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Nacional
Segunda - 26 de Outubro de 2009 às 08:48

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"Sou drogado. Passei 20 dias numa clínica. Saí e me droguei de novo. Não sei porque matei ela", assumiu Bruno de Melo, 26 anos, neste domingo, na 5ª Delegacia de Polícia (Gomes Freire), no Rio de Janeiro, enquanto aguardava transferência para a Polinter, em São Gonçalo. O jovem viciado em crack matou por estrangulamento a namorada, Bárbara Calazans, 18 anos, na noite de sábado em um apartamento no Flamengo, zona sul do Rio de Janeiro.

Usuário de drogas desde 2003, Bruno, que passou por quatro internações nos últimos dois anos, ainda tentava entender o que havia acontecido. Mas os sinais de abstinência da droga, 24 horas depois do crime, já eram evidentes. "Não lembro como foi", completou, visivelmente trêmulo.

O viciado contou que, ao acordar, encontrou o corpo da namorada no chão da sala. Colocou um cobertor sobre ela e ligou para pai. "Fumei crack. Você não vai querer ser meu pai. Matei uma pessoa", contou ao telefone, conforme relatou o pai em depoimento. O jovem foi indiciado por homicídio e, se condenado, pode ficar 20 anos preso.

"Finalmente internei meu filho", desabafou o produtor cultural Luiz Fernando Prôa, pai de Bruno. Foi o pai o primeiro a saber do crime, em telefonema dado pelo filho, e também quem levou a polícia ao apartamento de Bruno, no Flamengo.

Luiz escreveu um emocionado desabafo. Nele relata todo seu drama nos últimos seis anos para tentar livrar o filho do vício. Abalado, resumiu a dor de perder a luta para as drogas: "Hoje vi um bom menino se transformar em assassino".

Sem tentar justificar o crime, Luiz criticou o descaso do Estado com os viciados: "Ele terá que pagar pelo que fez. Mas o Estado tem de intervir nesta questão para preservar as famílias e os inocentes. A internação compulsória para desintoxicação e reabilitação dos doentes, que já perderam todo o limite, é uma necessidade".

O Ministério da Saúde só permite a internação de dependentes químicos de forma voluntária em clínicas públicas. No Rio, só há uma clínica desse tipo.

O produtor pediu perdão à família de Bárbara, que diz ter sido ¿o anjo da guarda¿ de Bruno: "Meu filho arruinou duas famílias. Sofro mais pelos pais que estão enterrando a filha do que pelo meu próprio filho, na cadeia. Peço perdão a essa família. Me desculpem".

Bárbara foi enterrada ontem no Cemitério São João Batista, em Botafogo. Amigos da jovem disseram que ela tentava afastar Bruno do vício. "Ela morreu porque tentou tirar o Bruno das drogas. Ele tinha um teste para fazer e ela não queria que ele chegasse drogado. Mas ele não aceitou", contou Tamires Lopes, 18 anos, referindo-se a um teste para figuração em novelas da Rede Globo que fariam no fim de semana.

O laudo do Instituto Médico-Legal concluiu que Bárbara foi morta por "asfixia mecânica por esganadura". Ela cursava o Ensino Médio e queria fazer faculdade de moda.

Em todas as classes sociais Segundo a diretora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad), Maria Thereza Aquino, é cada vez maior o número de viciados em crack nas classes média e alta. "Nunca vi uma droga tão avassaladora, que atingisse todas as camadas sociais e faixas etárias", afirma ela, que defende a internação compulsória dos viciados.

O tratamento para tratar a dependência da crack dura, no mínimo, dois anos. São necessárias medicação e ajuda psicológica, além de internação. Mania de perseguição, dificuldade de conter os impulsos e perda dos valores são alguns dos efeitos da droga. "Com o crack, a pessoa perde os valores ditos civilizados", explica o psiquiatra Jorge Jaber.

Este ano, a polícia já apreendeu 200 mil pedras de crack no Rio. Com comercialização mais intensa nas favelas de Manguinhos e Jacarezinho, a droga é metade do faturamento do tráfico.



"Meu filho começou na droga pelo álcool, no colégio, esta droga legal (...) Hoje vi um bom menino se transformar num assassino, assim como aquele pai de família correto, que um dia bebe umas redondas, dirige, atropela e mata seis num ponto de ônibus. Meu filho destruiu duas famílias, a da jovem e a dele, além de a si próprio. Queria sair do vício, mas não conseguia. Eu queria interná-lo à força e não via meios. Uma jovem, a quem ele amava, queria ajudá-lo e de anjo da guarda virou vítima.

Ele irá pagar pelo que fez, será feita justiça, isso não há dúvida. O arrependimento já o assola, desde que acordou do surto do crack deu-se conta do mal que sua loucura havia lhe levado a praticar. Ele me ligou, esperou a chegada da polícia e se entregou, não fugindo do flagrante. Não passarei a mão na cabeça dele, mas não o abandonarei. Ele cumprirá sua pena de acordo com a lei, dentro da especificidade de sua condição. Infelizmente, só consegui interná-lo pela via torta da loucura, quando já não havia mais nada a fazer, num surto fatal. Este é um caso de saúde pública que virou caso de polícia.

Que a família da Bárbara possa um dia perdoar nossa família por este ato imperdoável. Chorei por meu filho 6 anos atrás. Hoje, minhas lágrimas vão para esta menina, que tentou por amor e amizade salvar uma alma, sem saber que lutava contra um exército que lucra com a proibição (que não minimiza o problema, pelo contrário, exacerba), por um bando de tecnocratas e suas teorias irreais, e para um Estado que, neste assunto, se mostra incompetente".




Fonte: O Dia

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