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Politica Brasil
Quarta - 19 de Dezembro de 2007 às 19:51
Por: ILSON FERNANDES SANCHES

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No Aurélio, o substantivo masculino é claro: lobby refere-se a um grupo de pessoas ou organização que tem como atividade profissional buscar influenciar, aberta ou veladamente, decisões do poder público em favor de determinados interesses. Um substantivo que não faz parte do dicionário do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR). Quem afirma é o próprio chefe do Executivo.

Éder Moraes, Moisés Sachetti, Augustinho Moro e, ultimamente, Rodrigo Figueiredo (quem será o padrinho deste?), são nomes cotados para ocupar o posto do ex-secretário de Fazenda, Waldir Teis, novo conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Por enquanto, apenas cotados. A decisão mesmo só será anunciada por Maggi em janeiro. Até lá, a única certeza é a de que o secretário-adjunto de Política Fiscal, Edmilson José Santos, continua como comandante interino (ou quem sabe definitivo) da pasta.

Se mantida a lógica, a pedra boa ainda é uma incógnita. Há quem comece apostar no secretário-executivo do Ministério das Cidades, Rodrigo Figueiredo. De conduta ilibada e com notório conhecimento em gestão pública, Figueiredo, como bom cuiabano, tem no seu currículo profissional e político o histórico para ser o escolhido do governador. Não faz lobby e, só por isso, já afasta todas as possibilidades de interesses não-republicanos, um dos receios de Maggi, segundo analistas palacianos.

Filho de Milton Figueiredo, que fora eleito deputado estadual por três mandatos e federal por duas vezes, entre as décadas de 1960 e 1980, Rodrigo é advogado e funcionário de carreira do Banco do Brasil. Além de dominar os trâmites fazendários e econômicos, tem trânsito livre no Palácio do Planalto e com todo o batalhão de ministros do presidente Lula.

O perfil técnico e discreto de Augustinho Moro também agrada. Já foi secretário-adjunto de Administração e secretário-adjunto da própria Sefaz. Conhece toda a equipe de gestores e o ‘modus operandi’ sistêmico do governo, da Fazenda, mas o bom desempenho de Moro como secretário de Saúde pode minar as chances de sua transferência para a Secretaria de Fazenda. Pasmem, Moro pode ser vítima da sua própria eficiência.

O presidente da Agência MT Fomento, Éder Moraes, também carrega sobre os ombros sua origem bancária e capitaliza bem o êxito alcançado até agora no processo de renegociação das dívidas do Estado com a União de quase R$ 5 bilhões com instituições financeiras. O que, segundo as mesmas fontes palacianas, não influenciaria muito a escolha de Blairo Maggi. É que, a partir de agora, o processo de renegociação é mais político do que técnico e a palavra final será do Senado Federal.

Pensando bem, se juntarmos todos os quatro evidentes para a Sefaz não equivalem ao peso de Blairo Maggi articulando sozinho junto ao Senado, que terá que mexer na LRF – Lei de Responsabilidade Fiscal.

Aí entra, também, Rodrigo Figueiredo, que tem trânsito livre entre os congressistas. Sem contar que ele lida, no Ministério das Cidades, com um orçamento infinitamente maior do que o do Governo de Mato Grosso, onde está centralizado o PAC. Uma coisa é clara: Blairo Maggi escolherá um secretário de confiança e capaz de manter sob controle um orçamento de R$ 6,8 bilhões previstos para 2008. Capacidade técnica e idoneidade moral e, sobretudo, alguém que não tenha dois discursos serão alguns dos requisitos que deverão ser observados pelo governador na definição do novo secretário de Fazenda.

O ungido poderá ser até mesmo o ex-presidente do Detran e atual assessor especial da Casa Civil, Moisés Sachetti, que goza de prestígio junto ao governador. O que pesa contra ele é o seu gênio explosivo. Apesar de ser amigo de infância do governador, Maggi não costuma misturar sentimentos pessoais com decisões políticas. Para o bom entendedor, um pingo é letra.

Na pressão - De todos os nomes possíveis, Éder Moraes é o que tem evidenciado mais apoio político. É o preferido do presidente da Assembléia Legislativa, deputado Sérgio Ricardo (PR), que já declarou publicamente o seu apoio; e do primeiro-secretário, deputado José Riva (PP), este, pela sua própria experiência trabalha nos bastidores, na surdina. É o mais reservado até o momento. Há quem aconselhe Maggi a pensar duas vezes antes de discordar de tamanha indicação política, já que atenderia a interesses da Mesa Diretora, que acabou de conduzir a aprovação em plenário do nome do ex-secretário Waldir Teis para o TCE.

Nomeando Éder para a Sefaz, Blairo estaria demonstrando sua “gratidão” para com a atual Mesa Diretora da AL. O próprio deputado Riva chegou a cancelar sua viagem à Ásia, onde acompanharia a comitiva oficial de Mato Grosso para aqui, ao lado de Sérgio Ricardo, evitar “surpresas” nas sabatinas dos novos conselheiros do Tribunal de Contas.

É lógico que tudo isso tem um preço: Éder Moraes na Sefaz. Ao lerem este texto, Sérgio e Riva poderão até recorrer à famosa “nota oficial”, ou aquelas notinhas plantadas em determinadas colunas e sites de notícias desmentindo tudo isso. É esperar pra ver.

A rede de apoio ao presidente da Agência MT Fomento não pára por aí. Éder articulou a seu favor a simpatia de várias “organizações” bancárias, de fomento mercantil, de vários deputados, vereadores e até de alguns prefeitos. Mas, de todos os apoios, o que marca mais, impressiona e também pressiona pela indicação do presidente da MT Fomento são alguns “setores localizados da mídia” que querem tê-lo, custe o que custar, com a chave do cofre do Estado. Porque será? Aliás, esses mesmos setores da mídia, que todas as semanas trazem notinhas e matérias pró-Éder, afirmando que o mesmo já está pronto para assumir, e que é hoje o executivo e também botinudo nº 1 do governo.

Se isto que é explicitado constantemente nesses “setores localizados da mídia” não for lobby, então, o que é lobby? Ou o lobby só é válido e permitindo para uma das partes? Cuidado com dois pesos e duas medidas governador. Fique esperto. Tem gente demais querendo a chave do cofre. Calma pessoal...

Pela culatra - A dúvida é a seguinte: Blairo Maggi cederia ou não às possíveis pressões em torno de Éder Moraes ou de qualquer outro nome? Estive em Brasília com um conhecido e poderoso “botinudo” ligadíssimo ao governador Maggi e membro da “República de São Miguel do Iguaçu” (PR) – cidade natal do governador – e ele me garantiu que Blairo não cederá às pressões de quem quer que seja, nem de outros poderes, de setores da mídia e muito menos do mercado financeiro, que nada tem a ver com a questão fazendária do Estado. Pelo que se sabe, Maggi não autoriza ninguém falar em seu nome nessas ocasiões. Quando os “interesses” são muitos em torno de uma mesma pessoa Maggi liga o desconfiômetro e sai fora! Com certeza, pela seriedade demonstrada pelo governador até agora, ele não vai transformar a Sefaz em “balcão de negócios”, disse-me a fonte.

Não é à toa que nem Augustinho Moro nem Moisés Sachetti, que conhecem muito bem o chefe Blairo, não abriram a boca até agora. No entanto, argumenta a fonte “iguaçurense”, todos os apoiamentos forçados podem parecer lobby e pressão em cima do governador. “E por isso mesmo, não será novidade, lá pelos fins de janeiro, se Maggi ligar a seta para a direita e, repentinamente, virar bruscamente para a esquerda”. O que vai ter de gente “dando com os burros n’água”...

Pelo quadro, não será surpresa também se o governador nomear um dos menos evidente dentre os quatro atuais postulantes. Segundo o mesmo botinudo, as regras “antilobby” valem também para as próximas mudanças que Blairo Maggi fará no staff com as saídas de Baiano Filho (Esporte e Lazer), João Carlos Ferreira (Cultura), Chico Daltro (Ciência e Tecnologia) e Alexandre Furlan (Indústria, Comércio, Minas e Energia (Sicme), dentre outras mudanças que virão por aí... Com todas as cartas nas mangas do governador, o mistério continua.

Nos Bastidores - Dizem que Maggi não gosta de opiniões contrárias às suas e, na maioria das vezes, costuma fazer sempre o contrário do que seus amigos e conselheiros sugerem. O que Maggi gosta mesmo de mostrar é o obvio, o que tudo mundo já sabe, ou seja: quem governa Mato Grosso é ele (Maggi) e mais ninguém. Uns vão além, afirmando que o governador “paga pra ver”. Tudo bem, desde que a má gestão do nomeado não gere prejuízos recaindo o débito nos cofres públicos, nada contra. É fácil pagar pra ver quando o dinheiro não sai do próprio bolso. Daí... Acho que apesar de todos os “ti-ti-ti” não se deve prejulgar a futura decisão do governador do Estado, haja vista que até hoje Blairo Maggi tem demonstrado ser um homem honesto e de bons princípios e, com certeza, não irá rasgar a sua biografia para satisfazer a “vontade voraz” de meia dúzia de desejos inconfessáveis e nada “republicanos” junto a Sefaz.

Nomes de peso não faltam. Pretensões, idem. Com todas as cartas na manga e a responsabilidade em cima de si, o governador faz mistérios, porém, bastante atento, afim de “não colocar raposa para cuidar de galinheiro”, como diz a velha máxima popular. Afinal, Blairo Maggi não chegou por acaso onde está e onde ainda poderá chegar na vida pública. Ele sabe que o dinheiro que a Sefaz arrecada é público, o TCE, o MPE e o TJ também... Deu para entender???

Por essas e outras, é que não acredito que o governador precise desse tipo de “auto-afirmação”. Blairo tem demonstrado ser muito maior do que essas coisas todas e, com certeza, mais uma vez, não irá decepcionar a sociedade mato-grossense que o elegeu por dois mandatos consecutivos com ampla maioria dos votos. Deverá sim, escolher a pessoa ideal para ser um verdadeiro guardião do dinheiro público como, aliás, até aqui o próprio governador tem sido. É o que se espera!

* ILSON FERNANDES SANCHES é presidente do IDC – Instituto Mato-grossense de Direito e Cidadania, advogado, professor universitário, PHD em Economia pela Sorbonne - Paris




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