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Segunda - 24 de Janeiro de 2011 às 07:39

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A Polícia Judiciária Civil tem avançado nas investigações de uma modalidade de crime que aterroriza cidades do interior e exige resposta da Segurança Pública. No total, 68 pessoas sãoinvestigadas pela Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), nos roubos a banco conhecidos por “Novo Cangaço”. Dos indiciados, 57 pessoas foram presas e outras estão com ordem de prisão decretada. 

Na última semana, a Polícia Civil desarticulou uma quadrilha estabelecida na Grande Cuiabá, responsável por pelo menos três assaltos em agências do interior. Dez integrantes foram presos na operação “Lacraia”.

Em Mato Grosso, a Polícia Civil registrou 25 roubos do tipo “novo cangaço”, desde o ano de 1998. A expressão é usada para classificar os crimes praticados por quadrilhas que assaltam bancos em cidades pequenas. O nome remete a ação de bandos armados que no século passado atacavam, saqueavam e espalhavam terror no agreste pernambucano, conhecido como cangaceiros, liderados por Virgulino Ferreira da Silva, o lendário Lampião.

O fenômeno “novo cangaço” começou na década de 90, no nordeste brasileiro, e foi migrando para outras regiões como o Centro-Oeste. Durante a ação criminosa, os bandidos sitiam a cidade e usam cidadãos como escudo humano. “O que eles têm de vantagem é o que há de mais precioso, a vida de pessoas. Então fica difícil combater naquele momento”, analisa o delegado Luciano Inácio da Silva, chefe da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), da Polícia Civil.

Na Região Centro-Oeste, o modelo criminoso foi inaugurado por Antônio Ricarte Viana que, em razão de seu “modus operandi” era chamado de Virgulino. Ele atuou muito ao lado do comparsa Rubens Ramalho da Silva. A sua quadrilha foi responsável pelas ações vistas em Rondonópolis (1998) e Sinop (2000). Ricarte foi morto pela polícia do Pará e Ramalho ainda está na ativa.

No Estado de Mato Grosso, o primeiro registro aconteceu em Rondonópolis, no dia 8 de junho de 1998, quando um uma professora foi baleada há mais de mil metros e morreu em consequência dos tiros. No período de 12 anos, três policiais militares morreram no enfrentamento e um delegado foi atingindo com um tiro de fuzil na perna.

Em 2010, dezoito agências bancárias sofreram ataques de quadrilhas, sendo 17 roubos e um furto registrados nos doze meses do ano. Cinco roubos foram praticados dentro do “novo cangaço”, todas agências do Banco do Brasil. São elas: Canarana (05.01.2001), Aripuanã (03.03.2010), Nova Mutum (02.07.2010), Campo Novo do Parecis (02.12.2010) e Denise (07.12.2010).

O delegado Luciano Inácio explica que bandidos tradicionais passaram a ter acesso a armamentos de guerra como fuzis de calibres 556, 223 e 762 e com isso crescido os crimes.

Durante a ação, funcionários e familiares são rendidos. “Eles agem espalhando terror, de forma surpresa, inibindo a ação do Estado. Depois fogem levando reféns, ateam fogo em carros criando obstáculo para a polícia”, ressalta Inácio.

 De acordo com Inácio, depois dos assaltos os bandidos se refugiam na mata e por lá ficam por cerca de dez dias, tempo necessário para cerco policial ser desmontado. Eles sobrevivem de comida pré-preparada (rapadura, farinha e farofa). “Os cangaceiros modernos diferem daqueles do passado, pois atuam camuflados por vestuários especiais (jaquetas, luvas e balas-clava), apenas olhos e bocas ficam expostos”, explica. “Passado o período retornam com segurança às suas cidades de origem, onde gastam o dinheiro auferido como o crime e tramam novas empreitadas”, completa o delegado.

Mato Grosso não é o único Esado a sofrer ataques de quadrilhas fortemente armadas especializadas em roubo a banco. Estados do Pará, Tocantins, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Acre, Paraná também enfrentam o problema. O que os estados têm em comum são municípios distantes dos grandes polos, o que evita reforço policial rápido, e, sobretudo, economia em alta. Mas nem sempre foi assim, bandidos já desafiaram a polícia em assaltos a cidades com maior contingente policial como Rondonópolis e Sinop.

Planejamento rigoroso e ousadia também são componentes comuns em crimes do gênero. Outra semelhança é que a maioria dos criminosos, embora seja de outras regiões, atuou com a ajuda de informantes locais. Outro ponto característico é que um integrante da quadrilha faz todo o levantamento necessário para a arquitetura do plano, repassando informações estratégicas, como o efetivo de policiais do município, alvos e rotas de fuga. O encarregado dessa função normalmente é uma pessoa da região.

O trabalho investigativo exige paciência e persistência da polícia. São investigações demoradas porque as quadrilhas atuam em vários estados brasileiros. O trabalho para identificar os membros começa com a perícia de vestígios recolhidos no local, que são confrontados com os de outros crimes. Um banco de dados com fotografias e históricos de assaltantes de várias partes do Brasil também contribuem para cruzamento de informações. Outro ponto é a comunicação com as polícias civis dos estados e o uso de tecnologias de inteligência.

Um dos fatores que dificultam as investigações é a habilidade dos criminosos em se esconderem por detrás de inúmeras identidades falsas.

“Todos os estados estão se preparando para enfrentar esse tipo de quadrilha. Acho que Mato Grosso está muito bem. Não é a primeira quadrilha presa, de forma que a resposta tem tido”, disse o delegado Luciano Inácio.






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