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Copa 2014
Sábado - 27 de Julho de 2013 às 17:14

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As Copas e a reordenação do espaço e das economias urbanas foram os temas sugeridos para uma concorrida conferência realizada na UFPE, na última quarta-feira, durante o encontro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O debate não chegou a criar uma unanimidade, mas mostrou que a comunidade acadêmica está atenta e se preocupa com os gastos/investimentos que vêm sendo realizados pelo poder público e com os protestos ocorridos em todo o Brasil durante a Copa das Confederações.


 
“As pessoas se surpreenderam com essas manifestações, mas para quem está acompanhando as discussões (acadêmicas) sobre futebol de certa forma não foi surpresa”, opinou a professora da UFSC, Carmen Rial, em rápida fala que iniciou o debate. Além dela, participaram da mesa os professores Russel Parry Scott (UFPE), Arlei Sander Dalmo (UFRGS) e o especialista em torcidas organizadas Eduardo Araripe Souza (UFPE), que trabalhou na equipe de segurança que montou a operação da Copa das Confederações em Pernambuco.


 
Em Porto Alegre, Arlei Sander Dalmo desenvolve pesquisa em que estuda “Questões da economia moral – o legado intangível da Copa 2014”. O professor fez questão de discutir como nos referimos ao “time da CBF”, considerado um símbolo nacional e laico, apesar de ter como organizador uma entidade privada, e também de fazer a diferença entre a utilização das palavras investimento e gasto quando nos referimos às obras da Copa do Mundo.


 
Ele lembrou também que a organização da Copa do Mundo é de responsabilidade do Estado, ao contrário da Seleção Brasileira. Após considerar que o debate nas manifestações não era primordialmente sobre a quantidade de gastos e sim sobre a legitimidade, Arlei pontuou que “o principal legado (da Copa do Mundo) pode ser o debate sobre os gastos públicos. Não sei se em outro momento chegou a ser tão ampla, acessível e disseminada nas camadas mais simples da nossa população essa discussão”.


 
Eduardo Araripe de Souza mostrou alguns números e disse que a “Fifa consegue girar em torno de U$ 300 bilhões” em um Mundial. Ele fez questão de explicar que colocou a palavra investimento no texto, mas como um pesquisador também está atento aos gastos públicos nos torneios internacionais e problematizou ao lembrar que em Paudalho e Carpina “famílias foram removidas e não receberam ainda suas indenizações”.


 
O antropólogo Russel Parry Scott iniciou sua fala comparando seus estudos sobre a Arena Pernambuco com os desenvolvidos anteriormente em cidades afetadas por grandes obras para construção das hidrelétricas à beira do Rio São Francisco, como Rodelas e Petrolandia. Para ele, sempre é possível encontrar alguns números para dizer que muitas pessoas estão sendo beneficiadas por uma mega-construção, mas é importante fiscalizar e analisar as “ações mitigadoras” e os efeitos causados nas populações locais.


 
​Ele citou uma série de táticas que já foram utilizadas no Brasil para evitar a reação das populações prejudicadas por grandes obras: desmoralização da população local, metamoforse institucional, abandono planejado e incorporação burocrática (contratação de lideranças populares para funções públicas ou privadas). Especificamente em relação à Arena Pernambuco, criticou o fato de ter se criado “a ilusão de um vazio anterior”, já que a construção no município de São Lourenço da Mata causou mais de 330 desapropriações e as obras viárias causam remoções também em comunidades como Cosme e Damião, São Francisco e Timbi.


 
O debate com os presentes ficou dividido entre opiniões que seguiam a linha da mesa de analisar os gastos públicos com cuidado e pesquisadora que fez questão de lembrar que os investimentos também podem ser olhados por uma ótica positiva, mas fez questão de lembrar que a área da Arena Pernambuco era Zeis no Plano Diretor de 2006 e passou a ser área de expansão urbana após mudança na legislação e que a Secretaria Extraordinária da Copa será extinta logo após a Copa do Mundo. Apesar das diferentes visões expostas no debate, ficou evidente que a comunidade acadêmica tem muito a oferecer ao jornalismo esportivo brasileiro até o fim do Mundial de 2014 e também no pós-copa.





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