Luta de quilombolas para conseguir título de propriedade durou quase 20 anos
Os membros da comunidade vivem na propriedade desde o final do Século 19, na fazenda de mesmo nome, produtora de café, aguardente, banana e mandioca. Eles tiveram uma luta árdua até o reconhecimento.
O primeiro passo da comunidade para ser dona da terra foi a criação, em 1989, da Associação dos Remanescentes da Comunidade do Quilombo de Caçandoca, seguida pelo auto-reconhecimento da situação de quilombolas. Com essa etapa cumprida, foi possível reivindicar a atuação dos órgãos públicos no processo.
Somente em 2000 o Instituto de Terras de São Paulo reconheceu oficialmente a comunidade como remanescente de quilombo, depois de uma pesquisa antropológica, encomendada pela Superintendência Regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária em São Paulo (Incra-SP).
Segundo Antônio dos Santos, 61 anos, um dos líderes da comunidade, a partir da década de 70, a comunidade resistiu a contínuas ameaças de jagunços de grileiros. Na década passada, a ameaça de expulsão passou a ser de grupos imobiliários interessados na terra. Em 1998, a Urbanizadora Continental, uma das empresas que reivindicava a propriedade da terra, chegou a obter esse direito na Justiça em caráter liminar.
“Nos anos setenta, com a jagunçada, a gente padeceu muito. Agora, a gente não teve uma relação tão brava assim com a imobiliária, porque nunca vinha o dono, só representante”, lembra Antônio dos Santos. “Depois eles entraram na Justiça contra a gente, ficou por conta do juiz, mas a gente já não tinha mais esta preocupação pessoal”.
O quadro começou a mudar com a atuação conjunta do Incra-SP, Itesp e Ministério Público do Estado de São Paulo. Em dezembro de 2005, o Caçandoca sediou um encontro nacional de representantes quilombolas, aberto pela ministra da ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir).
Logo após o evento, no dia 7, o Diário Oficial da União publicou o reconhecimento oficial do Caçandoca pelo Incra. Em 26 de setembro do ano passado, por decreto presidencial não-numerado, o governo reconheceu os 210 hectares como de interesse social para fins fundiários e determinou sua desapropriação ao Incra e pediu à Justiça a desapropriação. Em dezembro de 2006, a Justiça Federal de Taubaté julgou procedente a ação do Incra-SP.
“Estamos aguardando o título definitivo, porque veio o título, mas provisório”, explicou Antônio dos Santos. Ele definiu o decreto presidencial como “um alívio, pois a gente tem certeza de que não vamos mais sair”. Segundo a assessoria de imprensa do Incra-SP, a Associação não pode vender a propriedade.
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