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Internacional
Terça - 19 de Setembro de 2006 às 18:04

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A hierarquia católica italiana e inúmeros dirigentes políticos da península saíram nesta terça-feira em defesa do Papa Bento XVI, alvo de violentos ataques e de ameaças de extremistas islâmicos após suas controvertidas declarações sobre o Islã.

Enquanto a hierarquia da Igreja italiana manifesta sua total solidariedade a Bento XVI, "vítima de atos de intimidação e ameaças inqualificáveis", segundo autoridades religiosas católicas, expoentes do mundo muçulmano na Itália começam a tentar acalmar o clima. "Chegou a hora do diálogo entre as religiões", anunciou nesta terça-feira o imã da mesquita de Roma, Sami Salem.

O religioso muçulmano se reuniu na sede da prefeitura de Roma com o cardeal Paul Poupard, presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso.

Na véspera, o imã Salem havia reconhecido que a situação gerada pelo discurso do Papa era "muito difícil" e que representava "um retrocesso de vários anos".

Também participou da reunião o grande rabino de Roma, Riccardo Segni, e representantes de outras religiões. Trata-se de um momento importante que poderá "abrir uma nova fase de amor e compreensão" entre as religiões, comentou o líder judeu. Para os muçulmanos da Itália, "o caso está encerrado", afirmou Abddullah Raduan, secretário do Centro Cultural Islâmico de Roma, também presente ao encontro. "Não se pode negar as tensões, mas a única alternativa que temos é o diálogo, nós escolhemos o diálogo", declarou. "No Angelus de domingo o Papa disse estar aflito e convidou para um diálogo franco e sincero. Nós acolhemos com satisfação esse pedido por isso não pouparemos esforços para incentivar o diálogo", acrescentou.

"Nós somos espectadores preocupados, mas vemos em ambas as partes uma grande vontade de diálogo", comentou o rabino Di Segni.

Por sua parte o imã Sami Salem pediu "mais respeito pelas religiões" e confirmou a disposição de manter o diálogo com as outras religiões.

Depois de vários dias de críticas e polêmicas do mundo muçulmano contra o discurso do Papa, o presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, manifestou seu "respeito" por Bento XVI, admitindo que suas palavras sobre o Islã e a violência "foram modificadas".

"Nós respeitamos o Papa e todas as pessoas que estão interessadas na paz e justiça", disse Ahmadinejad em entrevista à imprensa na Venezuela.

"O que sinto é que alguns emitem a informação incorreta das personalidades", disse o mandatário, que se expressou através de um tradutor. Nesta segunda-feira, o aiatolá Ali Khamenei, maior líder espiritual do Irã, classificou as declarações do Papa como o "último elo" de uma cruzada americano-sionista.

Por sua vez, o presidente dos EUA, George W. Bush, defendeu publicamente o Papa e chegou a classificar sua atitude como "sincera", depois que ele se desculpou pelos comentários.

Nenhuma manifestação violenta contra as declarações do Papa foi registrada nesta terça-feira.

A classe política italiana também se pronunciou a favor do Papa.

"Podem ou não gostar do discurso do, mas se cada vez que não gostarem o mundo pega fogo, as coisas vão terminar mal", afirmou Piero Fassino, secretário-geral dos Democráticos de Esquerda (DS), maior partido da coalizão governamental de centro-esquerda. O Vaticano iniciou uma ofensiva diplomática para explicar as palavras do Papa no mundo muçulmano e estima que as polêmicas sobre o discurso do Papa na Alemanha se devem a uma "leitura apressada".

Mais do que isso, informou que a versão oficial do discurso do Papa sobre o Islã é "provisória" e o Papa Bento XVI se reserva o direito de "enriquecê-la com notas", segundo o site do Vaticano.

A imprensa italiana deduziu nesta terça-feira que o discurso do Papa será corrigido em breve.

"O Santo Padre se reserva o direito de acrescentar a este texto uma redação enriquecida com notas. Assim sendo, a versão atual deve ser considerada provisória", diz uma nota em italiano abaixo do discurso no site da assessoria de imprensa do Vaticano. "O Vaticano corrige Bento XVI", estampava nesta terça-feira o site do jornal La Stampa, para quem o texto sofrerá mesmo correção, o que seria uma iniciativa "sem precedente".

"Para conter as conseqüências do discurso anti-maometano pronunciado por Bento XVI, a Cúria se distancia dos procedimentos habituais", acrescenta La Stampa, constatando que a Rádio-Vaticano evitou cuidadosamente reproduzir a polêmica citação retomada por Bento XVI em 12 de setembro.

Todos os vaticanistas destacaram que Bento XVI preparou seu discurso sozinho e que a Santa Sé teve muitas dificuldades para comentar e explicar as frases de Bento XVI.

A crise com o islamismo chega num momento difícil para o Vaticano, que acaba de fazer mudanças na Secretaria de Estado, Ministério das Relações Exteriores e Assessoria de Imprensa.





Fonte: AFP

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