Gedimar Passos é colaborador do governo e dá cursos sobre direitos humanos
Só este ano, antes de ser preso, o advogado faturou R$ 11,2 mil. Desse dinheiro, a última parte foi paga em julho pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) do Ministério da Justiça, ou seja, pouco menos de dois meses antes da polícia flagrá-lo envolvido na compra do dossiê. Na ocasião, Gedimar recebeu R$ 4,7 mil referentes ao pagamento de horas aula de um curso por ele ministrado no início do ano em Vitória sobre segurança de autoridades.
No primeiro semestre de 2006, o ex-policial recebeu ainda R$ 3,2 mil referentes ao pagamento de 23 diárias como colaborador eventual da Secretaria de Segurança em Belém e Vitória. Ironicamente outros R$ 3,2 mil foram pagos ao advogado preso até a última terça-feira (19/9) pelas aulas que ministrou sobre proteção aos defensores de direitos humanos. Em depoimento à polícia federal, Gedimar disse que foi contratado por integrante da Executiva Nacional do Partidos dos Trabalhadores para checar a autenticidade do material oferecido pela família Vedoim contra políticos de outros partidos e do próprio PT.
No ano passado, Gedimar prestou serviços não só para a SENASP, como também para a Academia Nacional de Polícia do DF e a Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH), órgão ligado à Presidência da República. Na ocasião, o agente aposentado da PF recebeu 13,9 mil por diárias e cursos de formação policial. Desse valor, R$ 1,5 mil foram repassados pela SEDH em dezembro de 2005, como pagamento de “diárias para participar do curso de capacitação de policiais dos Estados de Pernambuco e Pará, na área de proteção dos defensores de direitos humanos”. Para ver algumas das ordens bancárias de 2005 e 2006, clique aqui.
A Polícia Federal do Mato Grosso resolveu indiciar o advogado por ocultação de provas. No depoimento desta terça-feira Gedimar se negou a dar detalhes da compra de um dossiê que envolveria políticos tucanos com a máfia das ambulâncias. Com a decisão de Gedimar de se calar diante das perguntas do delegado Diógenes Filho, a Polícia Federal desistiu da acareação entre ele e o empresário Valdebran Padilha Silva.
A Justiça Federal do Mato Grosso decidiu pela libertação de Gedimar juntamente com Paulo Roberto Dalcol Trevisan e Valdebran Carlos Padilha da Silva, também envolvidos no caso, por considerar “completamente desnecessária” para o andamento das investigações. Para o o juiz Federal Marcos Alves Tavares, autor da decisão, os depoimentos já eram o bastante e não haveria necessidade de novas diligências.
O corregedor-geral da Justiça Eleitoral, Cesar Rocha, decidiu abrir uma investigação contra os três, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, o presidente do PT, Ricardo Berzoini e o ex-assessor da Presidência Freud Godoy. A investigação tem o objetivo de apurar a suposta participação de cada um no episódio do dossiê Vedoin.
Contribuição para as investigações
As informações divulgadas pelo Contas Aberta a respeito dos recursos públicos repassados ao Sr. Freud Godoy, à empresa SANENG, à ONG Unitrabalho e ao Sr. Gedimar Passos podem contribuir para a elucidação dos fatos, como deseja o Partido dos Trabalhadores, o Presidente da República e a sociedade brasileira.
1 – As diárias pagas ao Sr. Freud Godoy podem permitir a identificação dos locais onde esteve o ex-assessor às vésperas do fato ocorrido.
2 – A empresa do Sr. Valdebran, a SANENG, recebeu recursos da União em datas posteriores ao registro de sua "Inadimplência" no Cadastro Informativo dos Créditos não Quitados (CADIN) junto aos órgãos federais, efetuado pela Procuradoria Geral do Ministério da Fazenda, em 13/01/2004.
3 – A ONG Unitrabalho possuiu vínculos notórios com o Sr. Jorge Lorenzeti, acusado por Freud de ser um dos mandantes da operação. A referida ONG foi uma das entidades melhor contemplada pela União nos últimos anos na modalidade 50 – Transferência a Instituições Privadas sem Fins Lucrativos, ao receber R$ 18,5 milhões, de janeiro de 2003 até o momento. Isso sem contar que o montante foi pago pela execução de serviços prestados pela organização e descritos de forma genérica nos empenhos orçamentários. Além do mais, um dos supostos envolvidos na compra do dossiê é o Sr. Osvaldo Bargas, ex-chefe do gabinete do Ministro do Trabalho e Emprego, Pasta essa responsável pela maior parte dos repasses federais à ONG, incluindo o de R$ 3,4 milhões pago na última quinta-feira, véspera da prisão dos envolvidos.
4 – O Sr. Gedimar Pereira Passos, flagrado com parte do dinheiro que serviria para comprar o dossiê, tem recebido recursos do Ministério da Justiça e até da Presidência da República, ministrando, inclusive, cursos a policiais sobre direitos humanos. Diante da situação do acusado, é no mínimo uma medida de cautela suspender essas atividades que o Sr. Gedimar presta como colaborador eventual e professor ao governo federal.
Assim sendo, o Contas Abertas continuará a informar sobre os eventuais repasses de recursos públicos a pessoas físicas e jurídicas supostamente envolvidas no episódio, por acreditar que essas informações são relevantes para o esclarecimento definitivo dos fatos. O Contas Abertas considera também que é preciso apurar com rapidez a veracidade do conteúdo do dossiê conhecido como “anti-Serra” e investigar a eventual participação dos tucanos no esquema dos sanguessugas.
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