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Nacional
Sexta - 08 de Dezembro de 2006 às 11:30

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Debaixo da instalação de guarda-chuvas do artista baiano Marepe, na 27.ª Bienal de São Paulo, na tarde desta quinta-feira, o ministro Gilberto Gil parou, dançou e cantou Micróbio do Frevo, de Alan de Oliveira. “Eu só queria que um dia o frevo chegasse a dominar/Em todo o Brasil/O micróbio do frevo é de amargar/quando entra no salão, é que o povo prefere pra dançar/E quando cai na dobradiça não há quem possa parar”.

O frevo é um gênero que comemora seu centenário em 2007, e Gil gravou a música num disco comemorativo a ser lançado em fevereiro. Depois de seu happening, ele comentou o conceito da mostra, após uma rápida visita à exposição, no final da tarde (sintomaticamente chuvosa). “Nada mais significativo numa bienal como essa do que a idéia de micróbio”, disse.

O ministro comentou os apelos que têm recebido para permanecer no Ministério da Cultura a partir de janeiro, para mais quatro anos. “eu tô registrando tudo isso, e reconsiderando uma posição que tava mais fechada antes, de não querer continuar”.

Disse que o presidente Lula, em conversa com ele, na semana passada, fez um único comentário sobre sua gestão: “O ministério da Cultura é leve”, disse Lula. “Para mim, foi suficiente como elogio”, afirmou. “Eu não sou técnico, eu sou poeta. Então, pronto: eu tô no governo como tal”.

Gil também elogiou o senador Antonio Carlos Magalhães, que classifica de “competente”, e não descartou a possibilidade de concorrer à Prefeitura do Rio de Janeiro num momento próximo.

O ministro confirmou que deve receber, no seu Camarote 2222, no Carnaval da Bahia, a apresentadora americana Oprah Winfrey, os músicos Quincy Jones, Santana e a irmã de Michael Jackson, Janet. Diz que vai recebê-los como sempre, sem misturar as condições de ministro (caso ainda esteja no cargo) e cantor.

“Esse arranjo aí está estabilizado, uma coisa não atrapalhou a outra, o artista não atrapalhou o ministro”, afirmou. “Podia ter dado errado. Felizmente não deu. Felizmente eu me dediquei a fazer esse trabalho. Fui suficientemente tranqüilo para entender, o redemoinho causado, a poeira que levantou, não me incomodei de me sujar com essa poeira. Fui suficiente calmo e claro naquilo que estava sendo proposto. A sociedade acabou entendendo."

Ele atribuiu sua maior conquista artística nos últimos quatro anos, o prêmio Grammy pelo disco Eletracústico, à mistura de atividades. “Foi um disco que nasceu dessa simbiose, do meu concerto da ONU, onde procurava processar elementos políticos, sociológicos, no qual Kofi Anan tocou percussão comigo. Foi dali que saiu o conceito, os primeiros elementos formais”.

“As pessoas dizem que eu sou filosofante, ficam fazendo um pouco de chacota com meu estilo, mas acontece que é assim mesmo, a vida é assim, o governo também é assim: tem muito impedimento, tem muita coisa que deve mudar e outra que deve ficar no lugar porque se mudar desarruma demais, de uma forma patológica”.

O que o sr. achou da bienal?

Muito interessante. Ela deve ter, para os especialistas, um pacto muito forte entre... ela parece que quebra um pouco mais, insiste na ruptura com a visão clássica da obra de arte, mesmo a que já vinham ensaiando a pós-modernidade, como a arte-objeto, os manipuláveis, os penetráveis, todos esses conceitos que já vêm se dando nas artes plásticas. Mas aqui a ruptura é mais violenta, porque a incisão do político, do sociológico, do estatístico, são todas muito mais visíveis, mais claras mais profundas. O descompromisso com a estética, quer dizer, a incorporação de outros elementos da ética. A maior crítica é justamente essa: que é uma bienal panfletária. Mas é assim. Crítica por quem? Por quem não gosta, por quem de certa forma resiste ao movimento do mundo.

O sr. acha que (a bienal) incomoda?

Sei lá o que. Tem várias formas de se opor a isso aqui. Mas ao mesmo tempo, tem várias formas de se dar, de encontrar nisso o discurso, o dito, e não o interditol. Não a interdição e sim a dicção. Eu adoro, é bacana. Bom, eu sou suspeito para essas coisas, porque tudo que é experimentalismo, a idéia da desconstrução, da dissolução das fronteiras, dos limites, da contigüidade, do compartilhamento, da penetrabilidade de um conceito pelo outro. Eu sou tropicalista, então não dá para não gostar de uma coisa assim. Além do mais, está muito bem montada. As soluções estéticas, o espaço é generosíssimo. É uma instalação, já muito óbvia, que é o próprio edifício da bienal. Você vê aquela metáfora, aquela transmetaforização que aquela japonesa fez, com as colunas, a coisa viral, a metástase das colunas. É muito estimulante para cabeças jovens, para cabeças frescas.





Fonte: AE

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