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Polícia Brasil
Sexta - 03 de Novembro de 2006 às 03:41

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Da ficção à realidade. A equipe de filmagem do longa-metragem "Bope - Tropa de Elite" foi assaltada às 5h15 desta qunta-feira ao descer o Morro do Chapéu Mangueira, no Leme, na capital fluminense, e teve nada menos do que 90 armas roubadas: 59 réplicas, feitas de carbono e madeira, e 31 fuzis e pistolas de verdade, adaptadas para somente dar tiros de festim. O ator Wagner Moura faz parte da produção cinematográfica.

De madrugada, tinham sido gravadas no alto da favela cenas de tiroteio com atores que representavam policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM e traficantes. Os assaltantes usavam coletes da Polícia Civil.

A equipe da Zazen Produções Audiovisual tinha deixado o set de filmagem em uma van verde. Quando o veículo descia a ladeira Ary Barroso, foi interceptado por um Ecosport preto com quatro homens armados e vestindo coletes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core).

Três deles embarcaram na van e um assumiu a direção, seguindo no sentido Centro. O quarto criminoso continuava no Ecosport. As três pessoas rendidas - o motorista Leonel Caldeiras de Macedo; o produtor Alexandre de Lima Borges; e o responsável pelas armas, Márcio Bittencourt Marinho - foram deixados no Santo Cristo. Às 6h30, a van foi encontrada em outro ponto do bairro.

"Eu estava lá em cima, às 6h, prestes a descer, quando avisaram que pessoas da equipe tinham sido seqüestradas. Chamamos a PM e descemos meia hora depois", contou o ator Wagner Moura, que representa um PM. No cenário, havia cinco carros alugados, pintados como os veículos da polícia.

A Polícia Civil já tem informações sobre o mandante do crime. Ele é de um outro morro da Zona Sul, mas não teve seu nome revelado.

Filmagens atrapalhadas por violência não são novidade. Em julho, Caco Ciocler e Viviane Pasmanter iam gravar cena da novela "Páginas da Vida", da TV Globo, na Rocinha quando policiais civis chegaram para cumprir mandados de prisão. Traficantes soltaram fogos e a gravação foi suspensa.

Armamento comprado do Exército As armas são da DVC Farjalla Equipamentos e Ação Ltda., contratada pela Zazen. Segundo o Exército, a DVC é tradicional no mercado e tem autorização para transportar o material. As armas foram compradas em leilão do Exército, feito para empresas cinematográficas. "Quando as empresas desejam adquirir as armas, se comprometem em descaracterizá-las. E só recebem autorização para uso depois de as armas passarem por vistoria nossa", explicou o relações-públicas do Comando Militar do Leste, coronel José Barreto.

"Contratamos a DVC e não sei porque não tiveram cuidado com a segurança. Não creio que haja problemas, já que são apenas réplicas e armas cinematográficas", lamentou o produtor executivo do filme, Jams Darcy. "Pedi à DVC os documentos que autorizam a circulação delas", disse a delegada Monique Vidal, que recebeu informações de que algumas das 31 armas poderiam ser facilmente revertidas para voltar a dar tiros com balas de verdade.

Diretor do Núcleo de Estudos Estratégicos da UFF, Ronaldo Leão explicou como é feita a adaptação em uma arma para que dispare apenas balas de festim. "O cano é bloqueado parcialmente. O espaço restante é suficiente apenas para passagem de gases, que causam barulho e fumaça. A adaptação pode ser revertida, fazendo com que a arma volte a dar tiros de verdade. Mas a mira fica ruim e o tiro pode sair pela culatra, machucando quem atira". Para o diretor de segurança da Câmara de Vereadores, Vinícius Cavalcante, o episódio desmoraliza a polícia. "Uma van não pode circular cheia de armas, mesmo réplicas".

"Um perigo", diz oficial da PM Comandante-geral da PM, o coronel Hudson de Aguiar Miranda disse ter sido informado por ofício da Secretaria de Segurança sobre hora e local das gravações. No documento, constam também informações superficiais sobre o roteiro.

"Mas não fomos informados de nenhuma arma. Se soubesse disso, teria providenciado policiamento no local. Essas armas nas mãos de pessoas erradas representam muito perigo. Agora, a produtora vai ter que explicar se tinha autorização para circular com essas armas por aí", afirmou.

As investigações estão sob responsabilidade da 12ª DP (Copacabana) e da Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae). Dois inquéritos foram instaurados: um administrativo, para apurar se a empresa tinha autorização para circular com as armas, e outro criminal, para saber se as armas foram alteradas para disparos de festim, como alegam os produtores, além de investigar os bandidos.

"Estou com equipes na rua para recuperar as armas", disse Monique Vidal, delegada da 12ª DP.

Filmando na madrugada A equipe passou noite de quarta-feira e madrugada desta quinta-feira filmando no Chapéu Mangueira. "Filmamos até as 5h", contou Wagner Moura, o capitão Nascimento, personagem baseado no policial reformado Rodrigo Pimentel, colaborador do roteiro de José Padilha e um dos autores do livro "Elite da Tropa", junto com o capitão da PM e ex-integrante do Bope André Batista e o sociólogo Luiz Eduardo Soares.

O livro somado a entrevistas com policiais deu origem ao filme. Padilha manterá as gravações em favelas. A história de corrupção e tortura retrata Morro do Turano e Ladeira dos Tabajaras, mas Padilha transferiu para o Chapéu e Morro dos Prazeres, onde iria rodar cenas de ONG.





Fonte: O Dia

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