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Terça - 02 de Janeiro de 2007 às 19:46

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O sindicalista Chico Mendes concluiu, certa vez, que tinha de ir ao exterior denunciar ao mundo que estavam acabando com a maior floresta tropical do mundo, arrasando com a produção da borracha, da castanha e dos outros produtos extrativistas que, por séculos, haviam sido a base de sustentação dos povos que nela habitavam.

E o mundo conheceu Chico Mendes e as razões plausíveis que ele apresentou para tentar colocar um basta à tamanha irracionalidade contra a natureza, tão prejudicial ao Brasil e à própria humanidade na medida em que sua destruição tem contribuído diretamente para o aumento do efeito estufa e o conseqüente aquecimento da Terra.

A partir de hoje, no entanto, quem passa a conhecer melhor a floresta é a sociedade brasileira, a mesma que em quase nada tem contribuído para salvá-la nas últimas décadas. Esse conhecimento virá com “Amazônia – De Galvez a Chico Mendes”, a minissérie de 55 capítulos que a TV Globo, líder nacional de audiência, começa a exibir depois da novela das oito da noite.

Mesmo tardiamente, a sociedade brasileira, que ainda ver mato como “atraso”, terá a oportunidade de conhecer de perto a honrosa e gloriosa história do Acre, que é uma síntese do que se passou na Amazônia desde o final do século XIX até o final da década de 80 do século passado, quando, sem apoio da sociedade nacional, Chico Mendes foi assassinado por defender a maior, a mais rica e a mais bonita floresta tropical do planeta.

Na maior minissérie feita até aqui pela TV Globo, o Brasil vai tomar conhecimento do bem que os nordestinos que migraram para a Amazônia fizeram ao país e ao mundo durante mais de um século. Os brasileiros vão aprender que a borracha produzida no Acre e nos demais estados da Amazônia Ocidental alavancou a Revolução Industrial, ajudou a construir as grandes cidades do país como Rio de Janeiro e São Paulo e foi fundamental para os países aliados derrubarem o império alemão de Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial.

Da mesma forma, os brasileiros terão a oportunidade de saber que até os carros da Fórmula 1 já dependeram da borracha da maior qualidade produzida no Acre para terem o melhor desempenho nas pistas, como ocorreu com a empresa francesa Michelin, que até bem pouco tempo produzia pneus a partir da “folha fumada” (borracha originária de método mais ecológico de extração) produzida pelos seringueiros de Xapuri, terra natal de Chico Mendes.

Não se sabe ainda se a minissérie da TV Globo, escrita pela novelista acreana Glória Perez, irá abordar o que vem ocorrendo no Acre atualmente, mas a luta e o sonho de Chico Mendes, de usar a floresta de forma absolutamente sustentável, se transformaram até na construção de uma fábrica de preservativos, que começa a produzir este ano camisinhas que serão distribuídas pelo governo brasileiro para as populações mais pobres do planeta, como as da África, se prevenirem contra a propagação da Aids.

Revoluções interna e externa

Mas nem tudo que aconteceu na floresta amazônica em torno da produção de borracha, razão maior de sua preservação até aqui, se deu de forma pacífica e ordeira, como mostra a minissérie ao retratar o derramamento de sangue que se deu no início do século passado durante a Revolução Acreana, levada a cabo pelos nordestinos para expulsarem na bala e na faca os bolivianos que queriam arrendar aquele pedaço de selva para capitalistas norte-americanos, alemães e ingleses. Estes últimos responsáveis pela primeira grande biopirataria realizada no mundo contemporâneo com a retirada de mudas de seringueiros para o plantio em suas colônias do Sudeste asiático.

Unidos pelo ideal de uma “pátria livre”, não compartilhada pelo resto do país, que só a reconheceu depois do Acre vencer a guerra e declarar-se duas vezes independente, seringueiros e seringalistas nem sempre viveram em paz, pois a produção de borracha e de castanha era acompanhada de um relação quase escravocrata, onde os primeiros eram “aprisionados” pelos segundos pelo preço baixo dos produtos e pelo aumento das mercadorias que abasteciam os seringais.

A minissérie de 55 capítulos da TV Globo mostra esses divergentes pontos de vista da vida no seringal e conta a história dos três maiores heróis do Acre: o espanhol Luiz Galvez Rodrigues de Arias (interpretado por José Wilker), o gaúcho Plácido de Castro (Alexandre Borges) e o xapuriense Chico Mendes (Cássio Gabus Mendes). “Sempre quis contar essa história do Brasil para os brasileiros e levantar a discussão sobre o destino da Amazônia”, disse para a Agência TV Press a escritora Glória Perez.

Dirigida por Marcos Schechtman, a minissérie de Glória Perez apresenta um estado marcado pelo contraste entre o luxo e a pobreza no mais glamoroso período que a região Norte do país viveu. Nos próximos meses, a trama exibirá o esplendor da riqueza obtida com a borracha pelos coronéis de barranco no eldorado dos seringais em contraste com a vida sofrida dos seringueiros nordestinos que foram para a região em busca de trabalho e melhores oportunidades de vida.

Glória Perez fala da vida pulsante na Amazônia

O conhecimento do Brasil sobre a Amazônia ainda se restringe a expressões como “a floresta” ou “o pulmão do mundo”. “A vida que pulsa ali dentro, os dramas, os conflitos, as tragédias humanas, permanecem invisíveis – é como não existisse gente ali dentro”, diz a escritora e novelista Glória Perez, em entrevista exclusiva que concedeu à Agência Kaxiana para falar de “Amazônia – De Galvez a Chico Mendes”, a maior minissérie que a TV Globo estréia em 55 capítulos no dia dois de janeiro próximo, sob a direção de Marcos Schechtman.

Na entrevista, feita por perguntas em e-mail enviado à escritora acreana, Glória Perez confessa que deu um grande mergulho em suas raízes amazônicas e diz esperar contar outras histórias que tenham por cenário “a nossa terra”. “Se essa minissérie for o sucesso que esperamos que seja, isso será possível”, sentencia a escritora, ao reconhecer que os escritores brasileiros estão devendo em relação às muitas histórias do povo da maior floresta tropical do mundo.

Glória Perez também coloca o Acre como cenário de uma das páginas mais bonitas da História do Brasil. “A conquista do Acre explica porque a Amazônia não deixou de ser nossa já naquele início do século XX. Certamente, o mapa do Brasil seria diferente, e o da Bolívia também, se o Bolivian Syndicate (consórcio internacional criado pela Bolívia para administrar o Acre) tivesse se estabelecido lá”, diz Glória, entusiasmada com o que reviu em sua terra natal, onde a TV Globo montou duas cidades cenográficas para contar a história do único estado brasileiro que foi país duas vezes. Veja, a seguir, a íntegra da entrevista exclusiva com Glória Perez.

Por que você resolveu escrever a minissérie “Amazônia - De Galvez a Chico Mendes”?

É o meu projeto mais antigo. Sempre quis escrever essa história. Antes de mais nada, porque ela nunca foi contada para todos os brasileiros – nem sequer figura nos livros escolares. E a televisão permite que façamos isso. E porque ela é, sem dúvida nenhuma, uma das páginas mais bonitas da História do Brasil.

Por que o nome não foi “Acre – De Galvez a Chico Mendes”, tendo em vista que a base do enredo se concentra na história do Acre?

Porque a história do Acre é maior do que o Acre: ela ultrapassa os limites de seu território e determina o destino da floresta amazônica. A conquista do Acre explica porque a Amazônia não deixou de ser nossa já naquele início do século XX. Certamente o mapa do Brasil seria diferente, e o da Bolívia também, se o Bolivian Syndicate (consórcio internacional criado pela Bolívia para administrar o Acre) tivesse se estabelecido lá.

O que você espera que a minissérie contribua para o Acre e a Amazônia?

Acho que a grande contribuição será apresentar o Acre ao Brasil. A televisão não tem o poder de mudar a realidade, mas tem o poder de disseminar a informação, de jogar um holofote sobre um assunto, de promover uma discussão nacional a respeito de um tema. Essa é a hora dos movimentos e das instituições entrarem em cena para viabilizar projetos concretos que sejam benéficos para o estado.

O que você viu de mais interessante no Acre durante o período de filmagens da minissérie?

O movimento pela recuperação da memória, que envolve todos os acreanos, impressiona muito. E nisso se inclui a reconstrução da cidade. Nossa equipe voltou impressionada com o Acre, com a politização das pessoas, com a riqueza das nossas manifestações culturais.

Como foi escrever sobre a floresta?

Um mergulho nas raízes. Gostaria muito de ter a oportunidade de contar outras histórias que tenham por cenário a nossa terra. E penso que se essa minissérie for o sucesso que esperamos que seja, isso será possível. O interesse do público pelo nosso universo pode abrir caminho para a divulgação dos escritores acreanos. Não só dos escritores, mas dos artistas em geral. É o que eu desejo que aconteça.

Os escritores brasileiros não estão devendo com tão poucos escritos sobre a região e o povo da maior floresta tropical do mundo?

Eu acho. O problema é que somos pouco conhecidos demais. O que chega ao Brasil é a “floresta”, o “pulmão do mundo”. A vida que pulsa ali dentro, os dramas, os conflitos, as tragédias humanas, permanecem invisíveis - é como se não existisse gente ali dentro. Estou utilizando, na história, dois romances acreanos: Terra Caída, de José Potyguara, e Seringal, de Miguel Ferrante. É uma maneira de divulgar também os nossos escritores

Na tua opinião, não falta mais atenção das autoridades brasileiras para com a Amazônia?

Desde sempre! Ainda somos, de certa forma, “os brasileiros do Acre”, como nos chamavam as autoridades da época de Galvez e Plácido de Castro.





Fonte: Globo.com

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