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Cultura
Segunda - 18 de Setembro de 2006 às 15:53
Por: Neusa Baptista

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Realizar um estudo semiótico de dois contos da obra “Primeiras Histórias”, do contista, novelista, romancista e diplomata Guimarães Rosa, é o objetivo da oficina “Guimarães Rosa: marcas da identidade latino-americana”, que teve início na manhã desta segunda-feira (18) na Literamérica. Complexa, sofisticada e criativa, a obra do autor do clássico “Grande Sertão: Veredas” já foi tema de inúmeros estudos, pesquisas e debates no Brasil e pelo mundo, sendo objeto, inclusive, de um seminário internacional.

A pluralidade cultural da América Latina – que se revela em sua complexidade econômica, educacional, política – transparece na obra de Guimarães Rosa, segundo a estudiosa Ceres de Moraes Lima, que ministra a oficina até sexta-feira (22). Com a participação de professores e alunos do curso de Letras, a oficina atraiu principalmente amantes da obra do aclamado escritor. “Em ‘Primeiras Histórias’ ele traz de volta histórias do passado, da carochinha, causos”, observa ela. Ao todo, o livro traz 21 histórias, mas, na oficina estão sendo estudados os contos “Ás margens da alegria”, primeiro conto do livro, e “Os cimos”, último conto.

O primeiro narra a história de um menino que, devido à doença da mãe, sai da cidade para uma fazenda, onde conhece de perto a natureza. Nesse local, conhece pela primeira vez um peru, ao qual se afeiçoa e que pouco tempo depois é sacrificado para a ceia do Natal. “Se soubesse que o peru seria morto, teria olhado mais para ele”, pensa o menino.

No segundo conto, vemos um menino desconfiado por estar sendo muito adulado pelos adultos. A mudança de tratamento é interpretada por ele como sinal de uma tragédia, talvez a morte da mãe. “Se soubesse que minha mãe ficaria doente, teria ficado mais tempo perto dela.” Para a professora Ceres, na verdade trata-se do mesmo menino, e enquanto o primeiro conto abre o livro, o segundo dá o desfecho da história.

Linguagem

Linguagem utilizada por Guimarães Rosa, com sua riqueza de invenção e seus neologismos, é um sinal de sua coragem e ousadia, segundo a pesquisadora. Ela aponta que naquela época, há cerca de 60 anos, expressões como “O homem onçou” (isto é, se transformou em onça), sofriam um preconceito feroz, principalmente da elite, que era maioria do público leitor. “Mas o homem só consegue avançar quando ousa”, diz ela.

Alegria/tristeza, prazer/desprazer, morte/vida. O bom e o mau da vida permeiam a obra do escritor, cujos textos falam da essência da própria vida. Para a professora Ceres, nos contos “Às margens da alegria” e “Os cimos”, a criança representa o ser humano, que chora quando sofre uma perda, primeiro porque perdeu e segundo por não ter dado valor ao ente ou objeto perdido. O tempo, que representa um papel importante nos contos do autor, também transmite uma mensagem. “O tempo não pára, a vida não pára. Precisamos seguir sempre em frente, deixar o passado para trás. Essa é uma das mensagens dos textos”, observou a professora. “A obra de Guimarães Rosa é um mundo.”





Fonte: Da Assessoria

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