Cenho franzido, mão na nuca. Antonio Carlos Rodrigues, 48, nem precisaria abrir a boca para revelar seu espanto com a notícia de que um Palio 2009 novinho, flex, modelo 2010, com só 2.134 km de vida, havia sido reprovado na inspeção veicular.

"É esquisito demais, não?", dizia Rodrigues, na função de motorista da empresa dona do automóvel. Menos de 15 minutos antes, Joaquim Carlos Canário, 63, comemorava a aprovação "de primeira" de seu Escort 1989, 91 mil km rodados.

As cenas da quinta passada, num posto de inspeção da zona norte paulistana, não são raras nas vistorias de emissão de poluentes da Controlar, que faz o teste, informa a reportagem publicada neste domingo na na Folha.

O presidente da empresa admite receber reclamações diariamente por conta de veículos seminovos reprovados. Mesmo não sendo maioria, são os casos que causam mais bate-boca nas vistorias.

"Meu carro, um Honda Fit 2008, com 20 mil km, tinha acabado de sair da revisão. Foi reprovado. Na minha frente, um carro com pneus carecas e porta que nem fechava foi aprovado. Tive um verdadeiro chilique", afirma Marilda Barone Marques, 57.

Motivos

Falta de manutenção adequada, gasolina adulterada e pouco uso do carro são alguns dos fatores que explicam algumas reprovações.

"O motorista que roda pouco faz um uso considerado severo do carro, que requer manutenção mais frequente", diz Felício Félix, analista técnico do Cesvi Brasil (Centro de Experimentação e Segurança Viária).

Uma situação que contribui para alguns resultados aparentemente esdrúxulos é que a tolerância dos testes é menor para os carros novos.

O limite de emissão de CO em marcha lenta de um automóvel a gasolina até 1979 é de 6%, contra 0,3% para um fabricado a partir de 2006.

Na prática, significa que um veículo seminovo pode ser reprovado mesmo poluindo quase um vigésimo de um antigo aprovado.