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Domingo - 28 de Março de 2010 às 07:58
Por: Jean Campos

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Nome: Blairo Borges Maggi
Idade: 53 anos
Naturalidade: São Miguel do Iguaçu (PR)
Casado: com Terezinha Maggi
Filhos: Ticiane, André e Belisa
Formação: Engenheiro agrônomo, formado pela Universidade Federal do Paraná

Encaixotar as lembranças recebidas durante as andanças pelo Estado, tirar da parede o porta-retrato de seu pai, André Maggi, e recolher outros objetos pessoais que personalizaram seu local de trabalho durante sete anos e três meses é algo que não incomoda o governador Blairo Maggi (PR).

Após cumprir dois mandatos, ele se prepara para deixar, nesta terça-feira, o Palácio Paiaguás. Durante esta entrevista foi possível observar um dos maiores traços de sua gestão, o perfil sistêmico. Documentos já estavam encaixotados, a agenda para abril já está programada, tudo pensado com antecedência. Com a serenidade de alguém que encara a renúncia do cargo como mais uma conquista, Maggi se considera pronto para um novo desafio: se eleger senador da República.

Ele revelou que o pior momento de sua gestão foi a deflagração da Operação Curupira, da Polícia Federal, em 2005, que chegou a prender o então secretário de Meio Ambiente, Moacir Pires, acusado de participação em esquema de corrupção. “Tive que fazer o enfrentamento e, efetivamente, provar que aquela não era a intenção do Estado”, afirmou Maggi, que também revelou que cogitou deixar a política na ocasião de sua reeleição. Consciente dos contornos do cenário regional, o republicano admite que “essa não será uma eleição fácil” e que, “provavelmente, haverá segundo turno”. Apesar de defender a candidatura de Silval Barbosa (PMDB), Blairo Maggi admitiu que, na corrida eleitoral, o peemedebista pode perder votos para o ex-republicano Mauro Mendes (PSB), que ainda tem imagem associada à sua.



Diário de Cuiabá - Se alguém lhe propuser uma comparação entre os governos Dante de Oliveira e Blairo Maggi, quais argumentos o senhor usaria para defender sua administração?

Blairo Maggi - Primeiro, eu não gostaria de fazer tal comparação porque são governos diferentes que aconteceram em períodos diferentes. Pra resumir, eu diria que o meu governo se preocupou com duas áreas que, realmente, acredito que devem ser focadas pelo governo. Na área de fazer, o externo, que são os atendimentos nas áreas de saúde, educação, segurança pública, enfim, nas áreas finalísticas do Estado acopladas com a infraestrutura. Acho que nessas áreas nós avançamos bastante até porque, como eu já disse várias vezes, nós temos mais recursos hoje do que no passado. Na parte interna de governo, eu quero crer que fomos muito bem porque conseguimos fazer, a partir de 2003, com que o Estado se preocupasse mais com a questão dos controles internos. Saber exatamente como é que os recursos estão sendo aplicados, como estão sendo feitos os gastos e como é que está a qualidade desses gastos. Saber, por exemplo, se o combustível que estamos consumindo está efetivamente sendo usado para atendimento do público a qual ele se destina. Antes, não tinha esse controle. Acho que esses avanços quase não aparecem, mas seu resultado acaba melhorando a prestação dos serviços ao cidadão.

Diário - Qual foi a maior conquista de seu governo?

Maggi - Eu não gostaria de destacar uma conquista. Eu penso que quando as pessoas avaliam um final de governo não o fazem separadamente porque todas as áreas são importantes. Acho que o governo tem que ser um todo, passando desde a Cultura, Turismo, Esporte. Tem que ter avanços em todas as áreas. Não dá pra ter Governo com uma única visão. O governo tem que ser amplo e acho que o meu governo avançou como um todo.



Diário - O senhor conseguiu mudar sua imagem em relação ao meio ambiente. De vilão, o senhor passou a ser aliado dos ambientalistas. Quando decidiu investir na preservação ambiental?

Maggi - Quando cheguei ao governo eu já vinha da minha empresa. Lá, tínhamos a preocupação com a mudança de perfil, de comportamento, e de olhar para o futuro. Como tínhamos muito contato com o Banco Mundial, com o IFC e outras corporações internacionais, já sentíamos a pressão que estava vindo. Os procedimentos deveriam ser diferentes e as condutas também. Quando saí do Grupo André Maggi deixamos uma nova tônica de produzir de forma sustentável. Quando cheguei ao governo, cheguei num momento que o desmatamento estava muito acelerado. Os índices de 2003, referentes a 2002, chegavam a mais de 11 mil km² de desmatamento. Depois, o índice aumentou. Já em 2003, começamos fazer estas mudanças, conversar com as Ong’s, tentar fazer com que eles compreendessem o que estava passando em Mato Grosso, que eles pudessem não só nos criticar, mas nos ajudar também. E essa mudança ocorreu. Conversando com os segmentos produtivos do Estado, começamos a mostrar que, se não estivéssemos nessa direção, estaríamos fadados ao insucesso no futuro. Essa mudança de comportamento do Estado não foi a mudança do governador. Eu já tinha mudado antes.

Diário - O senhor ficou satisfeito?

Maggi - Fiquei muito satisfeito. Se considerarmos que chegamos acima de 11 mil km² de desmatamento para, hoje, estar batendo números de 2009, de 1.300 km², houve 90% de redução de desmatamento.

Diário - Se dependesse apenas de sua vontade pessoal, independente de quem vença a eleição deste ano, o senhor estaria disposto a disputar o governo em 2014?

Maggi - Não tenho esta pretensão agora. E nem para o futuro espero ter também. Até hoje, nunca voltei à função que já desempenhei. Na minha empresa, associações, entidades em que participei procurei mudar os estatutos para que tivesse só uma reeleição. Acredito muito em “sangue novo”, pessoas com novas idéias. Se bem que do futuro ninguém sabe. Mas não é a minha pretensão.



Diário - Quem vê fotografias do Maggi de 2002 e de 2010 percebe mudanças na fisionomia e um punhado de cabelos brancos a mais. Ser governador foi algo mais cansativo do que o senhor esperava?

Maggi - Mudança é natural. Mas, realmente, ser governador é uma tarefa muito cansativa. Não há dúvida que essa tarefa acaba fazendo com que passamos a ter alguns cabelos brancos, não só pela idade, mas pela função também. Nem sempre agente consegue atingir todos os objetivos. São muitas alegrias, mas também são muitas decepções.



Diário - Se for eleito senador, o senhor ficará nada menos que 16 anos ocupando cargos públicos. Como o senhor se enxerga no futuro: como político ou empresário?

Maggi - Isso foi uma coisa que me fez pensar muito há alguns anos atrás. Se eu for eleito senador, serão mais oito anos na política. A chance para uma pessoa que estará com mais de 60 anos, de voltar para a iniciativa privada e ser realmente produtiva, é muito pequena. Felizmente, não preciso disputar nenhuma vaga de trabalho na minha empresa. Mas, de fato, a decisão que tomo de disputar ao Senado, me tira por mais um bom tempo, um longo tempo, da atividade privada.



Diário - O fantasma de que governador de Mato Grosso não se elege senador após dois mandatos o preocupa?

Maggi - Não. Acho que cada eleição é uma eleição. Uma hora isso terá que ser quebrado. Não tenho medo. Vou disputar como se não tivesse nenhum voto, buscando apoio para minha eleição ao Senado Federal.

Diário - Aliás, tem alguma coisa que o preocupa nessa saída de governo?

Maggi - Não. O Estado está com as contas em dia, crescendo, se desenvolvendo. A pesquisa divulgada recentemente no Diário mostra que a população está satisfeita com minha gestão. Por esta pesquisa eu consigo responder a sua pergunta.

Diário - Mato Grosso vem crescendo consideravelmente nos últimos anos. O senhor acredita que uma vitória da oposição barraria esse desenvolvimento?

Maggi - Não. Independente de quem vencer as eleições, por mais diferente que sejam os discursos, a administração deve seguir alguns requisitos. Os nossos orçamentos, por exemplo, são discutidos na Assembleia Legislativa. Não tem muita margem de manobra que permita grandes mudanças na questão da aplicação dos recursos do Estado. Outra questão é que as políticas de incentivos e de atração de novos empreendimentos devem continuar independente de quem chegar aqui. As disputas para atrair novos investimentos são muito grandes. Por mais diferente que seja o discurso, os procedimentos não serão diferentes.



Diário - Qual foi o momento mais difícil de seu governo nestes sete anos?

Maggi – O momento mais difícil foi ligado à questão ambiental. A Operação Curupira expôs muito o Estado e a minha pessoa também. Tive que me dedicar muito e contar com companheiros valorosos que vieram para o governo naquele momento. Tive que fazer o enfrentamento e efetivamente provar que aquela não era a intenção do Estado. Mostramos que Mato Grosso estava trilhando por um novo caminho. Esse foi, com toda certeza, o momento mais difícil.

Diário - Houve algo que o senhor queria ter feito em seu governo, mas não conseguiu?

Maggi - Especificamente não. Mas, em todas as áreas eu queria ter feito mais. Queria ter feito mais estradas, mais escolas, ter colocado ar-condicionado em todas as escolas, queria ter feito mais hospitais regionais. Mas, somos limitados pelo orçamento. E esse orçamento é limitado ao tamanho da economia do Estado. Todos nós, mato-grossenses, aqui vivemos, aqui trabalhamos e geramos impostos. E é com isso que trabalhamos. Querer é uma coisa e poder é outra.

Diário - O senhor desanimou em algum momento?

Maggi - Não. Temos nossos altos e baixos. Por exemplo, após minha reeleição, eu brinco que tive depressão pós-parto (risos). Logo depois das eleições, eu me questionei muito se deveria ter disputado o segundo mandato porque sempre fui muito contra a reeleição. Pessoalmente, pensei, várias vezes em não disputar e acabei, de certa forma, tendo que disputar o pleito. Pensei comigo: ganhei, agora vou ter que começar tudo de novo. Tive que reunir as forças, ir pra cima, e terminar o governo bem acelerado como estou terminando hoje.

Diário - Desde que assumiu o governo o senhor adotou um discurso técnico. Aprendeu a ser político?

Maggi - Eu digo sempre que o duro é ganhar dinheiro, fazer política é fácil (risos). A política é assim: requer que você dê atenção, que mais ouça do que fale, e que sempre tome decisões maduras. Sempre que você tomar uma decisão intempestiva, na emoção, a chance de errar é bastante grande. Como eu tenho essa característica, de sempre ouvir bastante, isso me dá uma certa vantagem de, talvez, errar menos.



Diário - O senhor teme críticas dirigidas a algum setor específico, após sua saída?

Maggi - As críticas vão ocorrer, não há dúvida nenhuma. Como eu disse anteriormente, sempre estará faltando alguma coisa. E é óbvio que a oposição vai tentar maximizar os problemas e os defeitos enquanto a situação tem que exaltar isso. Faz parte do jogo político e não há problema nenhum. Mas eu vou sempre defender o meu ponto de vista de que, dentro daquela realidade, dentro daquele determinado momento, é o que podíamos fazer. Assim como eu compreendo que nos governos que me antecederam tinham outra realidade e outras oportunidades de fazer as coisas também.



Diário - O senhor aposta na vitória de Silval Barbosa?

Maggi - Eu creio que o Silval tem todas as possibilidades de vencer as eleições. Dos outros candidatos, ele é o único que está no comando, estará governador. Ele tem a grande chance de, neste período, mostrar à sociedade qual o seu comportamento, suas atitudes, como é o seu dia-a-dia. Isso dá a ele a chance maior, como também pode levá-lo a um prejuízo maior. Ele está na vitrine para ser bem avaliado, ou ser mal-avaliado. Agora, os três candidatos declarados são candidatos com bom potencial, conhecem política, todos já disputaram eleição e conhecem as artimanhas da política. Não vai ser um pleito fácil. Acho que, pela primeira vez, teremos um segundo turno nas eleições para governador de Mato Grosso.





Diário - O Silval é o candidato da continuidade. O senhor acredita que ele tem o mesmo perfil que o seu?

Maggi - Eu não gostaria de dizer o governador da continuidade porque nunca é. Quem sentar nesta cadeira tem que ter vontade própria, luz própria e determinação própria. O rumo que Mato Grosso está tomando deve ser mantido, mas o dia-a-dia pode ser alterado. E vai ser alterado porque todos nós pensamos diferente. Até acho que se o Silval for eleito, ele tem que fazer uma reformulação geral no Governo, como fiz do primeiro mandato para o segundo. Isso faz bem para o Estado. Quando trazemos gente nova, há uma oxigenação. Um novo ânimo.



Diário - Muitas pessoas ainda associam a imagem do empresário Mauro Mendes (PSB) à sua. O senhor acredita que, em decorrência dessa comparação, alguns votos podem recair ao Mauro, ao invés do Silval?

Maggi - É possível. O Mauro veio para a política pelas minhas mãos, na disputa eleitoral em Cuiabá. Hoje defendo uma candidatura, que é a do vice-governador Silval. Vou defender com muita vontade. Agora, a população vai fazer seu veredicto, seu julgamento, ouvindo as propostas de cada um. Por isso eu digo que o Silval terá uma grande chance, neste momento que ficará no Governo, de mostrar qual o seu perfil. Ele realmente tem um perfil mais político, já foi deputado por duas vezes. Cabe a ele mostrar que o período em que passou conosco no governo, deu a ele o conhecimento de governo, uma orientação. Agora, todos nós somos reféns, vítimas, dos nossos atos de hoje no futuro.






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