Desafios à lógica
O instituto da reeleição criou um grande vácuo conceitual na eleição deste ano em Mato Grosso. No Brasil, prevaleceu a lógica de que a reeleição provoca um grande desequilíbrio entre os candidatos, tornando franco favoritos os que disputam no cargo.
De acordo com dados da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), a taxa de reeleição de prefeitos brasileiros em 2008 bateu recorde, chegando à casa dos 66%, contra 58% de 2004. Os cálculos da CNM foram feitos sobre os 5.558 municípios, com base nos resultados do primeiro turno. O número pode ter aumentado com base no segundo turno.
Entre as explicações para o fenômeno, o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski (aliás, esse moço deve estar na décima reeleição seguida, porque é presidente da entidade há incontáveis anos), estão a aprovação dos gestores. “A reeleição é um voto de credibilidade para um bom gestor, é o sinal que o eleitor deseja a continuidade da administração. O eleitor deposita a confiança de que o gestor, com mais experiência, traga mais resultados para o seu município”, disse ele ao ‘Último Segundo’, em 10 de outubro.
Em Mato Grosso não prevaleceu essa lógica. Dados divulgados pela imprensa local dão conta que, dos cerca de 100 prefeitos que poderiam disputar a reeleição, menos de 70 encararam o desafio. E, destes, menos da metade logrou êxito. O que rebaixa a taxa estadual de reeleição para algo em torno de 35%, quase metade do feito nacional.
Além disso, a reeleição em Mato Grosso coloca outros pontos a serem melhor analisados. Os quatro prefeitos pior avaliados entre as grandes e médias cidades durante praticamente toda a atual gestão, segundo a maioria das pesquisas, eram Chaparral (Barra do Garças), Júlio Ladeia (Tangará da Serra), Murilo Domingos (Várzea Grande) e Ricardo Henry (Cáceres).
Conceitualmente, um prefeito que tenha mais de 60% de ruim e péssimo (casos dos quatro citados), dificilmente conseguiria reverter sua aceitação a ponto de vencer as eleições. No entanto, essa regra valeu apenas para Chaparral. Os outros três foram reeleitos. E um prefeito que tinha uma boa aceitação (mais de 55% de bom e ótimo), caso de Adilton Sachetti, não se reelegeu.
Para cada um desses cinco casos cabem explicações específicas. Há uma coincidência em duas delas, no entanto. Murilo Domingos e Júlio Ladeia contaram com o chamado “fator imponderável”.
Em Várzea Grande, não foi necessariamente Murilo que venceu. Mas, Júlio Campos que perdeu, ao fazer aquele negócio chamado de acordo com Maksuês Leite. O negócio repercutiu com uma bomba de negatividade e reprovação popular. Como Nico Baracat acabou não conseguiu capitalizar o desgaste do atual prefeito (de quem é vice) e nem do negócio de Campos-Leite, a reeleição caiu no colo de Murilo. Sei que há outras variáveis a ser melhor refletidas e analisadas. Mas, essa me parece um consenso.
Já em Tangará, a insistência de Jaime Muraro em voltar à prefeitura, mesmo tendo protagonizado uma das maiores crises políticas e institucionais da história do município, praticamente alijou a possibilidade de uma boa frente de oposição. Com a oposição rachada em várias candidaturas, e com a cassação de Muraro no meio da campanha, Ladeia, com a força da máquina – assim como Murilo -, acabou recuperando uma eleição perdida. (Continua)
(*) KLEBER LIMA é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso. E-mail: kleberlima@terra.com.br.

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