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Politica Brasil
Sábado - 23 de Setembro de 2006 às 10:28

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Os depoimentos de três envolvidos na negociação do dossiê com informações contra candidatos tucanos prestados entre a manhã de sexta-feira e a madrugada do sábado na Polícia Federal em Brasília foram combinados para dificultar as investigações, afirmou o procurador Mário Lúcio Avelar.

"A sequência de depoimentos foi articulada e tramada para ocultar a verdade dos fatos", disse a jornalistas o procurador, que investiga o caso, ao deixar a Superintendência Regional da PF após ouvir mais de 14 horas de depoimentos.

O procurador e o delegado da Polícia Federal, Diógenes Curado, colheram as versões do diretor licenciado do Banco do Estado de Santa Catarina Jorge Lorenzetti, do ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso e do ex-secretário do Ministério do Trabalho Oswaldo Bargas, sobre seus envolvimentos no episódio.

Todos confirmaram terem participado em algum momento das movimentações que envolveram a tentativa de obtenção de documentos junto ao empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin —dono da empresa Planam— que ligariam os candidatos do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, e à Presidência da República, Geraldo Alckmin, com a Máfia dos Sanguessugas.

Em suas declarações, eles negaram o envolvimento de dinheiro na negociação mas reconheceram a orientação do partido. "Não se falou em momento algum da origem do dinheiro e tampouco se assumiu a responsabilidade pela compra do dossiê", afirmou Mário Lúcio.

"(Segundo os depoimentos) foi uma negociação que não passou por pagamento, por dinheiro para que uma revista publicasse depoimento ou matéria e uma sucessão de papéis com o ofício de promover uma propaganda política", explicou.

GOVERNO PAULISTA

Em seu depoimento, Lorenzetti, que deixou a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após a eclosão do caso, contou que os documentos seriam entregues a um integrante da campanha do candidato petista ao governo paulista, senador Aloizio Mercadante.

A informação foi divulgada por seu advogado Aldo de Campos Costa, que afirmou que o dossiê seria entregue a Hamilton Lacerda, que deixou o comitê de Mercadante na quarta-feira após admitir ter negociado a divulgação do material com a revista IstoÉ.

"Foi dito que os documentos seriam entregues para o senhor Hamilton", afirmou o advogado.

Ele negou, entretanto, ter conhecimento que valores estavam sendo negociados em torno da documentação. Na sexta-feira da semana passada, a PF apreendeu em um hotel em São Paulo 1,161 milhão de reais, além de 248,8 mil dólares, em poder do advogado Gedimar Passos e do empresário Valdebram Padilha.

Segundo a PF, o dinheiro estava sendo usado na aquisição do dossiê contra tucanos.

"Ele (Lorenzetti) ficou chocado quando soube que havia valores com o senhor Gedimar. Ele repudia a negociação de valores", disse seu advogado.

Lorenzetti, que atuava no comitê à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, negou qualquer envolvimento no caso do ex-coordenador da campanha e presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, conforme o advogado.

Segundo a depor à PF na sexta, o ex-diretor de gestão e risco do Banco do Brasil Expedito Veloso confirmou ter analisado documentos do dossiê que incriminariam Abel Pereira, ex-funcionário do Ministério da Saúde na gestão de Barjas Negri, no governo de Fernando Henrique Cardoso.

Segundo afirmou a jornalistas, após depor por cerca de quatro horas a Diógenes e Mário Lúcio, sua participação no episódio da compra do dossiê contra tucanos foi puramente "técnica" e restrita à avaliação de depósitos feitos em contas de pessoas indicadas por Abel com recursos repassados pelo dono da Planam.

"Eu fui cumprir uma função técnica. Tinham depósitos na conta de pessoas indicadas por Abel Pereira", afirmou.

Já Bargas, que teve seu nome envolvido no caso após a revista Época ter divulgado nota na qual afirma que ele teria oferecido o dossiê à publicação, deixou o prédio da PF na madrugada acompanhado de seu advogado Frederico Donati, sem falar com a imprensa.

Segundo uma fonte da PF, ele confirmou ter conhecimento do dossiê mas negou saber da existência da negociação de valores em torno de sua obtenção.

ORIGEM DOS RECURSOS

Mário Lúcio e a PF acreditam que o mistério em torno do caso só poderá ser esclarecido após as investigações esclarecerem a origem dos recursos apreendidos em São Paulo.

Na quinta-feira, a função foi entregue ao delegado Luiz Flávio Zampronha, da Divisão de Combate a Crimes Financeiros da corporação.

Zampronha é o mesmo delegado que investigou o chamado escândalo do mensalão e que não conseguiu explicar a origem dos recursos que seriam utilizados para a corrupção de parlamentares no Congresso.

A finalização da investigação foi feita pelo procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, que denunciou 40 pessoas ao Supremo Tribunal Federal por envolvimento no caso.





Fonte: Reuters

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