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Nacional
Quinta - 23 de Outubro de 2008 às 16:24

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O ruído que a TV Record atribuiu a um disparo de tiro antes de a PM invadir o apartamento em que a garota Eloá Pimentel era mantida refém em Santo André, na Grande São Paulo, na última sexta-feira (17), pode ter sido produzido por um microfone da própria emissora ou por uma bombinha estourada a 500 metros do local.

O material, que corrobora com a versão da polícia, foi exibido exaustivamente no último "Domingo Espetacular". No mesmo dia, o "Fantástico", da Globo, apresentou áudio que revelava exatamente o contrário, que não teria havido tiros antes da explosão da porta do apartamento, apenas depois.

Desconfiada de que fez barulho com uma "barriga" (no jargão jornalístico, informação equivocada), a Record não reprisou o material nos telejornais desta semana. Neste momento, uma equipe da emissora está em Campinas, mostrando sua gravação para o perito Ricardo Molina. A emissora já suspeita de que o suposto tiro, na verdade, foi um atrito em um microfone de espuma. Deve exibir um mea culpa no "Jornal da Record" desta noite.

No início desta tarde, antes de ouvir o material original da Record, Molina falou com a Folha. "Tenho certeza de que aquilo [áudio exibido pela Record] não é tiro", afirmou o perito. Molina foi a principal fonte da Globo na reportagem que só mostra tiros depois da explosão.

"Aquilo foi um sinal amplificado. Pode ser de qualquer coisa. Pode ser a pata de um gafanhoto raspando no microfone ou, de boa fé, pode ser uma bombinha que estourou nos quintos dos infernos e só o microfone da Record captou e eles interpretaram, erroneamente, como um disparo", disse Molina.

Para Molina, a Record não agiu corretamente ao amplificar apenas o áudio do suposto tiro, e não de todos os ruídos. "O ruído [do suposto tiro] tem mais amplitude do que a explosão", afirma.

Molina também estranhou o fato de o material da Record sofrer um corte exatamente quatro segundos após a explosão da porta. Segundo ele, foi nesse momento que começaram os tiros dentro do apartamento.

A própria Record, no domingo, se traiu. Ao exibir o áudio do suposto tiro, o apresentador Reinaldo Gottino disse que o barulho já tinha sido transmitido pela emissora, mas de forma imperceptível. "Nós estávamos ao vivo, na Record, quando aconteceu a invasão policial. Naquele momento, não era possível ouvir o disparo, mas depois, você limpando a imagem, você consegue ouvir", explicou.

Para especular que seria um "disparo de revólver de baixo calibre", como afirmou o comentarista Percival de Souza, a Record se baseou na análise de um instrutor de tiro.

Mais tarde, ao voltar ao assunto, na "Reportagem da Semana", o "Domingo Espetacular" mostrou áudio em que não se ouvia o suposto tiro.

Em nota, a Record diz que não afirmou que o áudio era de um tiro, mas que poderia ser. Eis a íntegra:

"O 'Domingo Espetacular' foi bem claro e creditou ao coronel Felix a declaração de que a Polícia Militar entrou no apartamento de Eloá somente após ouvir um disparo. Fomos claros em dizer que a perícia criminal determinaria, com precisão, o momento dos disparos.

O programa apresentou o áudio captado por uma de nossas câmeras posicionadas no local que registrou um estampido, 'um ruído seco', antes da explosão. As imagens foram apresentadas para um especialista de tiro, Walter Silva, que faria uma avaliação do ruído. O barulho poderia ser o detonador da bomba ou o disparo de uma arma de fogo?

A versão dele sobre um provável tiro foi : '''É possível que seja, parece um ruído diferente'".

Em nenhum momento o 'Domingo Espetacular', através do apresentador Reinaldo Gotino ou do comentarista de segurança Percival de Souza, afirmou ou induziu que teria sido um tiro. O jornalismo da Record, durante toda a cobertura do caso de Santo André, consultou especialistas e levantou as probabilidades do fato seguindo os princípios da transparência e da independência da informação."





Fonte: Folha Online

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