Falta de integração em políticas públicas dificulta combate ao crack
Para recuperar os usuários de crack é preciso oferecer alternativas ao prazer gerado pelo uso da droga. A opinião é do articulador nacional da Central Única de Favelas (Cufa), Preto Zezé, para quem essa é uma questão que deve ser levada em consideração, principalmente quando se trata de pessoas carentes.
“Vamos tirar o crack do morador de rua. Você vai chegar nele e dizer: o crack está te matando, e o cara gozando”, ironizou durante debate no 4º Encontro Anual do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Sem perspectivas, o usuário dificilmente abandonará a droga, ressaltou o coordenador do Conselho Municipal de Políticas Públicas de São Paulo (Comuda), Luís Alberto de Oliveira. “Se eu não der uma perspectiva de saúde, de qualidade de vida para essas pessoas, é mais fácil continuar fumando”, afirmou.
A falta de integração nas políticas públicas é outro problema apontado por Oliveira no combate ao crack. “Nós trabalhamos no varejo, em tudo, no tratamento, na prevenção, nas políticas públicas. Escolta uma coisinha aqui, outra coisinha lá. E, por uma questão até de cultura, dissociantes. Um não fala com outro, não troca ideia, não soma energia”, considerou.
Ele também destacou a falta de coerência no enfrentamento do uso abusivo de drogas. “Nós somos convidados pela televisão a usar drogas”, ressaltou, referindo-se às propagandas de bebidas alcoólicas. O álcool, lembrou o médico, abre espaço para o uso de substâncias mais pesadas. “Começamos a usar pelo álcool, e daí o álcool se torna uma droga menor e eu quero uma coisa que me dê mais embalo”.
Além de mudar a maneira de encarar o álcool, Oliveira disse que a questão das drogas não deve ser tratada como um problema para ser resolvido apenas com ações policiais. “A descriminalização [das drogas], sem dúvida, é o caminho obrigatório. A droga não é [apenas] um problema de polícia, é também um problema de polícia”.
Preto Zezé defendeu mudanças na legislação em relação aos pequenos traficantes. Segundo ele, jovens negociando pequenas quantidades de droga acabam entrando ainda mais no mundo do crime se forem para o sistema carcerário. “Ao aplicar o crime hediondo no adolescente com 14 pedras de crack, eu pergunto: nós resolvemos um problema ou criamos um muito maior?”, questionou.
Uma proposta apoiada pelo governo federal para instituir penas alternativas a pequenos traficantes foi rejeitada pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado no fim do ano passado.
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