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Politica Brasil
Sexta - 21 de Setembro de 2007 às 13:31
Por: Edílson Almeida

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“O “Seo” Fiote já decidiu. Eu saio candidato a governador e Julinho será candidato a senador. Não tem mais conversa”. A frase em meio a uma risada com vários amigos e correligionários foi cunhada pelo então prefeito de Várzea Grande, Jaime Campos, ainda em seu primeiro mandato. Idos de 1988, começo de 89. O quadro da sucessão da dupla Carlos Bezerra/Edison de Freitas-Moisés Feltrin estava indefinido, mas o patriarca da família Campos já tinha a visão clara iria acontecer. Dito e feito. Jaime Campos virou governador e Júlio Campos senador da República.

Júlio Domingos de Campos é signatário da criação da “República de Várzea Grande”, que tem números incontestáveis sobre o controle da política de Mato Grosso. De um “conclave” na qual figuravam Licínio Monteiro, Osvaldo Botelho, mais conhecido como “Nhonhô Tamarineiro”, Ari Leite, os Barros e, na outra ponta, os Baracat, Várzea Grande já produziu políticos em todas as esferas de comando. Só para falar do passado recente, os filhos da cidade sempre ocuparam posições de destaque. A começar pelos próprios filhos de “seo” Fiote, Jaime e Júlio.

A morte de “seo” Fiote é, indubitavelmente, o fechamento de um ciclo de um jeito de fazer política que há muito se foi: o “compadresco”. É difícil compreender a geografia usada no sistema desenvolvido ao longo dos anos na cidade. Por lá, a eleição passa por líderes instalados em seus distritos, como Bonsucesso, Capão Grande, Capela do Piçarrão, Praia Grande, entre outros rio abaixo, e ainda na vizinha Nossa Senhora da Guia. Passa pelo “beco do porrete” e por algumas casas comerciais. “Seo” Fiote era o último bom entendedor dessa arte, passada de pais para filhos, mas que, a maioria, exceção do próprio líder não soube desenvolver muito bem.

O patriarca de família Campos não era um coronel como se poderia imaginar, mas suas palavras sempre tiveram força de definição. Era quase um decreto. Na família, então, nem se fala: ninguém ousava a desobedecê-lo. Qualquer decisão futura tinha necessariamente que passar por ele. O prefeito da cidade que ele administrou em duas ocasiões, entre 1951 e 1953 e depois de 1957 e 1961, na maioria das vezes, tinha sempre o seu aval.

Depois que saiu da vida pública, Fiote se transformou numa espécie de “imortal” político. Virou símbolo, mito e em torno dele se criou vários folclores e até piadas. Sempre se falou, por exemplo, que “Julinho” era o seu preferido. Na carreira, Jaime era o “queridinho” de dona Amália. Coisas que nunca os incomodaram, pelo visto. As intrigas sempre fazem parte da política. O velho Fiote preferia o anonimato, a companhia de dona esposa, às reuniões e discussões políticas em público. Em casa, recebia os seus “compradres” para discutir um assunto ou outro, sempre ligado a política. Raramente era visto, embora mantinha alguns hábitos como o de sair de casa cedo para comprar pão. Entrevista com ele era coisa rara. Sempre foi avesso ao assédio de jornalistas. Um ou outro tinha acesso a ele.

Por isso mesmo, poucos sabem da sua história. Os registros são parcos. Do que se conhece, mais parece um conto. Júlio Domingos era do tempo em que candidato “fechava” seus eleitores confeccionando títulos eleitorais. Ia rio abaixo, de canoa, nas comunidades ribeirinhas, cadastrando seus futuros eleitores. Nem descia para cumprimentá-los. Saldava-os, colocava-os em fila no barranco e, de punho próprio, tirava os “retratos” 3x4. Certa vez contou com orgulho: “Nunca errei uma tchapa”.

Com os filhos “encaminhados”, se transformou no engenheiro político da carreira de Júlio Campos, primeiro; e, depois, de Jaime Campos. Dos 10 filhos, os dois foram os que se destacaram. Conseguiu fazer de ambos prefeitos, governadores e senadores. Dá para se ter uma idéia. Dos irmãos restou ainda a Benedito Paulo de Campos o cargo de prefeito de Jangada – cidade que também vive nas garras do poderia político da “República de Várzea Grande”. Seo Fiote, além de fazer história em Várzea Grande, ajudou a escrever vários capítulos de Mato Grosso.

Mas o ano de 2007 entrou complicado para a família. Perto dos 90 anos, o patriarca já dava demonstração de que o tempo se fazia presente. Em agosto, completou a idade com uma festa na casa da família. Dias depois, teria decretado: Júlio Campos, o filho exilado como conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, voltaria para a vida política. Istoé: se tivesse que encerrar a carreira política que não fosse com uma aposentadoria vitalícia. Júlio seria o candidato a prefeito de Várzea Grande no ano que vem. Muita gente jura de pés juntos que não é verdade. Pelo sim pelo não, o patriarca não saberá se seu último desejo será cumprido ou não.

Com Rubens de Souza, Jonas Jozino e Carlos Eduardo Lemos





Fonte: 24 Horas News

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