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Nacional
Quinta - 23 de Novembro de 2006 às 06:40

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Foram quatro anos de vida sem o aconchego de um lar. Mas hoje, aos cinco anos de idade, Theodora Rafaela Carvalho da Gama ganhou de presente o carinho em dobro de pai. Decisão inédita da Justiça brasileira autorizou que um casal de homossexuais do sexo masculino adotassem uma criança. Depois de um ano de luta, os cabeleireiros Vasco Pedro da Gama, 35, e Júnior De Carvalho, 43, de Catanduva (SP), conseguiram realizar o sonho de serem pais e terem a paternidade de ambos registrada na certidão de nascimento da filha.

"Foi como uma mulher abrir um exame e descobrir que está grávida", traduziu sua felicidade Vasco ao receber, ontem a certidão. Nos registros da menina, uma curiosidade. Diferente das tradicionais certidões de nascimento, a de Theodora não consta especificação de pai e mãe. Apenas há "filha de" e os nomes completos de Júnior e Vasco. "Acho que a juíza foi muito sábia em não especificar pai e mãe", comemorou Vasco.

A união estável de 14 anos do casal foi fator decisivo para a adoção de Theodora. No entanto, em 1998, esbarraram no preconceito ao tentar adotar outra criança. "A Justiça alegou relacionamento anormal", reclamou Vasco. Seis anos depois, em 2004, ele visitou um orfanato e conheceu a atual filha, na época com 3 anos. "Foi amor à primeira vista".

Preconceito Emocionado com a afinidade com a menina, Vasco combinou com o parceiro de cortar o cabelo das crianças da instituição para ele tivesse oportunidade de conhecê-las. "Quando cheguei lá, ela veio na minha direção e me deu um anel", relembrou Júnior. "Aquilo foi um sinal", completou o companheiro.

O casal então decidiu enfrentar mais uma vez a batalha da adoção. Em junho de 2005, a Justiça de Catanduva autorizou Vasco e Júnior a se candidatarem a pais adotivos. "Eram 44 casais na nossa frente", contou Vasco. Em dezembro, a Vara da Infância e da Juventude da cidade determinou que o casal poderia levar uma criança órfã para passar os 12 dias de recesso de fim de ano com eles.

"Me perguntaram se eu tinha preferência. Demos três nomes e, desses, escolheram a Theodora", lembra Júnior.

O prazo de 12 dias foram prorrogados para 30 dias e, em seguida, para 60. Vasco, então, entrou com o pedido de adoção de Theodora. Em março, ele conseguiu. Em maio, Júnior entrou com processo para que a guarda fosse dada a ele também. Dia 1º, a juíza Sueli Juarez Alonso, da Vara de Infância e Juventude de Catanduva aprovou o pedido.

Para menina, um é pai e outro, pai Ju Batizada de Theodora pelos pais adotivos no primeiro dia em que chegou, a menina, segundo os cabeleireiros, não teve dificuldades de se adaptar. "Ela se sentiu na própria casa e sempre atendeu pelo nome que demos", afirmou Júnior, que se nega a dizer o nome da menina registrado pela mãe biológica.

Apaixonada pelos dois, Theodora chama Vasco de pai e Júnior de pai Ju. Ela chegou ao orfanato por abandono e maus-tratos da mãe. "Eu gosto muito deles. Eles são muito legais", disse a pequena, ainda confusa com tantas novidades.

Esse foi o primeiro caso de casal de homossexuais do sexo masculino a conseguir a guarda de criança. Outros três casais de lésbicas - dois no Rio Grande do Sul e um no Rio - também obtiveram adoção. "Esse caso foi mais importante, pois os dois fizeram o pedido juntos. Eles são uma família, que tem todas as condições de abrigar uma criança", defende a desembargadora do Tribunal do Rio Grande do Sul Maria Berenice Dias, responsável pela decisão favorável a casal de lésbicas.

Comemoração e mensagem de apoio A adoção da pequena Theodora foi motivo de comemoração para a comunidade gay. Para a historiadora e militante de direitos humanos da ong Arco-Íris, Heliana Hemetério, não existe relação entre a sexualidade e a criação de uma criança. "Se o homossexualismo pudesse pegar por osmose não existiria gays, pois todos que nascem são filhos de heterossexuais", argumenta.

Para o estilista Carlos Tufvesson, as dificuldade de adoção são desumanas. "No Brasil, temos milhões de crianças abandonadas sem amor e muitos desses casais que querem dar esse amor são impedidos", afirma Tufvesson.

No Orkut (site de relacionamento), mensagens parabenizaram os novos pais. "Parabéns! Que outros casais tomem vocês como exemplo e façam a felicidade de outras crianças. Beijos grandes para vocês três", disse a internauta Mizelene Gonçalves a Vasco. "Oi Vasco. Parabéns por mais essa vitória! Nós estávamos torcendo por você. Te adoramos", escreveu o amigo Silvio Dogão.





Fonte: O Dia

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