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Politica Brasil
Domingo - 26 de Novembro de 2006 às 13:25

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Após dois meses de investigação, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal firmaram a convicção de que a decisão de compra do dossiê contra tucanos partiu de Ricardo Berzoini, então presidente do PT e coordenador-geral da campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O delegado Diógenes Curado, responsável pelo inquérito do dossiegate, apresentará novo relatório parcial sobre as apurações nesta semana. O documento não responsabilizará nem envolverá diretamente Lula. A investigação continua a sustentar que o presidente não teve conhecimento da negociação do PT com o chefe da máfia dos sanguessugas, Luiz Antonio Vedoin, da decisão de compra do dossiê ou da coleta do R$ 1,7 milhão usado na operação.

Não se sabe se estarão relatadas outras evidências obtidas pelos investigadores. Elas dão conta de que o deputado federal Carlos Abicalil (MT) foi o primeiro petista a informar Berzoini da disposição de Vedoin de negociar acusações contra o ex-ministro da Saúde José Serra, hoje governador eleito de São Paulo pelo PSDB.

Abicalil contou ao então presidente do PT que o governador Blairo Maggi (PPS-MT), à época candidato à reeleição, tinha conseguido resultados em sua campanha ao se valer da mesma estratégia --pagar os Vedoin para que fizessem uma denúncia à imprensa contra seu adversário nas eleições, Antero Paes de Barros (PSDB), e a confirmassem judicialmente.

Procurado pela Folha, Maggi destacou o secretário de Comunicação Social de Mato Grosso, José Carlos Dias, para falar em seu nome. Dias negou que o governador tenha negociado com os Vedoin e afirmou que tal versão foi divulgada pelo tucano como tentativa de defesa.

A responsabilização de Berzoini derrubaria de vez os argumentos de que a manobra do dossiegate foi concebida e levada a cabo por "aloprados" à margem ou à revelia do comando nacional da campanha petista. Mas não deverá criar constrangimentos de ordem legal à reeleição de Lula.

O delegado Curado pedirá extensão de prazo para detalhar suas conclusões e averiguar as ramificações --o mesmo cenário com que trabalha o procurador Mario Lúcio Avelar, encarregado de investigar o escândalo dos sanguessugas.

As conclusões da PF e do Ministério Público Federal colidem com a movimentação nos bastidores de Berzoini para a sua recondução ao comando nacional do PT. Deputado federal reeleito, ele vinha declarando que o inquérito seria inconclusivo --e que ele, portanto, poderia retornar ao cargo.

Berzoini foi forçado a se licenciar da presidência do partido no segundo turno para evitar mais prejuízos à campanha de Lula. Foi também afastado da condução da campanha.

Há um mês, o primeiro relatório do delegado Curado apontava Jorge Lorenzetti, ex-analista de risco e mídia da campanha de Lula, como a pessoa que articulara "em âmbito nacional a compra do dossiê". O mesmo documento restringia geograficamente as ambições da estratégia. Dizia que "o dossiê visava alterar o rumo das pesquisas do eleitorado paulista, fazendo uma relação do então candidato Serra com a máfia dos sanguessugas".

Agora, a PF e o Ministério Público concluíram que a negociação do dossiê foi uma decisão da campanha nacional para minar o PSDB como um todo --como subproduto, também seria útil ao então candidato do PT ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante.

Segundo a PF e o Ministério Público, havia interesse de uma ala do PT em enfraquecer o PSDB e prestar um serviço a Lula, naquele momento favorito a ganhar a eleição no primeiro turno. O grupo, que cuida da chamada "inteligência" das campanhas desde 2002 e é capitaneado por Berzoini, se fortaleceria internamente, cacifando-se para futuros projetos eleitorais. O dossiegate, porém, mostrou-se um tiro no pé. Revelado, dinamitou o superfavoritismo de Lula e criou a onda que provocou o segundo turno contra Geraldo Alckmin.

Lula preservado

Se for mantida a conclusão da PF de que Lula não teve participação no caso, sua reeleição não será facilmente questionada. Para o especialista em direito eleitoral Torquato Jardim, ex-ministro do TSE, seria necessário provar a participação de Lula e o eventual benefício eleitoral da compra do dossiê.

Jardim diz que a diferença de votos obtida por Lula em relação a Alckmin no segundo turno foi muito significativa (61% a 39% dos votos válidos). "Ainda que se prove um eventual efeito eleitoral, é preciso saber se ele teve a capacidade de alterar a eleição. Não parece."





Fonte: Folha de S. Paulo

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