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Meio Ambiente
Terça - 23 de Fevereiro de 2010 às 13:30
Por: Juliana Tinoco/Cristina Amorim

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São Paulo, 23 de fevereiro de 2010 – Integrantes da Comissão Internacional
da Baleia (CIB) preparam uma nova emboscada contra as baleias e golfinhos do
mundo. Um documento oficial, divulgado ontem, abre uma perigosa brecha que
permitiria a volta da caça comercial desses animais, suspensa desde 1982
para controlar a matança que ameaçava diversas espécies que habitam os
oceanos.

Hoje, representantes do Greenpeace e de outras organizações da sociedade
civil questionam o governo brasileiro, diretamente envolvido na formulação
desse documento. A reunião acontece às 15h30 com o ministro FábioVaz
Pitaluga, representante do país na CIB, no Itamaraty.

“O Brasil perdeu pró-atividade nesse debate nos últimos dois anos. Não houve
nenhuma articulação diplomática ou qualquer cobrança do governo para
fortalecer a proteção dos cetáceos”, diz Leandra Gonçalves, coordenadora da
campanha de Oceanos do Greenpeace Brasil. “Queremos saber agora qual é a
postura a ser adotada pelo país frente a essa nova declaração da CIB e se
ainda nosso país continua a ser contra a caça de baleias.”

O documento foi elaborado por um grupo de trabalho da CIB formado por 12
países, entre eles o Brasil, e retrocede a Moratória da Caça Comercial de
Baleias de 1982. O texto maquia a CIB como avançada, pois proíbe a caça para
fins científicos, desculpa usada pelo Japão para na prática caçar baleias
para consumo. A contrapartida acachapante é a liberação da caça comercial
com cotas. “O acordo beneficia claramente o Japão, pois coloca na legalidade
uma prática que eles já realizam ilegalmente”, explica Leandra. “Pior ainda:
as cotas serão propostas com justificativa duvidosa, a caça científica.”

A proposta é colocar a caça de grandes baleias sob o controle da CIB em dez
anos, período em que serão estabelecidos seus limites e cotas, assim como um
programa internacional de observação. Porém, o documento está coalhado de
buracos, pois não apresenta nenhuma sugestão de quanto essas cotas poderão
vir a ser. E a ausência, nesses casos, é a cama do Diabo.

“O texto traz uma tabela de limites de caça para cada um dos próximos dez
anos, com as cotas previstas para a Antártida sob o rótulo de ‘a ser
decidido’. O único número que deveria ser decidido é zero”, diz John
Frizell, coordenador da campanha de baleias no Greenpeace.
Contradições internas

Formada em 1946 por 15 países interessados em fortalecer a indústria
baleeira, a comissão passou a controlar a caça na década de 1980 pois, se
mantida fosse, baleias já teriam sido extintas da face da Terra. Desde
então, países com sanha caçadora, capitaneados pelo Japão, pressionam a CIB
para regredir seu pensamento em 60 anos e abdicar de suas posturas
ambientais.

Dois santuários de proteção de cetáceos foram criados, o do Oceano Índico,
em 1970, e o do Oceano Antártico, em 1994. O grupo conservacionista da CIB
hoje é composto por 42 países. Os baleeiros são 33 países e, apesar de
minoria, conseguem manter o desrespeito permanente da moratória da caça
praticada pelo Japão, que mata usando o disfarce de “fins científicos”. A
mentira foi exposta por ativistas do Greenpeace no Japão, Junichi Sato e
Toru Suzuki, que passam atualmente por um julgamento de cunho puramente
político e correm o risco de passar mais de 10 anos na cadeia.

Como são necessários ¾ dos votos para qualquer nova aprovação, o duelo de
forças dentro da comissão impede que o debate avance. Enquanto isso, há dez
anos o Japão pratica a compra de votos de países menores, com o objetivo de
ganhar força dentro da comissão. “A CIB é uma organização que vive todo ano
o mesmo impasse. Nada consegue ser aprovado. Apenas as baleias saem
 perdendo”, afirma Leandra.





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