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Nacional
Terça - 11 de Dezembro de 2007 às 19:11

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A solução apresentada hoje pelo prefeito de Itacarambi (MG), José Ferreira de Paula (DEM), para a acomodação das famílias retiradas da comunidade rural de Caraíbas, após o tremor de terra de domingo, inclui a venda para os governos estadual e federal de uma fazenda de cerca de 620 hectares (6,2 milhões de metros quadrados) da qual é um dos proprietários. Ferreira de Paula classificou a eventual compra da propriedade - avaliada por ele em, aproximadamente, R$ 2 milhões - como um "desfecho perfeito" para os desabrigados, que poderiam dar continuidade à vocação de pequenos produtores rurais.

"Seria tirar aquele povo do inferno e trazer para o céu. Só que (para) esse céu, a prefeitura não tem o dinheiro", disse Ferreira de Paula, que reivindicou ajuda financeira dos governos de Minas Gerais e federal. O prefeito de Itacarambi afirmou que a propriedade rural fica a dez quilômetros da cidade e a idéia é criar uma agrovila. Ferreira de Paula disse que o imóvel foi comprado por ele da empresa Andrade Gutierrez para a construção de um criatório de peixes com outros 19 sócios, mas o negócio não deu certo. Segundo o prefeito, atualmente, 12 integrantes fazem parte do quadro societário da fazenda.

"Eu tenho uma parte com a minha filha, é um 'percentualzinho' muito pequeno", disse, sobre a participação dele. "Acho que é 12, 14 hectares." Em relação aos outros donos, observou que são moradores da região. "Tudo pessoal amigo meu", destacou. "Já conversei com todos eles. Todos estão querendo vender. Estão falando em R$ 2 milhões, mas sei que vendem por R$ 1,5 milhão."

Infra-estrutura

Para defender a aquisição da área, o prefeito alegou ainda que, à exceção das terras "medianas" de Caraíbas e das glebas "boas" da comunidade vizinha de Vargem Grande, a maioria dos locais restantes é de "terra ruim". "Essa obra foi comprada da Andrade Gutierrez. Eles gastaram R$ 2 milhões em dinheiro de hoje com a infra-estrutura dela. Então, R$ 1,5 milhão não está pagando a estrutura dela. Tem energia, tem tudo."

Ferreira de Paula, no entanto, afirmou que teme a burocracia de Brasília para a liberação de recursos. O governo de Minas anunciou a disponibilidade de verbas para a construção de novas residências numa área fora de Caraíbas. Caraíbas está mais próxima do centro da falha sísmica localizada na região. "Isso é coisa que tem de andar ligeiro. Daqui a 60 dias, eu tenho de tirar esse povo daí. No lugar que eles estão, funciona uma creche em que estudam 400 crianças."

O coordenador-geral da Secretaria Nacional de Defesa Civil, Sérgio José Bezerra, no entanto, foi categórico ao afirmar que a administração federal somente apoiará uma solução local com base em critérios bem definidos de liberação de dinheiro. Após o tremor de 4,9 graus na escala Richter, que matou uma menina de 5 anos e comprometeu quase todas as 76 residências de Caraíbas, pelo menos 262 moradores foram retirados da comunidade e abrigados, provisoriamente, em creches e escolas da área urbana do município. Hoje, habitantes do povoado ainda recolhiam bens e lamentavam o destino incerto.

Sebastião Rodrigues dos Santos, de 60 anos, mobilizou parentes e assistentes sociais até o local para ser convencido a deixar o pequeno pedaço de terra onde cria as galinhas e possui um pomar. "Caraíbas acabou. Agora, sou obrigado a largar minha roça, largar tudo. Eu sou daqui e não queria ir. Vou porque estão mandando", afirmou, emocionado e com um cachimbo artesanal na boca.

"Mas eu vou com o coração doente. Eu sou daqui e as pessoas têm amor ao lugar", ressaltou Santos, que declarou ter sangue de índio xacriabá. Dos sete filhos dele, cinco morreram. Um dos filhos sobreviventes é João Batista da Mota Silva, de 31 anos, pai da garota Jesiquele Oliveira da Silva, a primeira vítima que morreu num terremoto no Brasil.




Fonte: AE

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