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Politica Brasil
Sexta - 27 de Outubro de 2006 às 17:16
Por: Antonio Peres Pacheco

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Em vários fóruns vem sendo travada uma acalorada discussão em torno da capacidade do presidente Lula manter sua popularidade em alta no meio desse furacão de acusações que atinge seus companheiros de governo, de partido e de campanha eleitoral. É, de fato, um fenômeno intrigante, com inúmeras causas e variáveis. O que exige um exercício de reflexão profundo para apreender suas possíveis explicações e chegar a uma compreensão adequada de suas conseqüências.

Estou certo de que uma grande parte desse fenômeno pode ser explicado a partir da extraordinária capacidade do presidente Lula em expor-se ao público. E que essa capacidade é decorrente da total ausência de pudor de Lula em mostrar a todos como é, o que pensa que é e o que deseja ser.

O presidente Lula se expõe publicamente com tal naturalidade que não deixa dúvida à platéia de que tudo o que diz, faz e mostra é sincero e inquestionavelmente verdadeiro. Ainda que, racionalmente, saibamos que há muito de encenação e simulacro na imagem, no comportamento e no discurso do presidente.

Vivemos um período em que a linguagem predominante é a simbólica. As palavras valem não pelo que denominam ou adjetivam, mas pelo que simbolizam. E a televisão, o suporte por excelência da comunicação simbólica – capaz de reunir som, movimento, imagem e cor - tem um papel fundamental no processo de formulação e compreensão da realidade, dos objetos e personagens que a compõe.

O sociólogo, professor e pesquisador da comunicação italiano Giovani Sartori escreveu um livro magistral sobre esse tema: "Homo Videns". No livro, ele nos revela como a televisão tem substituído com imagens a linguagem verbal e como isso altera a capacidade de intelecção e análise da subjetividade inerente às ações, fatos, atos, acontecimentos e cenários.

A televisão é hoje a janela através da qual nós vemos, ouvimos e nos relacionamos como o mundo. É a televisão, essencialmente, que nos mostra a “realidade”. Mas, a realidade que nos chega pela televisão é uma realidade obviamente filtrada, maquiada, iluminada, roteirizada e pré-editada. Portanto, não é, de fato, uma realidade efetivamente verdadeira, íntegra.

Não há dúvida de que Lula domina e usa com mais eficiência, mais competência, essa "janela" para se comunicar com a sociedade brasileira. Ele próprio admite ser fruto da mídia, da imprensa, essencialmente do jornalismo televisivo. Pois, foi o jornalismo televisivo, em cadeia nacional, que ao longo dos últimos 25 anos, para o bem e para o mal, permitiu que ele se mostrasse para maioria do povo brasileiro, inclusive para aquela parcela mais pobre, residente nos rincões mais distantes, excluída social, econômica, cultural e até politicamente.

O Alckmin, por sua vez, ainda não aprendeu a se expor. É travado, duro, burocrático, empostado, frio, impessoal, linear, enfim, unidimensional, sem profundidade alguma na tela.

O eleitor, que antes de tudo é um telespectador da realidade exterior ao seu cotidiano, que lhe chega pela televisão, percebe isso facilmente e se incomoda, manifestando esse incômodo visual/sensorial na forma de antipatia ao tucano, antipatia que o leva a ignorar seus argumentos, por mais lógicos e coerentes que eles sejam.

Quando observamos o palco em que se desenrola a campanha eleitoral de um ângulo eqüidistante, crítico e desapaixonado, podemos ver claramente que, pudico na frente das câmeras, Geraldo Alckmin não passa credibilidade para a grande platéia, os eleitores. Mesmo que sua mensagem contenha elementos e informações verídicas, conclusões lógicas, que seus argumentos sejam coerentes e solidamente amparados em fatos concretos e objetivos, a maioria de quem os ouve não os associa àquela realidade em que Lula se insere, que é a realidade na qual o grosso dos eleitores se reconhece parte.

Alguns aliados de Geraldo Alckmin perceberam isso e reclamaram do trabalho do marqueteiro da campanha tucana. Culpam, no entanto, mais uma vez, a pessoa errada. O marqueteiro, ainda que saiba exatamente o que não funciona na comunicação de Alckmin, não dispôs de instrumentos e nem tempo, para sequer tentar corrigir a abordagem dos programas eleitorais, a forma de se expor e de expressar de seu cliente. Até porque, isso só seria possível se candidato a presidente do PSDB se dispusesse a reconstruir sua psicologia, se reelaborar interna e externamente e assumir posturas e discursos conflitantes com toda a sua trajetória pública e política. Em síntese: tal mudança só ocorreria se o candidato tucano fosse outra pessoa.

Assim, ficou fácil para Lula vencer a guerra da comunicação, mesmo atrapalhado pelos aloprados do PT e perseguido pela maioria dos chamados “grandes veículos” da mídia impressa com ajuda sazonal da Rede Globo.

(*) Antonio Peres Pacheco é jornalista, poeta e escritor.





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