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Nacional
Sábado - 31 de Março de 2007 às 20:01

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Para o brigadeiro da reserva Mauro Gandra, ex-ministro da Aeronáutica, a greve dos controladores de vôo na sexta-feira tem reflexos mais profundos do que os atrasos provocados em todos os aeroportos do País neste sábado. Gandra acredita que o motim representa uma "crise militar", que não será resolvida tão cedo.

"Quando se quebra a disciplina e a submissão nas Forças Armadas, você perde a autoridade. A própria convivência desses controladores com seus chefes será difícil a partir de agora", afirmou o ex-ministro, em entrevista por telefone.

Gandra defende a desmilitarização dos "militares insubordinados" que participaram da greve de sexta-feira e espera que o "crime" seja apurado pelo Ministério Público Militar e punido.

O militar comentou, ainda, a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está nos Estados Unidos, de suspender na sexta-feira a prisão de 18 controladores de vôo que participaram do motim.

Confira a seguir a entrevista do ex-ministro da Aeronáutica Mauro Gandra:

Que avaliação o senhor faz da greve dos controladores de vôo?

Foi uma atitude absurda desses controladores de Brasília. Além de insubordinação, motim e chantagem houve covardia, porque eles esperaram a viagem do presidente ao exterior para tomar a decisão de provocar essa "crise militar", que foi iniciada por um problema menor, que são as transferências. Militares normalmente são transferidos e isso é normal.

O que deve mudar depois desse movimento dos controladores?

Depois desse acordo com o governo, os controladores devem entrar em um regime normal de trabalho, porque eles estavam em um regime anormal, que provocou esse apagão aéreo. Mas isso não resolve. Porque a própria convivência com os seus chefes será difícil. Quando se quebra a disciplina e a autoridade nas Forças Armadas, você perde a autoridade.

Diante disso, a decisão do presidente de suspender as prisões dos controladores foi equivocada?

O presidente privilegiou a segurança dos passageiros nos aeroportos. O presidente tem um viés de negociação. Provavelmente, um militar não tomaria essa decisão. Mas a decisão do militar, talvez não resolveria o problema. Longe de mim criticar essa ação. O presidente é político e deu uma determinação que foi cumprida, mas a gravidade do fato existiu.

Foi, então, a decisão correta?

Como militar, não posso dizer que foi a decisão certa, porque estaria contrariando tudo o que fiz nos 46 anos que esteve na Aeronáutica. Como cidadão, vejo que é uma decisão paliativa, porque não resolve o problema.

Os grevistas devem ser punidos?

Houve um descumprimento do Estatuto dos Militares e do Código Penal Militar muito grave. As agressões às leis devem ser consideradas. Isso é crime militar e espero que o Ministério Público Militar leve isso adiante.

A desmilitarização pedida pelos controladores pode resolver o problema?

Eu mudei de opinião com relação a isso. Quanto mais cedo eles (grevistas) puderem passar para civis, melhor seria, porque eles não merecem usar a farda que usaram nossos heróis na Itália e os inúmeros militares que morreram na defesa da nossa nação.

Quanto tempo pode levar esse processo?

Isso não é rápido. Estamos falando de US$ 7 bilhões em equipamentos que deverão ser divididos. O País é pobre. Vamos comprar mais 26 radares? Esse processo passa por duas etapas: a primeira é tirar esses militares insubordinados da ativa e passá-los para civis. Outra são os equipamentos, que terão de ser divididos. Uma migração dessa pode levar de cinco a dez anos.





Fonte: Terra

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