Lulinha paz e amor
Isso tem sentido. Escaldado com o escândalo do mensalão que provou pesada erosão em seu governo, ele quer blindar-se contra futuros desgastes. Em entrevista para a revista RDM que circulará no próximo domingo, o deputado federal reeleito, Carlos Abicalil, disse-me que os governadores de todos os estados serão privilegiados como interlocutores do presidente da República.
Traduzindo: ele não vai manter os governadores distantes como no primeiro governo, quando a prioridade foi toda para o Congresso Nacional, e acabou resultando no pagamento de mensalão para ter apoio político e governabilidade.
Lula insistiu na mesma entrevista que aprendeu muito no primeiro mandato. Ele quis dizer que não colocará mais todos os ovos só na cesta do Congresso Nacional. Na prática, a coisa funcionará da seguinte maneira, a julgar pelos sinais emitidos pelo presidente. Na sua primeira gestão, os governadores não tiveram peso político. Aqueles que tinham domínio da sua bancada no Congresso Nacional e podiam determinar o rumo das votações de interesse do governo, tinham tratamento um pouco melhor.
Mas aqueles que não dominavam o voto dos seus deputados e senadores foram tratados a pão e água. Por sua vez, os parlamentares recebiam tratamento especial na liberação de recursos das emendas parlamentares e na indicação para cargos comissionados, entre outros favores pagos com recursos públicos. Um desses favores foi o mensalão, cujo desgaste nem é bom falar.
Agora, prevenido, o presidente quer falar diretamente com os 16 governadores eleitos em apoio ao PT, e com os 12 eleitos por partidos adversários. Ele quer abrir diálogo nas bases estaduais com um tipo de tratamento objetivo, como destinação de recursos públicos e obras.
Porém, governador será um coisa. Congresso Nacional será outra. Com os parlamentares o relacionamento não está claro ainda, mas já se percebe que, por medo de tantos escândalos como no primeiro mandato, o presidente quer criar um estilo de relacionamento mais seguro.
A novidade é que os governadores deixarão de ser coadjuvantes da política nacional, para ocuparem um espaço nobre. A culpa disso é do próprio Congresso que se deixou levar pelo imediatismo. Nas eleições os governadores acabaram ocupando espaços mais pragmáticos junto à opinião pública, que viu a eleição de parlamentares com o rabo de olho. Pelo andar inicial da carruagem, o presidente parece retomar o velho estilo “Lulinha paz e amor”.
Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM onofreribeiro@terra.com.br
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