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Politica Brasil
Quarta - 25 de Outubro de 2006 às 15:38

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As moças já não circulam pelas praças em sentido horário à espera de galanteios dos rapazes, mas ainda sobrevivem "causos" como o do prefeito que pegou por engano o carro do vizinho que tinha deixado a chave no contato. Três vezes mais populosa com a chegada das indústrias em meados dos anos 1970, a "Pinda" onde o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, nasceu e foi prefeito já depende menos do café do que à época em que "Geraldinho" ¿também chamado de "Paiau" pelos íntimos¿ apenas sonhava em disputar uma eleição presidencial.

Cidade dominada na maior parte dos seus 301 anos pela elite cafeeira do Vale do Paraíba, a "Princesa do Norte" começou, pouco antes da gestão Alckmin na Prefeitura, a trocar o manto imperial pelo avental das operárias, segundo João Bosco, antecessor e sucessor de "Geraldinho" no cargo.

"O Geraldo não trouxe empresa nenhuma, mas preparou o desenvolvimento depois de atrairmos a Villares, a Confab e a Alcoa no meu mandato", disse ele à Reuters, hoje vice-prefeito pelo PMDB, no seu gabinete.

"Agora já não tem casa de porta aberta, deixou de ser aquele lugar onde todo mundo se conhece. O ciclo do café acabou e a gente está tentando fortalecer é a indústria."

O reflexo disso se vê na praça Monsenhor Marcondes, onde o jovem Alckmin passava tempo com os amigos. Lojas, idosos e o som do alto-falante com música católica já ocupam o espaço que foi de adolescentes e cantorias. Os parquímetros também são novidade, bem como o alerta de precaução com as carteiras.

Sede da Prefeitura onde "Geraldinho" trabalhou de 1977 a 1982, o neoclássico "Palacete 10 de Julho", que já pertenceu ao Barão de Itapeva e será transformado em museu, é um grande símbolo da decadência da elite do café na região.

Fios elétricos à mostra, madeiramento corroído e pintura desbotada, a Prefeitura deixará o prédio no início de 2007 para se hospedar em uma construção envidraçada e moderna, onde o prefeito João Ribeiro (PPS) deve atender os pindamonhangabenses sem os retratos de figuras do Império.

"O Geraldo era parte desse universo de Pinda, mas agora não. Pinda é que faz parte do universo dele", afirmou o prefeito. "As grandezas mudaram, a cidade é outra e ele também. Tanto que acho que não volta mais em definitivo, vai ficar longe."

Além de Alckmin, Pinda teve outros filhos ilustres em 301 anos: o deputado federal eleito e ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE), o sanitarista Emílio Ribas, o triplista João do Pulo e a professora Berta Celeste Homem de Mello, autora da versão de "Parabéns pra Você".

Causos

Apesar do forte crescimento, o hábito interiorano de contar "causos" não foi abandonado na Pinda pós-Geraldo Alckmin. Algumas das histórias que ele conta aos jornalistas são repetidas entre os 150 mil habitantes, muitas vezes em tom jocoso.

Mas o "causo" mais popular ocorreu quando o presidenciável tucano, 52 anos, era apenas uma criança na Fazenda Haras, ainda hoje um bairro rural que acolhe gente atraída pela oportunidade de trabalho nas empresas.

Prefeito na década de 1960, Mané Ribeiro, pai do atual ocupante do cargo, precisava viajar com urgência para São Paulo e pediu emprestado o fusca de um assessor. Saiu com o carro errado e deixou a cidade apavorada com um possível roubo.

Um personagem que já deixou a cidade é o homem conhecido por Zappa, que se dizia sobrinho de Ítalo Zappa, o chamado "embaixador vermelho", responsável pelo restabelecimento de relações diplomáticas do Brasil com países como Cuba, China, Vietnã nos anos 1970.

Dono de uma cantina no centro até poucos anos atrás, Zappa era contador de histórias à la Forrest Gump e arredondava as contas no restaurante. Ao cobrar a mais na conta de clientes, justificava: "É pelo folclore!"

As histórias de Alckmin, cuja maior excentricidade era desfilar no bloco carnavalesco Nero vestido em lençóis e com uma samambaia na cabeça, são mais ligadas à sorte, segundo o amigo Floriano Magalhães, de 54 anos.

"Só com ele tem isso de ser prefeito por 67 votos, atrair as moças tímido daquele jeito, virar governador com a morte do Mário Covas. As coisas sempre se viram para ele nos últimos dias", conta o "Português", companheiro de Alckmin desde a infância e dono de histórias "inconfessáveis" sobre o tucano.

Mais confessável e popular é a história de como o prefeito Alckmin, que preferia iogurte a bebidas alcóolicas, deu fim à oposição que enfrentava do vereador Rogério Magalhães, hoje um arquiteto de 53 anos e irmão de Floriano.

Filiado à Arena, partido de sustentação do regime militar, Rogério discursava contra o prefeito do MDB quando soube que a esposa estava em trabalho de parto. No hospital, viu a recém-nascida Renée nos braços do prefeito-anestesista. Anos depois, a menina se casaria com um sobrinho de Alckmin.

"Desisti da oposição devido à gentileza dele de me abraçar, de ficar emocionado com o parto da minha filha. Como é que eu ia me meter no caminho dele?", disse Magalhães.

No primeiro turno, Alckmin alcançou quase 70% dos votos dos aproximadamente 100 mil eleitores da cidade.

Para Magalhães, a ampla desvantagem do tucano diante do presidente-candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não é irreversível. "Com essa sorte que o Geraldo tem... sei não. Melhor esperar."





Fonte: Reuters

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