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Internacional
Sexta - 22 de Abril de 2011 às 23:02

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Após mais de um mês e cerca de 200 ou mais mortes, os protestos na Síria não dão sinais de arrefecimento. Na verdade, as manifestações estão se espalhando, e ficando mais ferozes a cada dia.

A crise não parece ter atingido o ponto de massa crítica, como as que varreram os governantes de Tunísia e Egito --onde os Exércitos se recusaram a atirar em seu próprio povo.

Mas o que começou em março como um incidente de menor importância envolvendo estudantes --que grafitaram muros na cidade sulista de Deraa-- levou a revoltas e mortes em quase todas as partes do país.

A revolta ainda não conseguiu capturar seriamente as duas maiores cidades sírias, Damasco e Aleppo.

Mas apesar de uma presença maciça das forças de segurança nas ruas, estudantes da Universidade de Damasco organizaram manifestações. Na semana passada, houve cenas semelhantes, à medida que Aleppo se juntou à longa lista de locais onde protestos foram reprimidos no país.

Não há dúvida sobre o fato de que o regime Baathista do ditador Bashar al Assad se sente ameaçado.

A mídia estatal tenta tratar os protestos como uma campanha fomentada desde o exterior por terroristas e gangsters, para minar a segurança, a estabilidade e a unidade do país.

Na quarta-feira, três homens teriam sido presos durante protestos, e foram mostrados na TV estatal síria "confessando" que tinham sido pagos e armados por estrangeiros para abrir fogo contra manifestantes e forças de segurança.

Eles disseram que seus patrocinadores estavam ligados à Irmandade Muçulmana e que armas e dinheiro tinham vindo do Líbano, enviados por um membro do Parlamento libanês ligado ao premiê Saad Hariri.

O deputado, Jamal al Jarrah, desmentiu as afirmações. Elas também foram negadas pela Irmandade Muçulmana, que as descreveu como "invenções da mídia projetadas para escapar da pressão por reforma".

A Irmandade, que tem raízes na comunidade de maioria sunita, foi reprimida violentamente após levantes na Síria no começo dos anos 80.

MANIFESTAÇÃO DE APOIO

As mesmas "gangues armadas" e sabotadores são também culpados oficialmente pelas mortes de cerca de 35 integrantes da polícia e do Exército sírio e pelo ferimento, a tiros, de muitos outros na semana passada.

O funeral dos soldados assassinados foi amplamente exibido pela TV estatal, para tentar aumentar o apoio público ao governo.

A mídia oficial diz que 19 policiais foram mortos em Deraa, e que nove soldados morreram em uma emboscada perto de Banias no penúltimo domingo, com outro morto a tiros por homens armados na penúltima terça-feira, e outros seis mortos e mais de 160 feridos em outras partes do país.

Seus funerais também foram exibidos à exaustão na TV síria, com multidões de pessoas (muitas uniformizadas) cantando slogans pró-governo, e parentes às lagrimas prometendo lealdade a Assad.

Não há motivo para desacreditar as mortes destes policiais e membros do Exército. A pergunta que fica é: quem está atirando neles?

Para o regime, a resposta é simples: "gangues armadas" que fomentam o levante como parte de um complô estrangeiro.

Mas os manifestantes insistem que seu movimento é pacífico e desarmado. Na mídia social e em sites, manifestantes alertam exaustivamente que qualquer um que publicar mensagens defendendo a violência ou o sectarismo será banido e posto em uma lista negra.

Alguns sugeriram que os policiais e soldados foram mortos por integrantes do serviço de inteligência ou da milícia alauíta conhecida como "Shabbiha", como forma de desmoralizar os manifestantes e assustar pessoas com a ameaça de uma anarquia armada.

O mesmo foi sugerido por um "documento de inteligência" publicado por uma das principais páginas da oposição no Facebook. O documento supostamente exibe planos detalhados do governo para lidar com os levantes - apesar de o documento ter sido desacreditado pela própria oposição.

Manifestantes também sugeriram que alguns dos policiais foram mortos por seus próprios colegas, por terem se recusado a atirar nos manifestantes.

"Eles estão seguindo o cenário argelino, usando ataques armados para classificar os protestos como "terroristas" e justificar a repressão", disse um representante da oposição que pediu anonimato.

Ao mesmo tempo, por trás das manobras de propaganda e medidas de segurança, Assad não parece reconhecer que enfrenta um problema interno genuíno com demandas por mudança e reformas.

Apesar de a medida ter sido em grande parte cosmética, ele demitiu o gabinete e um novo governo foi anunciado recentemente.






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