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Politica Brasil
Sexta - 09 de Novembro de 2007 às 15:19
Por: Márcia Xavier

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Parlamentares das bancadas femininas do Senado e da Câmara dos Deputados estiveram, nesta quinta-feira (8), com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Ellen Gracie. Elas foram ao Supremo reforçar a representação que corre no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) contra o juiz Edilson Rumbelsperger Rodrigues, de Sete Lagoas (MG), que negou medidas jurídicas contra homens que agrediram e ameaçaram suas companheiras. A Lei Maria da Penha foi definida pelo juiz como 'diabólica'.

A senadora Serys Slhessarenko (PT-MT), coordenadora da bancada no Senado Federal, defendeu a Lei Maria da Penha no encontro com a ministra. “Viemos mostrar a nossa indignação com a postura do juiz mineiro que disse que a mulher é a desgraça da humanidade. Trouxemos o nosso apoio a todas as representações que já existem no CNJ e queremos que a Lei Maria da Penha não corra nenhum risco'.

Ela disse ainda que 'é uma lei absolutamente constitucional, que já tem uma visibilidade enorme no Brasil e que precisa continuar avançando cada vez mais para acabar com a violência contra a mulher. Todo tipo de violência“, afirmou.

Já a senadora Rosalba Ciarlini (DEM-RN) afirmou não ser possível que no mundo de hoje, com a mulher lutando por igualdades, possam existir ainda pessoas que pensem dessa forma, querendo diminuir e desconsiderar a importância da mulher.

“Não queremos estar à frente dos homens, queremos estar lado a lado, participando com igualdade e não aceitando essa forma discriminatória como foi feito pelo magistrado, que realmente indignou a nação”. Para ela, a lei é justa e foi concebida justamente para corrigir a violência contra a mulher e proporcionar um mundo de paz.

A ministra Ellen Gracie informou às parlamentares que o Plenário do CNJ encaminhou o caso para a corregedoria analisar e tomar as medidas cabíveis. A ministra disse também ter encaminhado um ofício para as bancadas femininas das duas Casas no Congresso Nacional informando a decisão do CNJ.

O juiz Edilson Rumbelsperger Rodrigues tem rejeitado, em Sete Lagoas, Minas Gerais, pedidos de medidas contra homens que agrediram e ameaçaram suas companheiras, baseando-se no argumento de que a Lei Maria da Penha seria inconstitucional. E, para isso, apresenta como justificativas uma interpretação considerada machista.

Decisão inconstitucional

Segundo o juiz, que se apoia nos princípios bíblicos para expor sua posição jurídica, a desgraça da humanidade é de responsabilidade da mulher, que é assemelhada ao próprio demônio em sua esperteza e sagacidade ao se aproveitar 'da ingenuidade, da tolice e da fragilidade emocional do homem'. Os opositores do juiz destacam que basear decisão em crença religiosa fere o princípio da laicidade do Estado.

Em sua decisão, o juiz também admite que a violência do homem como natural, legitimando-a. Ele diz que 'para não se ver eventualmente envolvido nas armadilhas dessa lei absurda, o homem terá de se manter tolo, mole, no sentido de se ver na contingência de ter de ceder facilmente às pressões'.

O juiz parece desconhecer a Constituição Federal que estabelece, em seu artigo 3o, como objetivo: 'promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação'. E, mais à frente, no artigo 5º, que 'todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade'.

Ao alegar inconstitucionalidade da Lei Maria da Penha, o juiz demonstra desconhecimento da Constituição, e sua decisão é que fere os princípios constitucionais.

A Lei Maria da Penha está de acordo com a Carta Magna, quando, em seu artigo 2º confirma que 'toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social'.

A lei é considerada um marco, pois não só torna mais grave a pena para o crime de violência doméstica, como oferece medidas de proteção aos direitos das mulheres e prevenção à violência. Medidas estas que o juiz Edilson Rumbelsperger Rodrigues insiste em negar.





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