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Internacional
Terça - 18 de Maio de 2010 às 06:31

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O acordo Brasil/Irã/Turquia não tem valor jurídico, não resolve o contencioso nuclear em torno do Irã, mas é um passo à frente, que pode ser importante na dependência dos próximos movimentos. Na verdade, o que se construiu na capital iraniana domingo e segunda-feira foi "um instrumento de criação de confiança", como diz o ministro Celso Amorim.

Instrumento que, por enquanto, tem apenas uma perna: a confiança que o Irã depositou em Brasil e Turquia. Falta que a comunidade internacional confie no Irã. Ontem, as respostas foram, no mínimo, céticas.

O Brasil apostou na reconstrução da confiança por um motivo simples: nas muitíssimas conversas que o chanceler Celso Amorim manteve nos últimos meses com autoridades de todos os países envolvidos no contencioso, ficou claro que se chegara ao ponto da paranoia de parte a parte.

Os iranianos diziam que não podiam entregar seu urânio pobremente enriquecido para outro país para depois receber de volta urânio enriquecido porque não pretendiam alienar propriedade nacional sem garantias de receber de volta o material já pronto para uso medicinal.

A solução que permitiu o acordo foi a de entregar urânio a um país amigo (no caso a Turquia), em vez de fazê-lo à França ou a Rússia, como foi originalmente proposto pela Agência Internacional de Energia Atômica. Mais: o urânio continuará de propriedade do Irã até que receba o material já enriquecido.

"Os iranianos perceberam que não estávamos lá [Brasil e Turquia] para satanizá-los", como diz Marco Aurélio Garcia, o assessor diplomático do presidente Lula.

Amorim vê na libertação da francesa Clotilde Reiss, no mesmo dia em que se fazia o acordo, um sinal adicional de que a "criação de confiança" está se fazendo concretamente. Só o tempo dirá se é assim mesmo ou se Clotilde foi liberada em troca da soltura pela França de Ali Vakili Rad, ex-agente secreto iraniano condenado por assassinato em 1991. Rad foi libertado ontem.

Agora, o governo brasileiro vai se dedicar intensamente à construção da outra perna do processo: convencer os países ocidentais a pelo menos refletir sobre o acordo, em vez de manter a urgência em aprovar sanções. Não será fácil, mas é indispensável: "Os dois lados têm que dialogar de boa-fé", como diz Amorim.

Para a diplomacia brasileira, o problema iraniano vai muito além do próprio país. Diz respeito a todo o chamado Oriente Médio ampliado. Sem que haja um mínimo de confiança (mais que isso é pedir demasiado) entre o Irã e as potências ocidentais, todo o quebra-cabeças do Oriente Médio é insolúvel. Mesmo que a construção da confiança não termine, para a diplomacia brasileira e para o presidente Lula foi um inegável êxito.

O chanceler francês, Bernard Kouchner, elogiou a movimentação brasileira, embora se negasse ontem a comentar o pacote, alegando falta de informações. O presidente russo, Dmitri Medvedev, considerou "uma vitória pessoal" do presidente brasileiro o acordo de Teerã (Lula gentilmente retribuiu dizendo que usara muitos dos argumentos ouvidos do russo nas suas conversas com os iranianos). Até a Casa Branca, a mais desconfiada, reconheceu "os esforços desenvolvidos por Brasil e Turquia".

Mesmo os mais céticos e críticos em relação ao Irã não condenaram a atuação turco-brasileira. Tanto que o Brasil já está se candidatando a ser parte na nova fase de negociação para tentar levar adiante o processo de construção de confiança.






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