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Cultura
Segunda - 12 de Novembro de 2007 às 18:26

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A origem e o povoamento da comunidade de São Gonçalo Beira Rio, em Cuiabá, remonta ao século XVIII, quando as primeiras expedições de bandeirantes paulistas chegaram no Estado de Mato Grosso. A missão era capturar índios (Bororos), a fim de torná-los escravos.

De localização estratégica, à margem esquerda do rio Cuiabá, o local servia como um ponto de parada obrigatória para os comerciantes e aventureiros de outras regiões do país. O primeiro povoado só veio a se concretizar com a descoberta das minas do Coxipó do Ouro, em meados de 1719, sendo denominado de Arraial de São Gonçalo Beira Rio.

Desses tempos, o traço cultural já era forte na região. Os bailados de cururu e siriri, as festas de santo e a arte oleira davam uma mistura peculiar a essa comunidade. Envoltas em um caldeirão cultural, as mulheres do povoado trouxeram formas e traços aos primeiros potes de cerâmica que com o passar do tempo, deixaram de ser meros instrumentos de uso do lar, para ganharem a roupagem de artesanato para exportação, graças à qualificação profissional desenvolvida na comunidade.

Com a abundância de argila presente nos barrancos localizados à margem das águas caudalosas do rio Cuiabá, os utensílios domésticos passaram a ser produzidos pelos moradores que perceberam na atividade uma fonte de renda. Era comum encontrar na maioria das casas cuiabanas utensílios como vasos, moringas e travessas feitas de barro. Nesses objetos, a grande preocupação era na utilização dos vasos para a conservação de mantimentos, água e outros produtos perecíveis.

Atividade antiga

Mas o gosto pela "olaria utilitária" não surgiu nessa época. A atividade ceramista já era praticada anteriormente à chegada dos europeus em terras tupiniquins. Os registros históricos que comprovam esse fato foram encontrados em escavações realizadas nos sítios arqueológicos na região do Pantanal. Os objetos encontrados nas escavações têm grande influência nas peças produzidas em São Gonçalo.

Entre outras características presentes na fabricação das cerâmicas que foram utilizadas pelas antigas sociedades, as mesmas técnicas de fabricação, como a estética, estilo e acabamento, foram "emprestadas" às cerâmicas da Baixada Cuiabana.

Com o crescente e avançado processo de povoamento das minas de Cuiabá, a região de São Gonçalo ganhou importância regional, pois servia de rota para aqueles que aqui chegavam. As comunidades ribeirinhas transportavam nas canoas produtos como verduras, frutas, farinha de mandioca, carne de porco, galinhas e cerâmicas.

De utilitário a peça decorativa

Nas primeiras décadas do século XX, com a industrialização dos objetos domésticos, o valor utilitário presente nesses utensílios de barro deixou de existir. A partir de então, as peças de barro ganharam outra roupagem, assumindo o status de peça decorativa.

Com os utensílios domésticos não mais fabricados em barro, a cerâmica já nos anos de 1970 passa por um dos piores períodos em termos de produção. As ceramistas foram esquecidas e o incentivo à arte oleira estava incipiente. A partir de 1974 foi criado o Museu de Arte e Cultura Popular (Macap) com o objetivo de buscar e valorizar as artes e a cultura do Estado.

Nesse aspecto, um dos alvos do recém-criado museu foi a valorização da cerâmica produzida em São Gonçalo Beira Rio. No mesmo ano, os fornos à lenha foram reconstruídos, o que possibilitou a realização de exposições com os trabalhos de cerâmica dos moradores da comunidade. Imagens dos santos São Gonçalo, Nossa Senhora Aparecida e São Sebastião, além das moringas, dentre outros trabalhos mereceram grande destaque.

De utilidade à decoração, a cerâmica demonstrou que a dinâmica dos tempos não foi um empecilho para os moradores que vivem da arte oleira. Despojado do utilitarismo, o barro recebeu cuidado técnico e passou a conquistar novos horizontes graças à qualificação profissional das ceramistas que ainda residem no São Gonçalo Beira Rio.





Fonte: TVCA

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