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Politica Brasil
Sábado - 04 de Novembro de 2006 às 10:20
Por: Onofre Ribeiro

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Rendeu muito boa discussão, o artigo publicado aqui neste espaço na edição do último dia 2. Entendo que se um tema relativamente distante da opinião pública provoca bastante controvérsias, é porque a sociedade está ligada na questão das liberdades, incluindo a de imprensa.

O governo Lula, reeleito, está deixando se espalhar uma mágoa contra a imprensa a que ele chamou de “a grande mídia”. Uma vez eleito, apesar da oposição dessa mesma mídia, ficou provado que ela não tem o poder de derrotar presidentes. Valem até algumas lembranças para ilustrar o assunto.

A Rede Globo de Televisão tentou em 1982, complicar a eleição de Leonel Brizola ao governo do Rio de Janeiro, através de um complô com o instituto de pesquisas Proconsult. Brizola denunciou o fato na imprensa internacional, ganhou e levou o mandato, apesar do poderio da TV Globo. Na eleição presidencial de 1990, Fernando Collor de Mello era tratado pela imprensa com absoluto desdém e agressividade, porque a maioria dos repórteres eram eleitores de Lula. Collor ganhou.

No mesmo pleito, Lula perdeu a eleição num debate na Rede Globo de Televisão, onde entrou intimidado e saiu derrotado. No dia seguinte, a edição do debate descredenciou-o como candidato e Collor venceu a eleição. Porém, a mesma imprensa não poupou Fernando Collor dois anos depois. Desnudou a crise encastelada no seu tesoureiro, PC Farias e manteve a chama do noticiário acesa até o afastamento do presidente.

Nas eleições de 2002, Lula foi tratado com grande carinho pela imprensa e pôde derramar lágrimas ao falar da sua infância pobre, da sua luta, do fato de não ter podido estudar e do seu projeto de fome zero para o país. Fernando Henrique Cardoso andou entre a cruz e a espada em relação tumultuada com a mídia.

Durante o primeiro mandato do governo Lula se distanciou da imprensa, como ele mesmo admitiu no domingo de sua vitória à reeleição. Ele sabia do risco de afastar-se da imprensa e de não dar informações diretamente. Os políticos antigos sabem que “a versão vale mais do que o fato”. Lula perdeu o ponto de sua ligação histórica com a mídia brasileira. No correr das crises a partir de junho de 2005, ele, o seu governo e o PT erraram muito mais do que acertaram no tratamento das informações.

Mas se a gente voltar um pouquinho no tempo, vai encontrar uma imprensa sofrida e, por vezes aguerrida, durante o regime militar. No mais, entre um afago e outro ao governo por força da sobrevivência, fazia milagres para divulgar. O termo “fonte” foi desse período. Era uma maneira de dar notícias sem precisar citar quem a deu, porque a tirania atingia a todos indistintamente. Sem a imprensa, o regime miliatr duraria anos, ainda.

Nesta semana, depois do episódio do delegado e dos três jornalistas da revista Veja, o presidente já anunciou que deverá regionalizar o tratamento à imprensa brasileira no segundo mandato. Isto, porque ele viu que se a chamada grande imprensa o atacava e ele não sabia, ficou órfão no país inteiro. Ele imagina agora diluir as informações do governo regionalmente. É uma ótima notícia. Afinal, o Brasil que votou nele não foi o Brasil do Sul e do Sudeste. Foi do Brasil inteiro. E cada canto tem a sua mídia, que canta e encanta!

Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM





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