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Cultura
Quarta - 12 de Maio de 2010 às 15:01
Por: Aluísio Azevedo

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“Viola-de-cocho: Madeira macia, escavada e entalhada em formato de viola. Alaúde fantástico que vibra cordas de tucum, tripa, ou linha de pesca. Resposta do bravo mato-grossense às demandas profundas do Espírito”. Os versos acima são do poema “Viola-de-cocho”, de Habel dy Anjos. E é com a viola-de-cocho, um dos símbolos máximos da cultura mato-grossense, que ele quer “hermanar” os povos latino-americanos.

Músico e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Habel encontrou no instrumento legitimamente nacional, uma maneira sutil e harmonizada em notas musicais e sons, de buscar e enviar uma mensagem de paz entre os povos. Habel transcreveu 13 hinos de países sul-americanos para o som da viola-de-cocho e agora lança o CD “Latinidade em Viola-de-cocho”, como resultado deste trabalho.

“Como artista estou pedindo para nos unirmos. É hora da reunificação dos povos latino-americanos. Se existe enfermidade na política, que não consegue fazer essa integração, então, vamos fazer com Arte, que emana bálsamos ao espírito e aos povos”, enfatiza o músico.

O lançamento da obra, que levou cerca de 20 meses para concluir e tem mil cópias, será na próxima quinta-feira (13.05), às 18h, na 13ª Brigada de Infantaria Motorizada, localizada à Avenida Historiador Rubens de Mendonça, Nº 5001, no CPA. Também na ocasião, poderá ser vista uma exposição com telas da artista plástica Rita Rezende e artesanatos (cerâmica e indígenas) do grupo Arcobaleno. Todas as obras estão relacionadas com a Viola-de-cocho.

Habel observa que se inspirou em Han Sebastian Bach para buscar métodos de transcrição dos Hinos, que geralmente são compostos para serem executados por bandas, fanfarras ou orquestras, adaptando-os à Viola-de-cocho. O músico acredita que “a súmula de um povo está em seu Hino” e esse respeito do artista em agregar a originalidade da obra é fundamental.

Habel afirma que transcreveu algumas partes dos recheios dos hinos, adequando-os à viola-de-cocho, mas manteve na íntegra a melodia original. “O Bach fazia transcrições de quatro vozes (quartetos) para ‘Órgãos’, de igrejas, adaptando-os para serem tocados por um único instrumento. Da mesma forma, busquei transcrever os hinos, geralmente tocados por vários instrumentos, para a viola-de-cocho, que possui apenas cinco cordas”, ressalta.

Trajetória

É claro que o CD é composto pelo hino brasileiro (Faixa 3), primeiro trabalho transcrito por Habel para a viola-de-cocho, ainda no ano de 1993.

“A primeira pessoa sugerir uma transcrição do Hino Nacional Brasileiro adaptado à viola-de-cocho foi a então reitora da UFMT, professora Luzia Guimarães. A Universidade recebeu a visita de Murilo Hingel e os funcionários estavam em greve. Ela me pediu para tocar o Hino Brasileiro na solenidade, que ocorreu no teatro da UFMT. A partir daí, uma grande amiga, Alcimar Moretti, sempre me pedia para tocar em outras solenidades. Os precursores foram os hinos de Portugal e França”, comenta Habel.

O músico acrescenta que a ideia de gravar o CD com hinos de países sul-americanos veio somente em 2006, com a criação da Literamérica, por meio de uma conversa com o presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, João Carlos Vicente Ferreira.

Conforme aponta ele, “o pioneiro trabalho” feito por Habel é “explicável por seu desejo de ver concretizado fatores relacionados com a autoconsciência integrativa ibero-americana, marcando a identidade cultural de nosso povo”. E a arte “é, sem sombra de dúvida, a forma mais leve de se obter os melhores resultados para os esforços integracionistas da América luso-espanhola”.

Além do Brasil, o CD reúne outros 12 hinos nacionais tocados em viola-de-cocho. Seguindo a ordem de faixas: Argentina; Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela.

“Chegou a hora de nos unirmos como na Europa, estabelecendo livre trânsito entre países latino-americanos. Todos somos de uma única espécie. As fronteiras são mais do ponto de vista psicológico. Os bichos não sabem se são do pantanal mato-grossense, do sul mato-grossense ou do boliviano. Com os povos deveria ser assim. Não temos raças humanas, mas várias etnias. O dia em que os seres humanos enxergarem isso, vamos viver bem melhor”.

Para Habel, a obra é uma maneira de reforçar os laços e convívios com as nações vizinhas. O professor da UFMT salienta que música e arte são as melhores formas de união dos povos. Porém, essa união, somente “se concretiza, a partir do momento em que as pessoas aceitaram as diferenças”.

“A união das coisas, quem dá é a diferença. É assim com as palavras. Cinco vogais ‘a’ não são capazes de construir uma palavra. Uma palavra só se constrói com letras e vogais diferentes. Assim é com a música, que possui sete notas musicais, as quais se harmonizam para a construção do arranjo e melodia”, salienta o artista, ao lembrar ainda que o lançamento da obra vem a calhar com a proximidade da Copa de 2014, quando o Brasil sediará o Mundial de Futebol e Cuiabá será uma das subsedes a receber os jogos.

São parceiros da obra: Exército Brasileiro, por meio da 13ª e 44ª Infantarias; Secretaria de Estado de Cultura de Mato Grosso (SEC/MT), Governo do Estado de Mato Grosso; UFMT; e Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso. Para finalizar a reportagem, o restante do poema Viola-de-cocho, de Habel: “O cocho-viola de Mato Grosso não é somente um instrumento musical. É a prova real da essencialidade artística dos seres humanos. Viola-de-cocho: patrimônio cultural da humanidade”.

Outras informações pelo telefone (65) 9988-5603 ou pelo e-mail: violadecochoproducoes@gmail.com.






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