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Nacional
Terça - 19 de Junho de 2007 às 23:24

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SÃO PAULO - A mochila virou pó. Do caderno, sobrou apenas cinza. Do estojo de lápis de cor, borracha e caneta, não sobrou nada. Ainda assim, Leandro Ferreira Lima, 10 anos, tinha esperança de encontrar a página 59 do livro de Ciências, usado na Escola Estadual Jorge Andrade. “Era o que eu mais gostava. Tinha umas experiências nessa página... Eu queria aprender”, disse o menino.

Leandro e outras crianças vasculharam, nesta terça-feira, 19, as cinzas do incêndio que, no último domingo, destruiu 35 barracos da favela onde vivem, no Jardim Vista Linda, Capão Redondo, Zona Sul. “A gente perdeu todo o nosso material escolar. Como a gente vai para a escola agora?”, perguntou Leandro.

O garoto é o irmão mais velho de Shayene, 2 anos, que permanece em estado grave no hospital. “Tenho que estudar e ajudar minha família. Acho que vou ser advogado. Só não quero ser jornalista. Ficar perguntando é chato.”

A estimativa dos próprios moradores é que aproximadamente 60 crianças estejam entre os 150 desabrigados do incêndio. Aquelas que têm idade escolar freqüentam os colégios municipais e estaduais que ficam ao redor da favela. “Alguém precisa nos ajudar nisso. A meninada que ficou sem material não quer pisar na escola. Eles ficam com vergonha”, disse a dona de casa Marileide da Silva, 41 anos.

A mãozinha suja de Ana Carolina Ferreira Marques, 9 anos, mostrava que a menina tinha passado a manhã mexendo nas cinzas do incêndio. “Queria muito encontrar o meu caderno com desenho da Copa do Mundo. Acho que ele era caro. Não vou ter outro”, contou. Até quem não gostava muito de ir para a escola está sentindo falta do material. “Eu não sou bom aluno, mas gostava dos meus cadernos e da minha mochila”, confessou Lucas Soares de Souza, 12 anos.

A lista de materiais queimados dói no coração das mães que sabem o quanto vai ser difícil substituí-los. Todas aquelas canetas preferidas, estojos enfeitados e cadernos com capas especiais foram perdidos. “Todo mundo aqui é pobre. Mas a gente fazia um esforço pra criança ir mais contente para aula. Agora, acabou”, comentou a dona de casa, Maria do Carmo Souza.

As secretarias estadual e municipal de Educação afirmaram será realizado um levantamento dos alunos atingidos pelo incêndio de domingo. Os livros didáticos e o kit de material básico (cadernos, lápis, caneta e mochila) serão fornecidos pelas escolas. Leandro vai poder, sim, realizar a experiência da página 59 do seu livro de Ciências.





Fonte: Estadão

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