Toni teria pedido dinheiro, sentado-se ao lado, além de ter tentado segurá-la.

Janaína Pereira contou que cada um dos policiais segurava um dos braços da vítima, que já estava caída de bruços no chão. Um deles dizia: “Você sabe por que você está apanhando? Você está apanhando porque é bandido”. Ao mesmo tempo, o estudante era espancado.

Janaína Pereira interveio e pediu para que os agressores parassem até a chegada da polícia. Foi quando, conforme ela, um deles disse que era policial. “Quando vi o Toni, pelos dizeres das pessoas, julguei que ele era um ladrão. Assim como não julguei que os dois agressores eram policiais, porque o policial deve ser um dos principais defensores dos direitos humanos”, comentou.

A professora lembrou que, apesar de haver muita gente no local, a maioria foi omissa. Apenas duas cozinheiras do estabelecimento gritavam para que as agressões cessassem. Além disso, ela contou que chegou a ser ofendida e atacada pelos acusados, inclusive por uma das mulheres dos policiais. “Eles diziam para eu voltar para casa. Que o Toni era bandido e que um dia um bandido iria entrar na minha, me bater e estuprar minha filha”, relembrou.

A testemunha, que fez os mesmos relatos em depoimento à Polícia Civil, disse que não se lembra quanto tempo demorou todo o fato. Mas que os agressores só começaram a perceber a gravidade da situação quando outros dois policiais militares chegaram e adotaram a conduta correta em relação ao caso. “Dois policiais foram eficientes, verificaram os sinais vitais e acionaram o Samu”, disse. Além disso, um deles teria ido atrás do Sérgio Costa, que já havia deixado o lugar.

Para ela, o crime teve motivação racial. “A atitude que tiveram contra ele só me leva a acreditar que o preconceito racial foi muito grande”. Indagada sobre fato de um dos agressores ser negro, a professora, que já havia observado que no Brasil o preconceito ocorre de forma velada, Janaina Monteiro foi enfática. “Há quem, por possuir certa situação econômica, acredita que supera o grupo do qual faz parte. Não sei o que há com exatidão na cabeça do infrator”, disse destacando que o policial de pele branca era mais agressivo.

Ela contou acreditar ainda que os agressores se consideravam heróis. “Há uma síndrome de Hitler”, disse. Considerada testemunhar ocular do crime, Janaina Monteiro deverá receber proteção do Estado. Como teria que sair de Mato Grosso, ela recusou-se a ser incluída no Programa Nacional de Proteção às Testemunhas. O pedido foi feito pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos, Cidadania e Amparo à Criança, ao Adolescente e ao Idoso para relatar o ocorrido, Emanuel Pinheiro.

Apesar de afirma que não recebeu nenhuma ameaça, a professora reconhece que pode vir a acontecer e, por isso, alterou sua rotina. “Sou professora de classe dominical e (ante)ontem evitei sair de casa”, comentou.

Proprietário do Rola Papo, José Dilmas, 56 anos, comentou que não estava no estabelecimento quando tudo começou. Porém, ele argumentou que assim como as outras pessoas, sentiu-se impotente, diante das condições físicas dos agressores. Ele registrou boletim de ocorrência após receber ameaças no dia em que houve uma manifestação contra a violência.

Estudante africano, Toni era ex-aluno do curso de Economia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). O assessor de Relações Internacionais da instituição, Paulo Teixeira de Souza, informou que a UFMT acompanha a questão do translado do corpo da vítima para Guiné-Bissau e que na última sexta-feira recebeu a informação de que deve ser feita em oito dias. Paulo Teixeira disse ainda que a instituição está reavaliando o internamente os critérios ou convênio de intercâmbios.




Fonte: Do DC

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