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Economia
Terça - 05 de Janeiro de 2010 às 07:49

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As exportações brasileiras registraram em 2009 redução de 22,2% - a maior queda percentual desde 1952, quando houve diminuição de 19,8% - que totalizaram US$ 152,252 bilhões. O desempenho das vendas externas gerou o pior resultado da balança comercial dos últimos sete anos: o superávit (mais exportações que importações) ficou em US$ 24,615 bilhões, 1,4% abaixo do resultado de 2008 e o menor valor desde 2002 (US$ 13,1 bilhões).

De acordo dados divulgados segunda-feira pelo Ministério do Desenvolvimento, o resultado do ano passado marca também a terceira redução seguida no saldo da balança. Segundo economistas, a sequência de queda do superávit é resultado, principalmente, da valorização do real frente ao dólar, sem a adoção de uma política de incentivo às exportações. Em 2006, houve o melhor resultado da série, com US$ 46,45 bilhões de superávit. Depois desse pico, 2007 registrou superávit de US$ 40 bilhões e 2008 teve um saldo positivo de US$ 24,96 bilhões.

"Desde 2002, o dólar baixo é uma realidade. A taxa de câmbio atual barateia importações e encarece as exportações. Além disso, o Brasil não se vende, se deixa comprar. Não há uma política agressiva de comércio exterior, como vemos em países como a China", afirma Renato Baumann, professor de economia internacional da Universidade de Brasília e representante no Brasil da Comissão Econômica para América Latina e Caribe da ONU.

A crise financeira mundial, que atingiu duramente um de nossos principais mercados de exportações, os Estados Unidos, é apontada como um dos fatores para a queda nas vendas externas:

"Os EUA eram o nosso principal mercado, que sofreu uma queda grande no consumo. Esse reflexo foi mundial e fez com que despencassem os preços de diversos produtos. As commodities (mercadorias) foram bastante afetadas e isso refletiu no Brasil, que exporta ferro e petróleo", explicou o analista de políticas e indústria da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), Marcelo Souza Azevedo.

Com a crise financeira mundial, as importações também sofreram redução no ano passado, de 25,3% - a pior queda percentual desde 1953 (33,5%). Contudo, a rápida recuperação da economia brasileira e a queda do dólar contribuíram para a entrada de produtos importados no mercado interno e evitaram uma retração maior. Em 2009, as importações chegaram a US$ 127,637 bilhões, ante US$ 172,986 bilhões um ano antes.

"Mais importante que ter um saldo comercial muito elevado é exportar muito e importar muito. O problema é que tanto o volume de exportações quanto o de importações caíram", avalia Ernesto Lozardo, professor de economia internacional da Fundação Getúlio Vargas.

Segundo Lozardo, a participação do Brasil ainda é inexpressiva. "Representamos apenas 1,2% dos negócios internacionais desde a década de 70, enquanto a China passou de 8% (fatia do comércio exterior) para 10%".

A corrente de comércio (soma de exportações e importações), que mede o volume do comércio exterior, teve a pior redução desde o início de série histórica, em 1990: 24,5%, com US$ 279,889 bilhões em negócios no ano passado.

Vendas de automóveis sobem 16,5% em dezembro
Enquanto as exportações tiveram queda histórica no país em 2009, o mercado interno sustentou a recuperação econômica perante a crise financeira internacional. A manutenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido para carros flex (bicombustíveis) até 31 de março aqueceu mais uma vez a indústria: as vendas de carros e veículos comerciais leves novos no Brasil cresceram cerca de 16,5% em dezembro e saltaram mais de 50% em comparação ao mesmo mês de 2008, segundo fontes do setor.

No final de 2008, o desempenho das montadoras foi prejudicado pela crise global. Em meados daquele mesmo mês, o governo anunciou pela primeira vez o incentivo fiscal para o setor - medida que foi prorrogada três vezes - o que permitiu a retomada da trajetória de crescimento da indústria automotiva.

As vendas de automóveis e comerciais leves em dezembro somaram 277.966 unidades, com média diária de emplacamentos de 12.635 (nos 22 dois dias úteis do mês), conforme dados de licenciamento de carros. O número é 51,1% maior que o de dezembro de 2008.

China se torna principal foco dos produtos brasileiros
Para 2010, o resultado da balança comercial deverá ser ainda pior. Apesar das previsões de crescimento de 12% nas exportações brasileiras, para US$ 170,7 bilhões - feita pela Associação de Comércio Exterior do Brasil - as importações devem crescer cerca de 24%, por causa da taxa de câmbio e do crescimento interno, considerando uma elevação de 5% do Produto Interno Bruto (PIB). O resultado do superávit, este ano, deve ficar em 11,3 bi.

Segundo Marcelo Souza Azevedo, da CNI, a venda de produtos básicos para a China - que em 2009 se tornou o principal mercado de exportações brasileiras passando os EUA - deve sustentar uma melhora nas exportações, mas não será suficiente para se estabelecer nos níveis de 2008. As importações devem atingir os níveis pré-crise.

"Com o câmbio valorizado, a economia brasileira crescendo e, como parte dos insumos de produção são importados, deve haver crescimento das importações", afirma Azevedo. Para os economistas, no entanto, o aumento das importações pode até ser considerado positivo, caso seja de equipamentos e bens de insumo ou de outros produtos destinados a aumentar a produtividade e a competitividade dos produtos brasileiros.

"Faz parte do crescimento do país quando o aumento de importações é de máquinas e equipamentos para investir. Porque mais à frente temos aumento nas exportações de produtos com alto valor agregado. Se o aumento for apenas na importação de produtos para consumir, o efeito será negativo", afirma Renato Baumann.

Entre outras medidas para aumentar as exportações, os economistas destacaram a reformulação da política de incentivos. "É preciso agregar mais valor aos produtos exportados. Mas não basta só isso. Uma das aberrações na política de exportações é o fato de o país exportar impostos. É inconcebível tributar a exportação", afirma Ernesto Lozardo.






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