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Politica Brasil
Sábado - 30 de Setembro de 2006 às 13:07

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O MidiaNews faz na véspera da eleição uma análise do que foi a campanha em Mato Grosso e no país e o que poderá acontecer após os resultados das urnas neste domingo. A entrevista desta semana é com o diretor de jornalismo do site, Jaime Neto.

Há 20 anos na profissão e experiência na coordenação de campanhas eleitorais, Neto disse que a impressão que ficou nesta campanha em Mato Grosso é que não houve disputa para os cargos majoritários. “Passou a sensação de W.O”, disse. Ele também falou sobre a cobertura da imprensa neste período eleitoral.

MidiaNews: Qual a avaliação da cobertura da imprensa nas eleições em Mato Grosso?

Jaime Neto: A cobertura foi muito mais intensa no período que antecedeu as convenções partidárias do que no período eleitoral em si. Antes da convenção houve muita movimentação nos bastidores da política tanto na base governista -- com as articulações visando à composição de alianças em torno da candidatura à reeleição do governador, como também na oposição que se mexia na busca de um candidato que fosse páreo ao Maggi. A definição do vice de Blairo e o candidato ao governo pelo PSDB agitaram as editorias políticas.

MidiaNews: De alguma forma a ação da Justiça Eleitoral pode ter engessado a cobertura da imprensa?

Jaime Neto: Em toda campanha há uma série de ações na Justiça contra os veículos patrocinada pelos candidatos. Este ano as coligações deram uma atenção especial às assessorias jurídicas que ganharam peso por conta da mini-reforma eleitoral que reduziu os custos de campanha na área de propaganda. No TRE, o entra e sai de advogados foi grande. Contra a imprensa o fato negativo foi a decisão da Justiça de impedir o jornal Folha do Estado de mencionar o nome do senador Antero Paes de Barros em suas edições após todos os veículos locais e também a imprensa nacional ter publicado matérias sobre o suposto envolvimento dele com a máfia dos sanguessugas. A medida foi absurda e depois revogada.

MidiaNews: Então, em sua avaliação, porque no período eleitoral a cobertura foi mais morna?

Jaime Neto: Pela própria morosidade do processo de disputa às vagas majoritárias em Mato Grosso. A impressão que eu tenho ao final da eleição é que não houve disputa. A se confirmar o que apontam todos os institutos de pesquisa, Maggi será eleito no primeiro turno com larga vantagem sobre seus adversários o mesmo acontecendo com o ex-governador Jaime Campos (PFL) para a vaga ao Senado. A impressão é que ambos vão vencer por W.O.

MidiaNews: E por que a candidatura de Maggi se mostrou tão forte?

Jaime Neto: Neste caso a própria atuação da oposição responde a pergunta. O PSDB passou os últimos 4 anos lambendo as feridas da derrota acachapante para o Maggi em 2002. As duas principais lideranças tucanas no estado, o ex-governador Dante de Oliveira, falecido e o senador Antero não encontraram espaço para se firmar como oposição ao projeto de Blairo. Na última hora, lançaram o Antero ao governo sem a menor estrutura. O mesmo aconteceu com o PT da senadora Serys Marli. O partido chegou à eleição rachado com as fraturas expostas da derrota em Cuiabá em 2004 pelo Alexandre César que se tornou desafeto da senadora em razão das dívidas não declaradas da eleição na Capital. Para piorar, tanto Antero como a Serys tiveram seus nomes colocados no meio do escândalo dos sanguessugas. Aguerrida como sempre foi a Serys quase não foi às ruas pedir voto.

MidiaNews: O governador, então, não precisou se esforçar muito?

Jaime Neto: Primeiro é preciso deixar claro que estou fazendo uma análise do processo eleitoral, antes da eleição neste domingo. Pelas pesquisas a vitória do governador será fácil no primeiro turno. Esforço teve, sim. A própria formação da aliança com outros 12 partidos foi um exemplo de esforço no sentido de isolar as oposições. No período eleitoral a equipe do governador também soube criar uma blindagem tanto na área jurídica como no setor de comunicação. O governador, com certeza, bem respaldado por pesquisas, evitou a todo custo entrar em bola dividida e cair no jogo do adversário. Passou ao eleitor uma campanha positiva.

MidiaNews: A se confirmar este cenário com a vitória de Maggi no primeiro turno o que vai restar do PSDB e do PT em Mato Grosso?

Jaime Neto: A se confirmar este cenário, o PSDB de Mato Grosso deverá ser liderado pelo prefeito de Cuiabá, Wilson Santos que passará a ser um nome para a disputa ao governo em 2010. Será preciso saber também como vai sair das urnas o PSDB nacional que está visivelmente rachado. O PT passará por dias difíceis. A Serys sairá muito arranhada deste processo dos sanguessugas. O Abicalil (deputado federal Carlos Abicalil) mesmo se elegendo -- mas pode ser o mais votado e ficar fora por causa do quociente eleitoral --, não me parece um articulador a ponto de se transformar numa liderança dentro do partido. Como a política é dinâmica é preciso dar tempo ao tempo.

MidiaNews: Há poucos dias Maggi disse que se eleito fará um segundo mandato melhor que o primeiro, como você vê essa afirmação?

Jaime Neto: Se eleito, de cara terá que se impor no campo político para não ter dor de cabeça por conta da ampla aliança que montou para disputar a eleição. Já na economia o quadro hoje não é nada bom devido à crise no agronegócio. O lado bom da crise, porém, é que o estado deverá forçar uma guinada no sentido de diversificar as perspectivas de negócios deixando de ficar preso à monocultura da soja. Quem governar o estado deverá pegar este processo em transição. Mais uma vez, acredito que a logística, estradas e ferrovia, será o foco das ações do futuro governo.

MidiaNews: A bancada federal de Mato Grosso vive sua pior crise com a onda de escândalos envolvendo quase todos os parlamentares com a máfia das ambulâncias. Você acredita que a renovação será grande?

Jaime Neto: Pelo que a gente tem conversado com analistas em pesquisas a renovação não será proporcional ao tamanho da crise, infelizmente. É dado como certa a eleição, por exemplo, do Pedro Henry (PP) e Welinton Fagundes (PL) citados no escândalo. Os poucos não citados correm o risco de não se eleger por causa da legenda: Abicalil e Thelma de Oliveira (PSDB). Em todo caso, acho que os políticos mais antigos mesmo se elegendo passarão a figuras coadjuvantes na política de Mato Grosso. Devemos entrar em um período de surgimento de novas lideranças políticas.

MidiaNews: Para encerrar, você acha que o presidente Lula será reeleito no primeiro turno?

Jaime Neto: A margem entre ele e a soma dos adversários, segundo as últimas pesquisas, gira em torno de 5%. É estreita, mas vários especialistas entendem que Lula vence neste domingo por conta da consolidação de seus votos. Essa me parece à peça-chave. Os votos dele se mostram muito cristalizados. Mesmo que não vença agora acho difícil perder a eleição no segundo turno.

MidiaNews: E porque essa onda de denúncias, a mais recente a do caso dossiê envolvendo figuras da intimidade do presidente, não atinge o Lula.

Jaime Neto: Na eleição passada, a classe média fez a diferença a favor do Lula. Com os escândalos, leia-se mensalão, ela, que é crítica, refluiu seu apoio. Mas, o presidente fez um pacto com a população de baixa renda por meio dos programas sociais de seu governo como o Bolsa Família. E aí não há porque trocar o certo pelo duvidoso.

Imagine um nordestino pobre vendo o Geraldo Alckmin todo “arrumadinho” no melhor estilo paulistano. Pra que trocar? A população de baixa renda parece estar pensando e, com convicção, nela mesma.

Denúncias e os escândalos que aconteceram neste governo e que acabaram com a pecha do PT de ser o paladino da moralidade são fatos sérios e graves para a democracia. Porém, para muitos, corrupção sempre existiu neste e nos outros governos. O que está pesando e fazendo a diferença é o bolso.





Fonte: Midia News

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