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Cultura
Domingo - 23 de Dezembro de 2007 às 18:39

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GENEBRA, 23 dez 2007 (AFP) - O mundo da dança perdeu em novembro deste ano o coreógrafo Maurice Bejart convertido ao Islã como parte de "uma jornada espiritual" que influenciou totalmente sua carreira artística.

"Converter-se é um verbo que não me convém", afirmou o artista em um livro de entrevistas chamado "Assim dançou Zaratustra" (2006).

"Encontrar-me com o Islã não me desviou um segundo de minha infância católica, não me impediu de ser um fervoroso adepto do budismo, nem me fez perder o amor por outras maravilhas do espírito. Vejo minha jornada espiritual como uma grande continuidade", costumava dizer.

Bejart foi iniciado pelo mestre sufi iraniano Nur Alí Elahi, quem ele dizia ser "o maior músico" que conheceu.

"O Islã xiita me parece muito mais místico do que o sunita", explicava.

O Islã e a espiritualidade de uma forma geral o influenciaram muito como artista.

Em 1990 criou no Cairo o balé "Piramide-El Nur", com músicas tradicionais do Islã, enquanto que em "Sobre Sherazade" misturava, em 1995, composições de Ravel e Rimsi Korsakov com músicas tradicionais iranianas.

Seu livro "O outro canto da daná" (1974) foi "profundamente inspirado" nas obras do filósofo e orientalista francês Henry Corbin (1973-1978), especialista em Islã iraniano. E os nomes de suas escolas de dança, "Mudra" e "Rudra", faziam referências a divindades indianas.

"Sempre achei que a dança estava ligada à divindade, que o sagrado se misturava ao movimento da dança, um universo trascendente que recorre ao inconsciente, diria, inclusive, às forças obscuras", insistiu este místico em seu livro de entrevistas.

O coreógrafo, que criticava o pensamento sectário, condenava o integrismo muçulmano e seus "derivados", colocando-o ao lado de outras religiões: "Inquisição espanhola ontem, integrismo muçulmano hoje, a História às vezes nos serve os mesmos pratos", dizia.

Como uma ironia do destino, um de seus balé,s dedicado ao cantor árabe Oum Kalsum, foi censurado no Líbano, em novembro de 1999, por "ofensas ao Islã". No trecho criticado, homens oram enquanto que mulheres dançam em torno deles vestidas como vestais.




Fonte: AFP

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