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Meio Ambiente
Terça - 19 de Setembro de 2006 às 11:28

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Os cientistas recorreram à obra de William Shakespeare para batizar com o nome de "efeito Macbeth" a tendência que, segundo um novo estudo, faz com que as pessoas lavem as mãos quando se sentem culpadas.

Isso já era sabido desde os tempos de Pôncio Pilatos, o procurador romano que lavou as mãos no histórico gesto com o qual quis distanciar-se da decisão tomada pela multidão, que escolheu salvar Barrabás em vez de Jesus.

Mas foi necessário que se passassem 21 séculos para que este gesto intuitivo - o de lavar as mãos após ter cometido alguma baixeza - fosse reconhecido pela ciência.

De acordo com o estudo, publicado na semana passada na revista "Science", os seres humanos têm um grande desejo de se lavar, literalmente, após ter agido contra seus ideais, como se a água contribuísse de alguma maneira para lavar essa parte do cérebro onde se aloja a consciência.

"A associação entre a pureza moral e a física foi algo disseminado por tanto tempo que é surpreendente que ninguém ainda a tivesse provado empiricamente", disse Chen-Bo Zhong, pesquisador da Universidade de Toronto e co-autor do estudo.

Zhong deu o nome de "efeito Macbeth" a esta necessidade de lavar as mãos, em homenagem à famosa tragédia do dramaturgo inglês na qual Lady Macbeth manipula seu marido para que assassine brutalmente o rei da Escócia, e tem a ilusão de que, em suas próprias palavras, "um pouco de água limpará esta ação".

A atitude, como era de se esperar, de pouco adianta. "Fora, maldita mancha, fora!" grita Lady Macbeth em uma das partes mais famosas da tragédia quando, sonâmbula, vê manchas de sangue em suas mãos que não consegue lavar.

Faz tempo que os psicólogos sabem que quando as pessoas agem contra sua ética, sentem a necessidade de compensar. Mas o que não havia sido provado empiricamente até agora é que esta necessidade de compensar se traduz em algo tão físico como lavar as mãos.

Em uma das experiências com os estudantes da Universidade Northwestern, em Illinois, os pesquisadores dividiram suas "cobaias" em dois grupos.

Foi pedido às pessoas de um dos grupos que lembrassem de uma ação pouco ética que já tivessem cometido, enquanto as pessoas do segundo grupo tiveram que fazer uma ação ética, como devolver uma bolsa perdida.

Posteriormente, os estudantes puderam escolher entre dois pequenos objetos: uma lapiseira ou uma toalhinha úmida.

O dobro de pessoas do grupo que tinha se encarregado de lembrar de alguma ação da qual se arrependiam escolheu a toalhinha com anti-séptico.

Em outra experiência, os pesquisadores chegaram à conclusão que os membros do grupo dos "pecadores" dava muito mais valor a produtos de limpeza que os do outro.

Embora não seja possível perguntar a Shakespeare sobre o conteúdo metafórico de sua obra, o ator Liev Schreiber, que encenou Macbeth recentemente no teatro do Central Park, em Nova York, disse ao "The New York Times" que o peso moral do assassinato na obra foi "esgotante".

Devido a esta pressão, afirmou Schreiber, os atores da peça fizeram fila para lavar-se no próprio teatro, sem esperar que chegassem em casa, como de hábito.

Na tragédia shakesperiana, a água não é suficiente para lavar o peso na consciência após o assassinato do rei.

Mas Zhong ressalta que, na vida real, as falhas morais costumam ser bem menos graves. Pequenos pecados, que caem no esquecimento após passar pela água.





Fonte: EFE

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